Ideário arminiano. Abordagens sobre a teologia clássica de Jacó Armínio: suas similaridades, vertentes, ambivalências e divergências.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Fundamento da harmonia entre a soberana vontade e a liberdade de escolha do homem.

Deus é soberano, todas as coisas que deseja se tornam reais. Desejou que houvesse o universo e isto se cumpriu, desejou que houvesse animais que fossem guiados apenas pelo instinto natural e isto aconteceu, quis que dentre todos os animais alguém se sobrepusesse, e o homem foi feito. Um ser tanto instintivo como de razão. Este ser que foi criado com uma natureza especifica, tem a liberdade, potência em si de romper com os ditames da mesma.
O homem pode ingerir e ter prazer em coisas que sua natureza rejeita, pode gostar do que lhe faz mal, amplia horizontes, ao passo que os animais irracionais não rompem com o direcionamento natural de seus instintos.
Levando em consideração este fato somos levados a admitir a liberdade cognitiva do homem, ou seja, é um ser que a partir das coisas que lhe são apresentadas pode desejar ou não desejar, querer ou rejeitar. Se o homem pode romper até com os ditames de sua natureza, coisa não possível aos animais irracionais, é porque o soberano que o criou conferiu-lhe esta liberdade, liberdade de romper com sua proposta original.
Diante deste fato, podemos também perceber um soberano que soberanamente permite que sua vontade seja inadimplida exatamente porque desejou criar homens livres, seres de razão e por isso, de livre cogito.
Se Descartes afirma sua existência a partir da percepção de ser ele um ser pensante, também podemos nos entender como “pessoas”, através da percepção de que somos seres de escolhas, seres livres para escolher. É este atributo que nos faz diferentes do outro, peculiares, que nos tornam pessoais que nos fazem ser alguém com uma pessoalidade.
Essa liberdade além de imputada é também cobrada. Não só podemos escolher como devemos escolher.
Poder escolher não é a mesma coisa de poder realizar. Podemos querer uma coisa e não a possuir, isso é logicamente possível, podemos até possuir algo que não desejamos. Fisicamente não somos totalmente livres, a nossa natureza e alguns outros condicionamentos nos impossibilitam de realizar tudo o que desejamos, mas por outro lado, a partir das coisas que nos são apresentadas, somos livres para querê-las ou rejeitá-las, ninguém pode nos privar dessa liberdade. As Escrituras destaca-nos um texto que ilustra bem esta realidade:“Porque o que faço não o aprovo; pois o que quero isso não faço, mas o que aborreço isso faço.”(1)
Se o sujeito do texto Paulino não aprova o que faz e não consegue realizar o que deseja, isto significa que em sua mente existe a liberdade de escolha. Ele determinado pelo pecado, pela fraqueza deseja o contrário do que faz. O saber o que deve realmente ser feito, e fazer o contrário pela limitação de sua natureza pecaminosa, indica que o desejo é livre e ação nem tanto.
O contentamento de um homem mentalmente livre e limitado fisicamente, é que a graça de Deus oferecida a todos, pode capacitá-lo a realizar as coisas boas que o Espírito Santo os convence. O fato de ele desejar o que é bom, já demonstra a graça de Deus, que através de seu Espírito o convence do pecado. Sabendo também que em Cristo, Deus pode nos possibilitar vivermos o bem que desejamos, bem que foi nos informado pela graça, coisa que por nos mesmos não conseguimos vivenciar. Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo;(2)
O homem livre sabe que em sua liberdade pode tanto desejar o que é bom como resistir. Este é o fundamento de sua pessoa, ser alguém que acolhe e despreza, escolhe ou rejeita.
Observa pessoas que resistem ao Espírito, outras que se rendem a Ele e vê nisso o princípio da pessoalidade e da responsabilidade que a acompanha. Percebe que este fator também fundamenta a lei e o julgamento do Soberano. A lei para brecar os excessos de nossa vontade livre e o julgamento para punir ou premiar as nossas ações, que são frutos de nossas escolhas livres.
Sabendo que se escolhemos o bem que Deus nos apresenta, Ele mesmo nos fará vivenciá-los por intermédio de sua graça emanada na cruz e se escolhermos o distanciamento da virtude, ele mesmo nos impossibilitará pelo fato de pisotearmos a graça que nos foi oferecida.
De quanto maior castigo cuidais vós será julgado merecedor aquele que pisar o Filho de Deus, e tiver por profano o sangue da aliança com que foi santificado, e fizer agravo ao Espírito da graça?(3)
Liberdade de escolha é o que fundamento de nossa pessoalidade. Sem escolhas não somos pessoas, somos apenas sujeitos passivos, sem nenhuma responsabilidade moral, idéia que se distancia bastante do que as Escrituras nos apresentam.
Liberdade de escolha é também a base do relacionamento de amor, uma coisa diferente disso não é um relacionamento amoroso, poderíamos dar outro nome, como, despotismo.
Portanto o Soberano não perde a sua soberania se por vontade própria confere ao homem a responsabilidade do livre arbítrio, se escolhe criar um ser se relacionando a ele com amor. Deus jamais deixou de ser soberano quando em Cristo morreu na cruz, apesar de que para muitos isto foi um escândalo. O mesmo tipo de mentalidade que se escandaliza com a idéia de um Deus soberano dar ao homem a capacidade do livre arbítrio, é a que se escandaliza com um Deus poderoso estendido numa cruz por amor a sua criatura.
Apesar de o Soberano dar ao homem a capacidade do livre arbítrio, Ele jamais perde o controle sobre a sua criatura, porque, mesmo conferindo ao homem a capacidade de escolha, sabe qual será a escolha de quem recebeu a capacidade, portando não existe surpresa para o Soberano, que soberanamente permite ao homem a capacidade de escolha, sendo esta como todas as coisas, submissa a autoridade do soberano.
Jamais o homem fará o que o Soberano não aprouver, mas pode escolher segundo a permissão do Altíssimo, as coisas que o próprio Soberano não gostaria que o homem escolhesse, ou que o homem rejeitasse, mas o permite, porque a rebelião contra Deus, permitida por Ele mesmo, de forma alguma atinge sua soberania, por que por Ele e nunca sem a sua permissão, foi permitido que o homem exercesse suas escolhas distanciando-se da sua vontade.
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Lailson Castanha
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(1)Bíblia on line. Romanos 7.15.
(2) Ibdem Filipenses 1.6
(3) Ibdem Hebreus 10.29

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Como Jacobus Arminius acredito que: "As Escrituras são a regra de toda a verdade divina, de si, em si, e por si mesmas.[...] Nenhum escrito composto por Homens, seja um, alguns ou muitos indivìduos à exceção das Sagradas Escrituras[...] está isento de um exame a ser instituído pelas Escrituras. É tirania, papismo, controlar a mente dos homens com escritos humanos e impedir que sejam legitimamente examinados, seja qual for o pretexto adotado para a tal conduta tirânica." (Jacobus Arminius) - Contato: lailsoncastanha@yahoo.com.br

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