Ideário arminiano. Abordagens sobre a teologia clássica de Jacó Armínio: suas similaridades, vertentes, ambivalências e divergências.

sábado, 24 de janeiro de 2009

Ponderações a respeito do livre arbítrio.

A idéia do livre-arbítrio defendida pela teologia arminiana está em perfeita sintonia com as Escrituras. Logo no início da narrativa bíblica, vemos em Adão, o homem desafiado a praticar a sua liberdade de escolha, sendo essa escolha, uma escolha avaliada. Deus deu ao homem sua diretriz, mas permitiu que o homem não a seguisse. Em toda a trajetória do povo israelita, podemos observar o povo sendo colocado diante da responsabilidade da escolha, como os textos citados:
“Os céus e a terra tomo hoje por testemunhas contra vós, de que te tenho proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe pois a vida, para que vivas, tu e a tua descendência,Amando ao SENHOR teu Deus, dando ouvidos à sua voz, e achegando-te a ele; pois ele é a tua vida, e o prolongamento dos teus dias; para que fiques na terra que o SENHOR jurou a teus pais, a Abraão, a Isaque, e a Jacó, que lhes havia de dar”.(Dt.30. 19, 20).Como vemos também em Js .24.15: - “Porém, se vos parece mal aos vossos olhos servir ao SENHOR, escolhei hoje a quem sirvais; se aos deuses a quem serviram vossos pais, que estavam além do rio, ou aos deuses dos amorreus, em cuja terra habitais; porém eu e a minha casa serviremos ao SENHOR”. OU "...se não prepuserdes no vosso coração dar honra ao meu nome(...)enviarei sobre vós a maldição e amaldiçoarei as vossas bênçãos"(Ml.2.2). Observe que a sentença acima, começa com um conectivo condicional (“se”). Podemos ler também Ez.18.23, 32 e Ez. 33.11 na qual eu transcrevo: - "Dize-lhes: Vivo eu, diz o Senhor DEUS, que não tenho prazer na morte do ímpio, mas em que o ímpio se converta do seu caminho, e viva. Convertei-vos, convertei-vos dos vossos maus caminhos; pois, por que razão morrereis, ó casa de Israel?"
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Vamos também ao Novo: "E o Pai, que me enviou, ele mesmo testificou de mim. Vós nunca ouvistes a sua voz, nem vistes o seu parecerE a sua palavra não permanece em vós, porque naquele que ele enviou não credes vós.Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam;E não quereis vir a mim para terdes vida."(Mt.37-40) – Mais uma vez, podemos perceber uma ação condicional, em outras palavras se quisésseis vir a mim, teríeis vida. Reflita também na lógica textual de IIPedro.2 Podemos perceber escolha pessoal, e reprovação de Deus, justamente porque houve uma escolha real. Vejamos alguns trechos: 1_ "E também houve entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá também falsos doutores, que introduzirão encobertamente heresias de perdição, e negarão o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina perdição. (...)20Porquanto se, depois de terem escapado das corrupções do mundo, pelo conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, forem outra vez envolvidos nelas e vencidos, tornou-se-lhes o último estado pior do que o primeiro.21Porque melhor lhes fora não conhecerem o caminho da justiça, do que, conhecendo-o, desviarem-se do santo mandamento que lhes fora dado;22 Deste modo sobreveio-lhes o que por um verdadeiro provérbio se diz: O cão voltou ao seu próprio vômito, e a porca lavada ao espojadouro de lama."
Mt23.37, nos mostra mais uma vez a ação do livre-arbítrio humano: "Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas os que te são enviados! quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e tu não quiseste!" Outro exemplo bem claro de que existe uma condição para sermos salvos: O Senhor está convosco, enquanto vós estás com Ele: se o buscardes Ele se deixará achar; porém se o deixardes Ele vos deixará",(2Cr.15.2b).
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Em qualquer definição clássica arminiana o livre arbítrio, é definido como: Capacidade de exercer juízos. Quanto a problemática por muitos levantada por alguns partidários do calvinismo, que o homem é responsável pelas escolhas feitas, mas não tem capacidade de se desvencilhar de sua tendência depravada – o sistema arminiano tem uma resposta plausível.Em primeiro lugar, alguém só pode ser responsabilizado por escolhas feitas, se, efetivamente pôde escolher. O que entra em questão, é que Deus disponibiliza os meios da graça, que é estendida a todos os homens. Os que permanecem no erro são aqueles que resistem ao Espírito. Quando Josué afirma que o povo não pode servir ao Senhor porque é Deus Santo, com essa afirmação ele indicava que o povo só poderia servi-lo se santificando também, ou seja, não podiam continuar na atual condição e ao mesmo tempo servir ao Senhor. Observemos o que ocorreu depois: Serviu, pois, Israel ao SENHOR todos os dias de Josué, e todos os dias dos anciãos que ainda sobreviveram muito tempo depois de Josué, e que sabiam todas as obras que o SENHOR tinha feito a Israel.Deus provê os meios que possibilitam a santificação, o livre arbítrio se dá apenas no, acatar ou não os meios que Deus oferece. Ou seja, Deus oferece-nos a capacidade para servi-lo, mas muitos resistem, e por isso, serão rejeitados.”Porque o coração deste povo está endurecido, de mal grado ouviram com os seus ouvidos e fecharam os olhos; para não suceder que vejam com os olhos, e ouçam com os ouvidos, entendam com o coração se convertam e sejam por mim curados.”(Mt.13.15)
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James Arminio recorria a Agostinho quando este afirmava, que o livre arbítrio do homem é afetado pela sua sensualidade, que o homem sendo escravo de sua concupiscência usara sempre o seu livre arbítrio de forma viciada. A graça de Deus possibilita na pessoa de Cristo e por intermédio de Seu Espírito, que o homem conheça o seu vício e o rejeite, mas, apesar de convencer do erro, não obriga o homem a fazê-lo, este terá de usar o seu livre arbítrio. A própria Escritura afirma que Deus retribuirá a cada um segundo as suas obras.Se for Deus que irresistivelmente convence e determina a sua salvação, que sentido teria o galardão dado a aquele que vencer – se foi ele mesmo que, indiferente às escolhas do homem, o predestinou para a salvação? A mesma idéia dá-se para a punição. Se for Deus que absolutamente rejeitou o homem, que sentido faria o julgamento, já que foi ele mesmo que impediu que o homem seguisse outro caminho? É isso que assevera a dupla eleição.Quando Jesus declara que as sua Palavras não permaneciam nos Judeus, ele complementa que isso acontecia porque eles não criam em Deus, ou seja, preferiam se apegar as suas próprias idéias. Tanto que os direciona as Escrituras, mas: E não quereis vir a mim para terdes vida. Vejamos, Jesus afirma que eles não querem a Cristo, nisto está explícito e livre arbítrio, não existindo o livre arbítrio a afirmação seria diferente, possivelmente nesses termos: a minha palavra não permanece em vocês porque eu impedi, ou, porque vocês não foram eleitos. Muitas vezes é aproximado impropriamente o fato da morte de Lázaro, morte física, com a alegoria da morte espiritual, coisa essa indevida. Sendo usada a história de Lázaro, e de sua morte física como figura para morte espiritual, nos depararemos com uma nova morte física de Lázaro, coisa incompatível para os calvinistas. Jesus no fato de Lázaro quis mostrar o seu poderes diante da morte, não podem estender esse fato a uma outra idéia.
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A Bíblia diz que Deus encerrou a todos na desobediência para usar de misericórdia para com todos(Rm.11.32), todos são mortos em seus delitos, isso não significa que perdemos a nossa razão. A humanidade está morta porque não consegue agradar a Deus, morta em seus delitos e pecados, não significa que não conseguimos raciocinar. O apóstolo Paulo fala de alguns que tendo rejeitado a boa consciência vieram a naufragar na fé. Ou seja, usaram mal o seu livre arbítrio. Fazer escolhas é ter livre arbítrio, agora, para se fazer escolhas corretas, é preciso acatar o convencimento do Espírito, não resistindo a ele, como fizeram os que naufragaram na fé. Essa possibilidade é tão real que os apostos diariamente exortavam aos crentes para que os tais se cuidassem para não caírem e se desviarem da fé. ”examinai-vos a vós mesmos se ainda estais na fé,; provai-vos a vós mesmos”.(2Co.13.5a)É afirmado que o livre arbítrio é apenas pressuposto, mas pense comigo, para que Deus, através dos profetas e das Escrituras chama o homem ao arrependimento, se o livre arbítrio não é real? Se fosse diferente, que utilidade teria as ameaças, ou o julgamento, se as escolhas do homem não são reais? Diz o Eclesiastes: Deus fez o homem bom, mas ele se meteu em muitas astúcias”(Ec.7.29). Quando o homem se rebela contra a condição natural dada por Deus, que o fez bom, acaso não usou ele o seu livre arbítrio, para se rebelar contra Deus e seguir a sua vontade? Reafirmo, junto com Aquino, que nossas escolhas indicam o nosso livre arbítrio. (1)"Ora, discernir ou julgar é ato da virtude cognitiva. Logo, o livre arbítrio é potência cognitiva”. Mesmo sendo influenciado, o homem pode residir a uma influência e ceder a outra. Pode reter a sensualidade se submetendo ao Espírito, ou pode resistir ao Espírito se submetendo a carne.
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O filósofo Immanuel Kant afirma quanto às possibilidades, que “dever é poder“, ou seja, se devo fazer alguma coisa é porque existe um meio que disponibiliza essa potencialidade. Quando Deus exige que escolhemos virtuosamente, é porque ele oferece o meio a todos. Todos são indesculpáveis por que Deus ofereceu as possibilidades de agirem diferentemente.Quando é afirmado que: se creres verás a glória de Deus, é porque de alguma forma em Cristo, na pessoa do Espírito Santo poderemos crer, basta-nos pedir – “aumenta a minha fé”.Quando citamos as asseverações das Escrituras que afirmam: “terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia”, não podemos isolá-las de seu contexto. Essa resposta, usada por Paulo como ilustração, foi dada a Moisés, quando este intercedia pelo povo Israelita. A resposta e o sentido usado por Paulo é o seguinte: É Deus que conhece a motivação dos homens e não Moises – por isso Deus respondeu dessa forma a ele que intercedia obstinadamente a um povo duro de coração – esse é o texto que o apóstolo Paulo evocou nas escrituras – não pode ser usado fora do contexto.
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Lailson Castanha
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(1)São Tomás de Aquino. Suma Teológica. Tradução: Alexandre Correia. Edição eletrônica Permanência.
http://sumateologica.permanencia.org.br/

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Como Jacobus Arminius acredito que: "As Escrituras são a regra de toda a verdade divina, de si, em si, e por si mesmas.[...] Nenhum escrito composto por Homens, seja um, alguns ou muitos indivìduos à exceção das Sagradas Escrituras[...] está isento de um exame a ser instituído pelas Escrituras. É tirania, papismo, controlar a mente dos homens com escritos humanos e impedir que sejam legitimamente examinados, seja qual for o pretexto adotado para a tal conduta tirânica." (Jacobus Arminius) - Contato: lailsoncastanha@yahoo.com.br

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