Ideário arminiano. Abordagens sobre a teologia clássica de Jacó Armínio: suas similaridades, vertentes, ambivalências e divergências.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Sobre a autoria do mal.

Em alguns círculos cristãos, principalmente no ambiente reformado/calvinista, para legitimar os dogmas doutrinários que são admitidos em sua ambiência, tem-se defendido a idéia de que Deus seja o autor do mal. Usando uma linguagem mais teológica, é afirmado que a existência do mal é um decreto de Deus.
Essa interpretação é feita sem levar em conta os atributos de Deus revelado nas Escrituras, e, até mesmo a lógica em que a maioria dos textos nos direciona. Isto acontece, porque, tendo a predestinação dupla incondicional como dogma, em que, uns são eleitos incondicionalmente para a salvação e outros para a danação, faz-se necessário, para não agredir o dogma adotado pelas instituições rigidamente calvinistas, ou para não sair de sintonia com os caminhos que ele direciona, defender a idéia de que Deus é autor do mal.
Para serem coerentes com o dogma reformado, os calvinistas são forçados a defender esta idéia, porque, na defesa da soberania de Deus, na visão calvinista, é acrescentado que um Deus soberano nunca é contrariado, portanto, a existência do mal não pode acontecer sem que este mesmo Deus não houvesse desejado. Destarte, se o mal existe, existe por que assim Deus desejou.
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Em Calvino, vemos a base do que se tornou um dogma reformado:
"Fico me perguntando muita vezes como é que a queda de Adão, independente de qualquer remédio, envolveu tantas nações até crianças a morte eterna, apenas por causa da vontade de Deus...trata-se de um decreto horrível, confesso!”(1)
Num silogismo, a perspectiva calvinista do mal como desejo de Deus poderia ser apresentada assim:
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Tudo que é existente é da vontade de Deus
Ora, o mal é existente
Logo, o mal é da vontade de Deus
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O problema gerado com a admissão desta idéia, é que, para mantê-la, faz-se necessário negar algumas características e ações que as Escritura apresentam ao homem como sendo de Deus, características e ações que biblicamente e historicamente são apresentadas como fundamentos de seus atos e constituição do seu caráter diretamente relacionadas com seus atributos descritos em Sua Palavra.
Quando colocada de frente com as características, ações, atributos e sentimentos que são, pelas Escrituras, direcionados a Deus, esta admissão leva, aquele que as absorve, a alguns problemas.
Para deixar asserção mais clara, vamos exemplificá-las, pontuando as características que são nas Escrituras, as características, ações, atributos, e sentimento direcionados a Deus, e descrever, porque entram em choque com a idéia de que Ele seja o autor do mal, e que tudo o que acontece seja decreto seu, ou numa linguagem mais clara, seja desdobramento de seu desejo.
. Deus é Amor – A mais forte ênfase que as Escrituras colocam sobre a Pessoa de Deus, é que Ele é amor. Sabemos que Deus nada faz passando por cima de seu caráter e nunca pode negar a sua essência. Sabendo disto, todos os atos duros que são tomados por Deus, nunca podem ser tratados como determinações de um ser determinista.
Deus é amor, se toma uma atitude extrema para com um homem ou uma nação que coletivamente expressa uma cultura paradigmática, e esta sendo uma afronta a lei de Deus, não está ignorando o seu amor, pelo contrário, por amor a sua justiça castiga aquele que agride o que é bom, seja um indivíduo, ou uma nação. Um homem ou uma nação que não leva em conta os preceitos de Deus está em rebeldia com a ordem natural das coisas, por isto é castigado.
Assim diz as Escrituras:
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Por isso quem resiste à potestade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos a condenação.Porque os magistrados não são terror para as boas obras, mas para as más. Queres tu, pois, não temer a potestade? Faze o bem, e terás louvor dela.Porque ela é ministro de Deus para teu bem. Mas, se fizeres o mal, teme, pois não traz debalde a espada; porque é ministro de Deus, e vingador para castigar o que faz o mal.
Portanto é necessário que lhe estejais sujeitos, não somente pelo castigo, mas também pela consciência. (Rm.13.2-5).
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Para defender suas idéias Calvino teve que colocar as ações de Deus como “um decreto horrível", porque em sua mente, as ações de Deus não têm relação com seu amor, às coisas que acontecem aos homens, sejam elas boas ou ruins, acontecem apenas por causa de sua vontade.
Se nos aprofundarmos biblicamente nas implicações de um Deus que é amor, jamais admitiríamos que o mal foi criado Deus.
Está escrito:
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Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. (Jo.3.16).
E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo.(Jo.2.2)
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Que sentido faria, Deus decretar o mal e depois salvar os que se perderam, vitimados por este decreto?
Se Deus amou o mundo, teria ele decretado o mal para satisfazer o seu desejo, sendo este mal a calamidade do mundo, tendo o mundo como objeto do seu amor?
Ele é a propiciarão(gr.hilasmos) pelos pecados que ele mesmo decretou?
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Mas ai de vós, fariseus, que dizimais a hortelã, e a arruda, e toda a hortaliça, e desprezais o juízo e o amor de Deus. Importava fazer estas coisas, e não deixar as outras.(Lc.11.42)
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O amor de Deus não pode ser colocado em segundo plano, assim como a sua justiça. Uma coisa não se afasta da outra.
Se Deus castiga, não castiga porque incondicionalmente escolheu odiar as vítimas do seu castigo, mas sim porque as tais ofenderam os seus preceitos e por isto se tornaram alvos de sua justiça. Deus por amor a sua justiça, aplica o devido castigo aos rebeldes e resistentes ao convencimento de seu Espírito. Vejamos esta condicionalidade registrado nas Escrituras:
Se sofrermos, também com ele reinaremos; se o negarmos, também ele nos negará;
Se formos infiéis, ele permanece fiel; não pode negar-se a si mesmo.(2Tm.2.12,13)
Este texto nos distancia da idéia de que Deus rejeita alguém por decreto incondicional, só levando em conta a sua vontade soberana.
Se o negarmos ele também nos rejeitará. Por ser justo, Ele negará a suas bênção em nosso favor, mas pelo contrário, se não o negarmos, ele nos amará porque não pode negar a sua essência.
. Deus é Santo – Desde o início da relação de Deus com o seu povo, é apresentada aos mesmos esta distinta característica, vejamos:
Porque eu sou o SENHOR, que vos fiz subir da terra do Egito, para que eu seja vosso Deus, e para que sejais santos; porque eu sou santo (Lv.11.45).
Quando Deus afirma que ele é santo, percebemos implicitamente que existem coisas que não são santas ou que não possuem santidade, ou que se distanciaram da santidade.
A exigência de Deus que o seu povo saisse do Egito para ir a um lugar onde lá ele seria Deus do povo hebreu – indica que ele não admitia a impureza que era vivenciada por aquela nação; esta não admissão, demonstra a não admissão a vileza, sendo que tudo o que é vil, é produto da maldade. Portanto, Deus não admite maldade.
Se Deus não admite maldade, não pôde ter decretado o mal.
. Deus é Luz – Existem várias metáforas bíblicas que se apropriam do termo “luz”, relacionando-os a Cristo.
Cristo é apresentado como a luz que dissipa as trevas, que ilumina o pecador. Com isto podemos entender que ele se revela ao homem, que estando perdido no pecado, na maldade metaforicamente comparada às trevas, não conseguiria enxergá-lo. - Jesus aqui é aquele que orienta e que liberta do mal.
Também Cristo é aquele que não tem nenhum mal em si, naturalmente, aquele que faz o mal o odeia, pois vive em oposição a Cristo que é o Bem Supremo.
Vejamos um dos textos que usam os termos luz e trevas:
E a condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más.
Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz, e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas.(Jo.3.19,20)
Nesta metáfora existe um explicito contraste – LUZ x TREVAS. Descortinado a alegoria, o contraste se revela como: CRISTO x PECADO/MAL
Se Cristo é colocado em contraste do mal, como poderia ter Deus criado algo que seja contrastante com a sua essência?
Ora, se Deus é o autor do mal, se ele o decretou, porque condena aqueles que estão a cumprir o seu decreto?
Como pode, Deus ter criado o mal e determinado que as pessoas o vivenciassem, e ser ofendido pela sua própria determinação vivenciada nas pessoas que o rejeitam, levando-os a condenação?
. Deus é Justo – O que significa biblicamente a expressão “Deus é justo”?
Para entendermos um pouco mais, vamos recorrer a alguns trechos bíblicos:
Ele é a Rocha, cuja obra é perfeita, porque todos os seus caminhos justos são; Deus é a verdade, e não há nele injustiça; justo e reto é.(Dt.32.4)
Deus é justo juiz, um Deus que sente indignação todos os dias.(Sl.7.11)
E, se a nossa injustiça for causa da justiça de Deus, que diremos? Porventura será Deus injusto, trazendo ira sobre nós?
De maneira nenhuma; de outro modo, como julgará Deus o mundo? (Rm.3.5,6).

A palavra justiça está ligada com a perfeição dos feitos de Deus, suas decisões, sua retidão e com a verdade.
Também vemos que por Deus ser justo, Ele sente indignação. Esta indignação está ligada com o fato de existir injustiças que o desagradam -, por Ele ser justo.
Destarte, justiça em Deus esta ligada à integridade e retidão. Outrossim, não há ambiguidade nos caminhos do Senhor.
Ligando a palavra justiça aos termos integridade e retidão, necessariamente teremos que separá-la, tratando como distintos dos termos: acepção de pessoas, dois pesos e duas medidas, indiferença, ambivalência, maldade, etc.
Deus, sendo justo não pode condenar o mundo que Ele mesmo decretou à praticar o mal, antes deste ter escolhas efetivas, e depois condená-lo. Fazendo isto, estaria sendo ambivalente, coisa que não combina com a sua justiça. Fazendo isto, estaria sendo injusto.
Tiago, em sua epistola, rejeitou esta idéia com muita energia, vejamos:
Ninguém, sendo tentado, diga: De Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta.(Tg.1.13).
Pela própria justiça de Deus e retidão de Deus, podemos entender que Deus jamais decretaria a existência do mal, sendo que ele o abomina e pune quem o pratica.
Se ele criou o mal, não pode ser justo.
Se uma pessoa pratica o mal é injusta, e será julgada pela sua maldade, coisa que ofende a justiça de Deus; como Deus sendo criador do mal, pode ser considerado justo?
. Deus é Bom – Quando afirmamos que Deus é bom, naturalmente temos que rejeitar qualquer indício de mal colocado como fruto de sua vontade.
Admitindo que Deus é plenamente bom, não encontramos liberdade para afirmarmos que ele é o criador do mal, pois, se dele saísse o mal, ele não seria plenamente bom.
Admitindo que a plenitude da bondade reside em Deus, estamos reiterando que ele é um Deus de bem, e todo que ele faz é bom, até mesmo quando usa para seu serviço, o que os homens consideram um mal.
Para os que servem a Deus, o seu amor muitas vezes se mostra na forma de um castigo corretivo, como expresso no texto de aos Hebreus:
Porque o Senhor corrige o que ama, E açoita a qualquer que recebe por filho.
E, na verdade, toda a correção, ao presente, não parece ser de gozo, senão de tristeza, mas depois produz um fruto pacífico de justiça nos exercitados por ela(Heb.12.6-11).

Certa passagem das Escrituras destacam a Bondade de Deus de maneira acentuada, observemos o que nela está registrado:
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Piedoso e benigno é o SENHOR, sofredor e de grande misericórdia.
O SENHOR é bom para todos, e as suas misericórdias são sobre todas as suas obras(Sl.145.8, 9).
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É importante destacarmos que a bondade de Deus, não elimina a dureza de sua justiça. Deus trata com dureza, aqueles que são duros em acatar sua lei justa. Quanto aos de dura cerviz, tanto homem individual, como uma nação, Deus os aniquila quando chegam ao limite de sua maldade. O aniquilamento, as duras penas, não são frutos da maldade de Deus, até porque nEle não existe nenhum mal, mas estas ações são frutos de sua justiça, tanto que as Escrituras o apresenta com um Deus zeloso. Ele zela pelo que é bom.
O SENHOR é Deus zeloso e vingador; o SENHOR é vingador e cheio de furor; o SENHOR toma vingança contra os seus adversários, e guarda a ira contra os seus inimigos.(Naum. 1.2)
Vemos que não existe determinismo incondicional em Deus, tudo o que determina, está na mais pura harmonia com o seu caráter reto.
Se Deus elimina ou castiga severamente uma nação ou um homem, é porque aplicou sua sentença aqueles que banalizaram a sua graça. Deus é bom, mas também é justo.
Se ele é bom, mas também justo, sua bondade nunca pode eliminar a sua justiça, já que o segundo atributo está ligado ao primeiro. Deus não pode ser bom, sem ser justo.
Quando no texto de Jeremias Deus compara a nação de Israel ao barro, se colocando como o oleiro, ele deixa claro que mesmo sendo soberano, leva em conta as ações e o arrependimento do povo. Jamais é indiferente ao arrependimento. Por que? Porque ele é bom. Vejamos:
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Dispõe-te, e desce à casa do oleiro, e lá ouvirás as minhas palavras.Desci à casa do oleiro, e eis que ele estava entregue à sua obra sobre as rodas. Como o vaso que o oleiro fazia de barro se lhe estragou na mão, tornou a fazer dele outro vaso, segundo bem lhe pareceu.Então, veio a mim a palavra do SENHOR:Não poderei eu fazer de vós como fez este oleiro, ó casa de Israel? - diz o SENHOR; eis que, como o barro na mão do oleiro, assim sois vós na minha mão, ó casa de Israel.No momento em que eu falar acerca de uma nação ou de um reino para o arrancar, derribar e destruir,se a tal nação se converter da maldade contra a qual eu falei, também eu me arrependerei do mal que pensava fazer-lhe.E, no momento em que eu falar acerca de uma nação ou de um reino, para o edificar e plantar,se ele fizer o que é mau perante mim e não der ouvidos à minha voz, então, me arrependerei do bem que houvera dito lhe faria(Jr.18.1-10).
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Não existe nas Escrituras, em momento algum, nenhum registro que aponte Deus como indiferente e determinista, que em consequência a seu determinismo usa de maldade para com o homem. Nas Escrituras Deus, como juiz, é aquele que aprova ou reprova. Aprova aqueles que cedem ao seu convencimento, e reprova aqueles que teimosamente continuam em seus maus caminhos.
Temos que ressaltar que Deus é bom, porque é assim que as Escrituras o apresentam.
Não pode de uma árvore boa sair frutos ruins; se Deus é bom, justo, e são retos os seus caminhos, não pode ter criado o mal, porque o mal é a própria negação de sua bondade justiça e retidão; o mal é a própria negação de Deus, e, jamais sairá daquele que é absolutamente bom.
. Deus Rejeita o Mal - Uma das coisas que nos dão liberdade para afirmarmos que Deus não criou o mal, é a sua própria rejeição a este fenômeno. Vários textos bíblicos de forma explícita destacam que Deus rejeita o mal. Pensando logicamente, e, tendo as Escrituras em mente, podemos fazer a seguinte ponderação.

É afirmado na Bíblia, que em Deus não há mudança e nem a mínima possibilidade de variação (Tg.1.17). Sabendo também que quem faz o mal não tem visto a Deus (3JO.1.11), que Deus pune aos que fazem o mal, que ordena aos homens que se apartem do mal (1PE.3.9). Como poderia ele que não muda, criar e depois rejeitar aquilo que criou?
Se Deus não muda, ele, portanto não poderia rejeitar o que ele criou. Se o mal é rejeitado por Deus, que não muda, ele então não criou o mal – sua autoria é externa a Deus.
Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal e a opressão não podes contemplar..." (Hb. 1:13).
O temor do SENHOR é odiar o mal; a soberba e a arrogância, o mau caminho e a boca perversa, eu odeio.(Pv.8.13).

Ficando evidente que Deus não muda e rejeita o mal, e se ele não muda e rejeita o mal não poderia ele ter criado o mal, pois, em sintonia com sua condição (de criador), que não muda, se Ele tivesse criado o mal, não rejeitaria nem o mal (que teria criado) nem quem o pratica.
Sabendo que Deus rejeita quem pratica o mal, sabemos também que ele rejeita o mal – sabendo que ele rejeita o mal, sabemos que ele não pôde tê-lo criado, já que nEle não há mudança, sendo assim não rejeita o que cria, ele rejeita apenas o que se corrompe. O mal por si só já é uma corrupção e Deus é incorrupção e perfeição pura. Logo, Deus não mudando e sendo incorrupção, não pode criar a corrupção.
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Podemos lançar a segunda indagação: A corrupção existe, como existiria ela se Deus não a criou?
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Podemos responder indiretamente, também indagando:
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A farinha existe, mas foi Deus que a criou, ou criou ele apenas a mandioca?
O autor do metal é o mesmo autor da faca?
Deus criou a o barro, criou Ele também o vaso?
Criou ele o sexo e também o estupro?
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Santo Agostinho diz que o mal é o afastamento de Deus. Ele também afirma que a existência do mal pressupõe a existência do livre arbítrio.
Se Deus é bom e nele não existe mal algum, a existência desse mal indica que Deus criou seres que podem se distanciar da sua vontade que é intrinsecamente boa. Deus sendo bom, apesar de permitir que estes seres se distanciassem, não o fez para isto, mas o seu distanciamento que os levou a se afastarem de Deus, prova que Deus permitiu o seu afastamento, porque em sua sabedoria infinita viu que era bom que o homem tivesse o seu livre arbítrio, mesmo que se distanciassem da sua vontade.
Um pai correto que não suporta a maldade e a corrupção, também sabe que quando o seu filho começar a vivenciar a vida social como por exemplo, frequentando a escola, ele pode conhecer a maldade e as más influências. Mesmo sabendo disto, ele permite que seu filho seja exposto à maldade saindo de sua extrema proteção. Se o filho não saísse da extrema proteção do pai, conhecendo outras realidades ele não seria um ser de razão, seria um ser privado de razão, porque não conhece outras realidades para fazer escolhas.
O homem para ser efetivamente um ser de razão precisaria fazer escolhas, por isto Deus os desafia a isto. Não para que ele escolha o mal, mas para que praticasse a escolha para ser efetivamente um ser de razão.
Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás. (Gn. 2:17).
Se a Bíblia não nos dá a liberdade de direcionar a criação do mal a Deus, quem será o criador?
Temos indicações embora não diretas, que Satanás foi o criador de tal feito, pois ele foi o primeiro que se afastou de Deus, e que, também, incitou o homem a mesma empresa. A Bíblia diz que ele é o pai da mentira e que peca desde o início, vejamos:

Quem comete o pecado é do diabo; porque o diabo peca desde o princípio. Para isto o Filho de Deus se manifestou: para desfazer as obras do diabo.(1Jo.3.8)
Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira (Jo.8.44).
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Se Jesus é a Verdade (Jo.14.6) e o Diabo o Pai da Mentira, não seria ele, o Diabo, o autor do mal, que por sua vez é a negação do bem, já que a mentira da qual o Diabo é pai, é a negação da Verdade, sendo esta o próprio Deus, o caminho, a “verdade” e a vida?
Num silogismo, poderíamos rejeitar a idéia de Deus como criador do mal, assim:
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Um ser bom não cria o mal
Ora, Deus é um ser bom
Logo, Deus não cria o mal
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Lailson Castanha
______
(1)TILLICH, Paul. História do pensamento cristão. 4ed.São Paulo: ASTE, 2007.Apud. CALVINO, João.

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Como Jacobus Arminius acredito que: "As Escrituras são a regra de toda a verdade divina, de si, em si, e por si mesmas.[...] Nenhum escrito composto por Homens, seja um, alguns ou muitos indivìduos à exceção das Sagradas Escrituras[...] está isento de um exame a ser instituído pelas Escrituras. É tirania, papismo, controlar a mente dos homens com escritos humanos e impedir que sejam legitimamente examinados, seja qual for o pretexto adotado para a tal conduta tirânica." (Jacobus Arminius) - Contato: lailsoncastanha@yahoo.com.br

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