Ideário arminiano. Abordagens sobre a teologia clássica de Jacó Armínio: suas similaridades, vertentes, ambivalências e divergências.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Exortação à vivência dos princípios auxiliadores para a confirmação da salvação, na carta aos Hebreus

Exortação à vivência dos princípios auxiliadores para a confirmação da salvação, na carta aos Hebreus

O livro de Hebreus é um dos livros intrigantes das Escrituras. É um livro que nos tira de nossa quietude intelectual, do conforto da fé irrefletida e nos leva ao campo inquietante da reflexão. Por exemplo, em um de seus trechos mais conhecido, em sua definição de fé, o leitor é tirado do conforto das fáceis definições e é colocado diante do desafio da reflexão: a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem (Hb 11.1). Podemos perguntar: como é possível um firme fundamento baseado na esperança, e, como é possível ser prova de coisas que não se vêem? - Se não se vêem como prová-las? Porém, esse rico livro , não apenas nos tira do conforto da fácil leitura, elimina o conforto da fé passiva, acomodada, impossibilitando o leitor, de se apegar, ou a continuar se apegando a ideia da graça barata.

Depois de explanar sobre o ministério de Jesus, de anunciador da Palavra de Deus e de sua grandeza , da firmeza e rigor que palavra anunciada imprime sobre os seus transgressores - o autor coloca o leitor diante de uma inquietante e exortativa indagação: Como escaparemos nós, se não atentarmos para uma tão grande salvação, a qual, começando a ser anunciada pelo Senhor, foi-nos depois confirmada pelos que a ouviram? (Hb 2.3). Continuando sua exortação o escritor da epístola, relembra aos destinatários, os ricos meios usados por Deus para confirmar e testificar a salvação. Narra o privilegio vivenciado pela igreja que teve Cristo como anunciador das Boas Novas, e, além de anunciador, um sofredor – que fez de seu sofrimento, o meio para livrar o homem da escravidão do pecado. Após a exposição de tantos detalhes, o escritor, apresenta outra exortação - considerai a Jesus Cristo, apóstolo e sumo sacerdote da nossa confissão (Hb 3.1) - “o qual é fiel ao que o constituiu” (Hb 3.2). Essa admoestação coloca o leitor diante de um imperativo: considerai a Jesus Cristo. Pode-se afirmar que qualquer crente tanto os que apóstolo pretendeu enviar a carta, como os leitores posteriores,  que se depararam com essa asseveração foram levados a atentarem ao exemplo de fidelidade de Cristo, que só manterá como sua casa “se tão somente conservarem firme a confiança e a glória da esperança até ao fim”. (Hb 3.6). Perceba que aqui entra um condicional se”, ou seja, só serão considerados casa de Cristo se conservarem-se firmes, confiante e esperançosos, e, até o fim. 

Apesar de as exortações se tornarem duras, elas não se encerram nessa frase, pelo contrário, o escritor se preocupa em prolongá-la:

Portanto, como diz o Espírito Santo: Se ouvirdes hoje a sua voz,
Não endureçais os vossos corações, como na provocação, no dia da tentação no deserto. (Hb 3.7-8)

Depois de relembrar os erros dos judeus de outrora, que tentaram a Deus com a dureza de seus corações. Citando os Salmos 95.7, o escritor reforça a advertência:

Vede, irmãos, que nunca haja em qualquer de vós um coração mau e infiel, para se apartar do Deus vivo.
Antes, exortai-vos uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama Hoje, para que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado;
Porque nos tornamos participantes de Cristo, se retivermos firmemente o princípio da nossa confiança até ao fim. (Hb 3.12-14)

Nesse momento, a preocupação da epístola, é alertar para o perigo de os crentes, a semelhança dos antigos, se endurecerem pelo engano do pecado, perdendo a firmeza e o princípio da confiança que adquiriram. Podemos notar intensidade da preocupação que vivencia o escritor sobre a real possibilidade da perda da salvação dos crentes que receberão sua carta, na repetição de sua exortação:

Enquanto se diz: Hoje, se ouvirdes a sua voz, Não endureçais os vossos corações, como na provocação. (Hb 3.15) – e continua sua reflexão exortativa com a seguinte argumentação: E vemos que não puderam entrar por causa da sua incredulidade. (Hb 3.19)

E não para:

Temamos, pois, que, porventura, deixada a promessa de entrar no seu repouso, pareça que algum de vós fica para trás. (Hb 4.1)

Mantendo a sua linha argumentativa, afirma:

Cheguemos, pois, com confiança ao trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno. (Hb 4.16)

A ênfase em destaque – chegar com confiança ao trono da Graça -, depois de tantas exortações, não deveria ser diferente, pois, segundo o próprio escritor, nos tornamos participantes de Cristo, se retivermos firmemente o princípio da nossa confiança. Pode-se afirmar, que chegar com confiança é um dos fatores que possibilitam o crente a alcançar misericórdia e achar graça para ser ajudado em tempo oportuno; relembrando que – os crentes só se mantém como casa de Cristo “se tão somente” conservarem “firme a confiança e a glória da esperança até ao fim”. (Hb 3.6)

É tão fundamental, para os que almejam a confirmação da salvação, se fixarem na fidelidade, na confiança - na manutenção do apego a promessa e da fé, que escritor faz questão de revelar que o abandono desses exercícios espirituais impossibilitará outra renovação para arrependimento. (Hb 6.4-6) Em outro momento afirma: Mas o justo viverá pela fé; E, se ele recuar, a minha alma não tem prazer nele. (Hb 10.38) E não é a toa que essa carta faz um elogio a fé e aos Heróis da fé, que, embora viveram distantes da promessa, não abriram mão de sua fé. Também, não é sem propósito que na epístola, esses exercícios espirituais são exaltados, pois, se a carta enfatiza o apego a promessa, a esperança, a fidelidade e a confiança como condições para tornar os crentes participantes de Cristo, falar da fé é fundamental, pois:

“a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem”. (Hb 11.1).

A fé é o fundamento da Esperança, e é através dela que a esperança nas promessas se transforma em convicção.

“Ora, sem fé é impossível agradar-lhe; porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos que o buscam”. (Hb 11.6) Portanto, é necessário que os crentes zelem por sua fé, pois, “o justo viverá pela fé; E, se ele recuar,” Deus “não tem prazer nele”. (Hb 13.38)

Enfim, falamos que o livro de aos Hebreus nos tira da comodidade intelectual e espiritual, seus textos exigem de nós um pouco mais de reflexão, exige a reobservação de nossos conceitos e ideias há muito tempo enraizadas em nosso intelecto, como, e por exemplo, a questão da nulidade do homem em relação a sua salvação.

Muitos defendem a passividade do homem em relação a sua salvação, defendem, se valendo da interpretação soteriológica monergista das Escrituras, que cabe apenas a Deus qualquer medida em favor da salvação do homem, e por consequência, o homem nada faz de positivo. Os engenheiros desse sistema soteriológico, preocupados em eliminar o que, entendem, seria, um possível mérito humano -, a possibilidade de o homem responder a alguns estímulos de Deus -, apresentam um ser esvaziado que age de acordo e com os comandos absolutos de seu criador, sem nenhuma resposta que não seja, a própria resposta de Deus dominante no homem – o que seria um solilóquio. Ávidos por defender o sistema monergista, preferem ignorar a riqueza das exortações, como as registradas na epístola aos Hebreus, que revela ao crente que é necessário que ele aja em favor da salvação, que há que se tomar atitudes em prol da efetivação da salvação, que necessitam cooperarem com os meios da graça, enfim, que não há salvação monergista, já que a salvação é uma dádiva de Deus, que exige do homem zelo e esforço para mantê-la.

Negar que homem, com o auxílio da graça, participa e deve participar ativamente na efetivação de sua salvação, é negar as instruções da epístola aos Hebreus, e variados textos bíblicos que exortam os crentes a confirmarem sua vocação, perseverarem na doutrina e preservarem a sua fé além de desconsiderar a exposição bíblica sobre responsabilidade do homem em relação a sua salvação. Portanto, cabe a nós, fazermos uma leitura mais atenta das Escrituras, a fim de desfazermos esses equívocos interpretativos que tendem a anunciar, implicitamente, um evangelho que não exige do cristão os esforços que tanto solicitou aos crentes judeus que estavam sob o seu cuidado, o zeloso escritor da epístola aos Hebreus.  

Lailson Castanha

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Como Jacobus Arminius acredito que: "As Escrituras são a regra de toda a verdade divina, de si, em si, e por si mesmas.[...] Nenhum escrito composto por Homens, seja um, alguns ou muitos indivìduos à exceção das Sagradas Escrituras[...] está isento de um exame a ser instituído pelas Escrituras. É tirania, papismo, controlar a mente dos homens com escritos humanos e impedir que sejam legitimamente examinados, seja qual for o pretexto adotado para a tal conduta tirânica." (Jacobus Arminius) - Contato: lailsoncastanha@yahoo.com.br

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