Introdução
No extenso percurso histórico, desde o início dos registros das manifestações humanas, vários movimentos culturais e intelectuais foram se transformando. Como havia ditado o grande filosofo sistemático Hegel, dialeticamente os movimentos foram se transformando como síntese do choque entre velhas e novas ideias. Ao longo da história puderam-se testemunhar mudanças no modo de vida social. Fazendo uma comparação investigativa, facilmente se observará que os contornos culturais de hoje são diversos, e na maioria dos casos, muito diferente do que os de outrora. Se a dialética traça os rumos arquitetados por Hegel, nem sempre a nova arquitetura é feita de novos elementos, pois no choque entre o velho e o novo, muita coisa dantes usadas, ou, muitos elementos e ideias até então dispensados podem novamente vir a tona. Portanto, a síntese entre tese e antítese, entre o velho e o novo, poderá, com novas formas e variações, reaproveitar muita coisa ou ideia, tida como antiquada.
A filosofia e a teologia não fogem desse movimento que observamos. Em muitas obras que versam sobre essas manifestações intelectuais leem-se registros das mudanças na ordem das ideias – mudanças essas, que vez por outra, reafirmam o que remotamente fora rejeitado. Detendo-se na Teologia, pode-se perceber sem muito esforço essa realidade dialética, e é sobre aspectos dessa realidade dialética na teologia que timidamente passaremos a abordar.
1. Aspectos de uma dialética teológica.
Comentar sobre aspectos de uma dialética teologia é ter a princípio um leque de possibilidades, coisa que por sua extensão, impossibilitaria nossa pretensão de desenvolver um simples e específico comentário. Por isso, para realizar nossa pretensão, a saber, de construir, não um exaustivo comentário, mas uma abordagem parcial e simples - buscamos desenvolver um comentário que, mesmo beirando o superficial, não se configure como supérfluo.
Tendo assumida a hipótese da dialética teológica, podemos apresentar superficialmente algumas manifestações que entendemos se configurar como matéria prima da perpetuação dessa dialética.
A Teologia Cristã tem nos Escritos Bíblicos a fonte de sua movimentação dialética, porém, apesar da fonte comum, os movimentos teológicos cristão são destoantes. Por exemplo, os evangelhos e os escritos do apóstolo Paulo que tem servido como inspiração para uma série de sistemas, direcionam os aderentes de cada sistema a conclusões opostas. Se voltarmos nossa atenção apenas para os sistemas soteriológicos perceberemos que essa hipótese ganha ainda mais força. Nessa investigação, apontamos para o fato de que as mesmas fontes e ideias usadas para legitimar um sistema, são usadas para legitimar outro destoante.
Na Soteriologia Católica, temos como fundamento os Pais da Igreja, principalmente a fonte agostiniana, que avançando, gera a vertente tomista – apresentando-se em outra forma, que por sua vez ganha outra curso no afluente molinista, continuando nos contemporâneos, em vários modos, a movimentar o curso dialético das ideias. Já a Soteriologia Protestante tem como fonte os já citados católicos, canalizados em Lutero e Calvino, que engendra o afluente Arminius que, por sua vez, gera o afluente Wesley e demais, em diversidade de conteúdos, interpretações e ênfases. Porém tanto na primeira como na segunda, o lençol de água é as Escrituras. É importante ressaltarmos que os sistemas que citamos não seguem uma ordem estrita, tal como apresentamos, ademais, a grande maioria de nomes ou sistemas foram omitidos, o que pretendemos em nossa apresentação, é apenas mostrar que existe uma dialética teológica.
Através de um grande número de sistemas várias ideias foram discutidas. Temas como: soberania de Deus, eleição e predestinação (absoluta e inflexível ou, restrita e flexível); conhecimento de Deus (positivo, sempre diretamente atuante, passivo ou impassivo; ou circunstancialmente atuante etc.); livre-arbítrio humano (como coisa irreal, ou, existente apenas antes da queda; enfraquecido depois da queda – mais, ainda existente; só possível com a intervenção da graça preveniente; etc.) foram dialeticamente ganhando novos contornos, passando de uma rigidez ideologia à flexibilidade, ou inversamente.
Como prevíamos nossa intenção nesse simples comentário não é tratar com profundidade os principais aspectos da dialética teológica, o que demandaria maior trabalho, e, por consequência, exigir-nos-ia mais tempo de dedicação, coisa que atualmente indispomos, além de fugir de nosso campo de intenções. Pretendemos abordar apenas um aspecto marginal dessa dialética.
Apesar de entender que quando se fala em dialética teológica o assunto predominante deva ser as construções e reformas propriamente teológicas, agarrar-nos-emos a outra questão, a saber, a inversão de valores - realizada com o intuito de manter firme algumas construções teológicas.
2. A teologia da inversão de valores e as mudanças de ênfases.
Se até agora nossa tarefa foi a de destacar que de tempos em tempos ocorreram várias transformações nas teorias teológicas, doravante, passaremos a destacar uma questão específica, ou seja, a inversão de valores, principalmente em relação aos valores morais e potenciais atribuídos a Deus, assumida por algumas vertentes teológicas – e em seus defensores, tendo como fim, como já apontamos, manter intacta a consistência e coerência teórica da vertente teológica que defendem.
2.1 O enfraquecimento de valores morais em prol da perpetuação de alguns sistemas teológicos.
Para se configurar como uma genuína Teologia Cristã, independentemente do caminhar dialético, algumas ideias devem ser assumidas como inamovíveis. Umas dessas ideias basilares se referem ao caráter reto, santo, justo e amoroso de Deus, fonte de todos os bons valores, de toda boa dádiva e de todo o dom perfeito
(Tg 1.17). Portando, cristãmente crer em Deus, entre outras coisas, é crer que nEle residem, sem sombra nem variação, esses valores ideais. Apesar de verbalizada e confessada por todas as teologias cristãs, na engenhosidade de suas teorias, a palavra verbalizada e assumida sobre os valores que nos referimos não encontra assentamento em alguns sistemas teológicos.
Percebe-se o afloramento do calvinismo no Brasil. O que dantes era uma teologia quase que confinada a redutos específicos, hoje, sua influência se estende até mesmo em ambientes que tinha no arminianismo o seu principal afluente teológico. Na Internet, além da divulgação produzida por já tradicionais figuras e veículos calvinistas, essa nova camada também ostenta ferozmente sua teologia recém-absorvida através de sites, blogs pessoais ou institucionais, como também, atacando páginas que divulgam outras teologias, principalmente a Teologia Arminiana.
Independentemente do grau de profundidade que esses seminovatos calvinistas têm em relação à teologia que abraçaram, ou de outra teologia contrária que ferozmente atacam, percebe-se em suas posturas uma ousadia que por pouco alcança as raias do delírio, reforçando práticas de figuras já institucionalmente situadas e estabelecidas. Na ânsia de proteger a pseudológica de seu sistema teológico, não se constrangem a diminuir o que é de mais valorado nas Escrituras, a saber, o caráter reto, santo e justo de Deus, passando a construir, ou mesmo, perpetuar com mais explicitude, a teologia de inversão de valores.
O que vem a ser a teologia da inversão de valores? - Não é outra coisa, que uma teologia que diminui a importância dos valores morais, com o fim de supervalorizar o poder, por eles titulado como, soberania. É uma teologia que muda a ênfase das Escrituras, do amor, caráter, santidade, e justiça para o poder ou soberania. Na tentativa de garantir uma sobriedade teológica - até mesmo à ênfase evangélica do Novo tentamento é manipulada. Enquanto que a Bíblia registra a preocupação de Cristo em favorecer a humanidade, através de um tão grande amor por todos, que o levou a uma morte vil, os inversores, procuram direcionar esse favor gracioso Deus em prol da humanidade, diminuindo a extensão de sua doação benévola - apenas a um grupo ao qual chamam de eleitos. Se, se afirmava que o preço que pagou Cristo foi o caríssimo preço do pecado do mundo inteiro, a teologia da inversão de valores, apresentando a expiação de Cristo como preparada só para o grupo dos eleitos, com isso torna menor a extensão do sacrifício de Cristo do que é apresentado pelas Escrituras. Vejamos como as Escrituras nos apresenta a extensão do sacrifício e favor de Cristo:
“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.
Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele.” (João 3. 16, 17)
“Pois assim como, por uma só ofensa, veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também, por um só ato de justiça, veio a graça sobre todos os homens para a justificação que dá a vida” (Rm 5.18.)
“Porque Deus encerrou a todos debaixo da desobediência, para com todos usar de misericórdia.” (Rm 1.32)
“Pois o amor de Cristo nos constrange, julgando nós isto: um morreu por todos; logo todos morreram.” (2Co 5.14) .
Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens... (Tt 2.11)
E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo. (1 João 2. 2).
É muito claro nas Escrituras que o sacrifício e favor de Cristo e de extensão Universal, porém, os inversores diminuem consideravelmente essa dimensão.
Se a ênfase evangélica através da teologia de inversão de valores ganha novos realces, a moralidade também. Nesses contornos teológicos algumas expressões axiológicas passam a ser tratadas como quimeras.
Quando falamos na integridade de Deus, apontando que o homem, com o seu livre-arbítrio é realmente culpado por seu pecado -, assumindo o ousado sistema teológico inversivo, toda a retidão de Deus, apresentado nas escrituras como julgador de cada um segundo as suas obras, é desprezada, pois implicitamente ou em casos até explicitamente, afirmam que próprio Deus impediu que esses homens fizessem o bem. Deus já havia, indicam, escolhido positivamente os que seriam salvos e os que seriam condenados. Sobre esse pressuposto, Jacobus Arminius já advertia que afirmar que Deus estabeleceu positivamente os atos dos réprobos, é torná-lo autor do pecado:
“Embora o pecado não possa ser cometido por ninguém exceto por uma criação racional, e, por isso, deixa de ser um pecado, por esta mesma circunstância, se sua causa for atribuída a Deus; no entanto, parece possível, por quatro argumentos, fixar essa acusação sobre o nossos teólogos. ’Segue-se de sua doutrina de que Deus é o autor do pecado’". (Jacobus Arminius. Works of Arminius VlI).
John Wesley problematiza a questão da incoerência em julgar alguém incapaz de fazer o que fez.
“Se o homem é capaz de escolher entre o bem e o mal, ele se torna um objeto próprio da justiça de Deus que o absolve ou o condena, que o recompensa ou pune. Mas se ele não é, não se torna objeto daquela. Uma simples máquina não capaz de ser absolvida nem condenada.” E continua, “(...)A justiça não pode punir uma pedra por cair ao chão, nem, no nosso plano, um homem por cair no pecado, ele não pode senti-la mais do que a pedra, se ele está, de antemão, condenado... Será este homem sentenciado a ir para o fogo eterno preparado para o diabo e os seus anjos por não fazer o que ele nunca foi capaz de evitar?”
Defender que positivamente Deus estabeleceu os réprobos, é de alguma forma, além de torná-lo autor do pecado, apontar um traço de injustiça e de não retidão no caráter de Deus. Com muita propriedade o Rev. Amos Binney afirma: “Se o castigo é justo, é porque o castigado podia ter obrado de outro modo.” Portanto, segue-se que se o castigado não poderia ter obrado de outro modo, o castigo é injusto e injusto é o castigador.
Invertendo os valores tão zelosamente defendidos nas Escrituras, a teologia da inversão de valores, abandona a defesa do caráter reto de Deus, colocando nele um caráter obscuro – que faz dele, um julgador que não leva em consideração nenhuma ação humana, e pior ainda, que faz com que a maioria dos homens seja intrinsecamente impedida de desejar qualquer bem, qualquer salvação, oferecendo caprichosamente seu favor apenas a um grupo, tão pecador quanto o reprovado, independentemente de qualquer resposta humana. Ou seja, prática da acepção de pessoas que as Escrituras afirmam não existir em Deus, a teologia da inversão de valores assume como natural ação de um Deus soberano.
Defendendo, também, que algumas práticas pecaminosas foram incitadas por Deus independentemente do caráter já corrupto de alguns homens, a teologia da inversão de valores faz de Deus um corruptor de homens, coisa explicitamente rejeitada nas Escrituras, principalmente como lemos na clara assertiva de Tiago: Ninguém, sendo tentado, diga: De Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta. (Tg 1.13).
Se apropriando de textos de linguagem antropomórficas, os famigerados reversores teológicos fazem de Deus um ser imoral, que além de tentar alguém a práticas pecaminosas, o pune. É muito clara à percepção de quem se envolve em controvérsias soteriológias com defensores da teologia da inversão de valores o desprezo pelos conceitos morais que a Bíblia ciosa da reputação divina apresenta como traços do caráter divino. Diante dessa questão, a resposta a algumas indagações se fazem pertinentes, a saber:
Qual é a grande ênfase das Escrituras, o amor e a justiça de Deus, associada ao seu reto caráter -, ou uma soberania que julga a cada um de acordo com obras estabelecidas pelo próprio soberano?
O que as Escrituras mais explicitamente falam sobre Deus, sobre o seu amor pelo mundo, sua santidade, sua retidão e integridade, sua JUSTIÇA, - ou sobre sua soberania absoluta que impede intrinsecamente a possibilidade de salvação a muitos, ao passo, que intrinsecamente tem garantida a salvação a alguns, independente de suas ações?
O que mais as Escrituras exortam, a prática do autoexame, a necessidade de vigilância por conta da possibilidade do naufrágio da fé e para não receber em vão a graça de Deus, a necessidade do arrependimento -, ou o conforto de um grupo estabelecido de eleitos por conta da impossibilidade de que caiam da fé?
Conclusão.
Nessas poucas linhas, fizemos alguns apontamentos direcionados a praticas de defensores de uma vertente, que na ânsia de garantir seu principal pressuposto teológico, a saber, a soberania absoluta de Deus, cometem excessos que terminam por descaracterizar o Ente que visa defender. Apontamos para o problema vivenciado pelos defensores, por nós chamados, da teologia da inversão de valores, destacando que alguns valores que são colocados em alta estima nas Escrituras, por destacar a santidade de Deus -, na vertente teológica inversora, e nas mentes que assumem essa inversão, são relegados, na ânsia de valorizarem uma pretensa soberania absoluta, em detrimento a ética bíblica que direciona a Deus valores morais que não se harmonizam com o modelo de soberania absoluta que defendem.
É certo que a soberania divina é um fato bíblico. É certo também, em acordo com essa soberania, que nada ocorre sem a Divina Providência, até mesmo o livre-arbítrio do homem é manifestação da providência de Deus. Como também, é certo que não podemos omitir em qualquer manifestação intelectual essa realidade, e isso, implicitamente nos faz defender que a ocorrência de tudo está ligada a essa soberania e providência de Deus. Porém, o que não pode ser defendido, sob pena de apresentar Deus como um ser imoral, injusto e odioso, é inferir que essa soberania e providência de Deus que possibilita a ocorrência de todas as coisas, é a feitora positiva, intencional de todos os males do mundo, incluindo o pecado particular de cada ser, como inferem muitos calvinistas aqui tratados como inversores.
Teologizar sem reparar os caminhos que nossas inferências estão a nos levar é correr o risco de fazer teologia irresponsável e agressiva e de defender ideias e práticas contrárias aos atributos e valores que a Bíblica direciona para Deus.
Lailson Castanha
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Referências bibliográficas.
AGOSTINHO, Santo. O Livre-arbítrio. 2ed. São Paulo: Paulus, 1997.
ARMINIUS, Jacobus. Works of Arminius VlI.PDF
BINNEY, Amos. Compendio de Teologia. Campinas: Editora Nazarena.
LANE, Tony. Pensamento Cristão (Volume I); traduzido por Elizeu Pereira. 4ed. São Paulo: Abba Press, 2007.
LANE, Tony. Pensamento Cristão (Volume II); traduzido por Elizeu Pereira. 4ed. São Paulo: Abba Press, 2007.
OLSON, Roger. A história da Teologia Cristã – 2000 anos de tradição e reformas; tradução Gordon Chown. São Paulo: Vida Nova, 2001.
BURTNER, R.W. e CHILES, R.E., compiladores. Coletânea de Teologia de John Wesley; 2ed. Rio de Janeiro: Instituto Metodista Bennett, 1995.
Olá Lailson,
ResponderExcluirVocê usou os seguintes versículos:
“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.
Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele.” (João 3. 16, 17)
“Pois assim como, por uma só ofensa, veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também, por um só ato de justiça, veio a graça sobre todos os homens para a justificação que dá a vida” (Rm 5.18.)
“Porque Deus encerrou a todos debaixo da desobediência, para com todos usar de misericórdia.” (Rm 1.32)
“Pois o amor de Cristo nos constrange, julgando nós isto: um morreu por todos; logo todos morreram.” (2Co 5.14) .
Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens... (Tt 2.11)
E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo. (1 João 2. 2).
Como provar para um calvinista que o "todos" e "mundo" destes versos se refere a todos individualmente e não todos os eleitos(na perspectiva calvinista)?
Obrigado!
Anônimo, creio que neste caso em especial, quem tem o ônus de demonstrar este disparate chamado 'Expiação Limitada' é o gomarista, e não você. É ele quem diz que há um significado escondido ou pouco óbvio, e não você.
ExcluirPrimeiro, Calvino mesmo advogava uma interpretação ilimitada destas passagens (mas limitava algumas outras também). Segundo, a expiação limitada nunca foi ensinada desde pouco depois do Sínodo Nacional - e se ela é uma 'novidade' até mesmo dentro do calvinismo, que dirá dentro do cristianismo como um todo!
Afirmar de maneira vaga e imprecisa coisas como 'mas nem sempre mundo significa toda a raça humana' é algo que no máximo vai fazer ele ganhar um tempo com um truquezinho retórico. Primeiro, no caso de Jo 3:16, há a analogia que Jesus faz entre a Sua crucifixão e a serpente no deserto - algo que os calvinistas não levam em conta; Segundo, sempre que se cita 'mundo' no Evangelho de João, é de uma maneira negativa, falando do mundo como inimigos de Deus e de Jesus. Até mesmo em um dos versos que os calvinistas usam, a Oração Sacerdotal, Jesus fala que ora "pelos que Tu me deste e não pelo mundo"... Ora bolas, por que o ÚNICO verso em que mundo são somente os eleitos em TODO o Evangelho de João é justamente esse?
Enfim, uma leitura honesta do texto favorece em muito a expiação ilimitada.
Companheiro Anônimo, saúde.
ResponderExcluirA resposta para a sua questão não é uma tarefa difícil. Requer do leitor apenas algumas importantes considerações, a saber:
Como sequência do texto joanino - “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.
Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele.” (João 3. 16, 17)
Lê- se a seguinte afirmação:
E a condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más.
João 3:19
Portanto, fica-nos claro a ênfase da universal expiação - na afirmação que a Luz veio ao mundo – mais os homens amaram mais a trevas, e que a condenação reside nesse fato. Ora, se no mesmo assunto, lemos que Cristo amou o mundo, que Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele, e, em seguida – que a condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz -, segue-se disso, que o mundo citado nos versos de João 3.16, 17 não pode ser considerado como o restrito mundo dos eleitos. Nessa abordagem fica claro o porquê ocorre o juízo sobre o mundo; pelo fato de o investimento de Cristo ser feito a favor do próprio mundo que o rejeitou. Portanto, se há uma condenação sobre o mundo, é porque esse mundo amou mais a trevas do que a luz que se ofereceu, ou seja, porque o mundo rejeitou a oferta graciosa de Cristo.
Quando João afirma “E ele é a propiciarão pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo.”(1Jo 2.2) – o texto é auto-explicatico – ele separa dois grupos, um grupo particular (a igreja em que ele se coloca como participante na expressão nossos pecados), e um generalizado (tanto que não especifica). Por exemplo: se um a carta de João fosse escrita endereçada para uma família específica, da qual ele é membro, dizendo:
- ele é a propiciarão pelos nossos pecados (ou seja, pelos pecados da família de João a qual ele direciona a carta), e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo – qual seria a inferência lógica em relação a expressão todo o mundo? - Não poderia ser outra que: todas as famílias do mundo. Portanto, a extensão da carta de João, seguindo a inferência lógica – é universal, se refere ao mundo de pessoas não específicas. Quando usamos um termo específico – apontando um determinado objeto e outro genérico, sobre o genérico inferimos a totalidade, ou seja, a espécie universal do objeto, no caso, o termo NOSSOS – indica pessoas que participam de um grupo específico, do outro lado, o termo “TODO MUNDO” é o termo genérico, ou geral, de pessoas, independentemente de um grupo específico, ou seja, QUALQUER PESSOA EXISTENTE.
Já o seguinte texto - “Pois assim como, por uma só ofensa, veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também, por um só ato de justiça, veio a graça sobre todos os homens para a justificação que dá a vida” (Rm 5.18.) - vê-se o uso de uma explícita, a saber, a graça veio sobre TODOS OS HOMENS. – Note que, usando a expressão TODOS OS HOMENS, sem apresentar uma classe particular de homens, a única interpretação cabível é toda a humanidade. Se assim não fosse, o escritor deveria especificar que tipo de homens – por exemplo, destacando - todos os homens da igreja, ou todos os homens eleitos.
ResponderExcluirNote que antes da expressão que a graça veio sobre todos os homens, o apóstolo afirma que - “por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram” (Rm 5:12) – note que a frase: - A MORTE PASSOU PARA TODOS OS HOMENS – não da espaço para a afirmação que todos os homens não se refere a totalidade da humanidade. Ora, se você aceita, com as Escrituras, que todos os homens que receberam a morte como consequência do pecado, é realmente a totalidade da humanidade - por que não infere também, com as Escrituras - que a graça que veio SOBRE TODOS OS HOMENS – veio realmente para toda a humanidade? – Na verdade, não seguir a inferência lógica, é burlar a proposta do texto.
A mesma explicação pode ser dada ao texto: Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens (Tt 2.11) – Percebe que o termo todos os homens é genérico, não se referindo a um grupo particular.
Quanto ao texto: “Pois o amor de Cristo nos constrange, julgando nós isto: um morreu por todos; logo todos morreram.” (2Co 5.14) .
Se assumirmos como literal a expressão - TODOS MORRERAM – indicando que esse todo é a humanidade, logo deve inferir que Cristo morreu por todos os homens. Se você inverter a ordem, perceberá isso que tento explicar.
Todos morreram
Um morreu por todos
Afirmar que Cristo morreu por todos – implicitamente é afirmar que todos morreram. Pois se Cristo morreu por todos, significa que não há um justo, e que todos sem exceção realmente estavam mortos. Assumir que todos morreram, é lembrar e se constranger com o amor de Cristo, que morreu por todos.
Se você continuar lendo se deparará com a seguinte afirmação: E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou. (2 Co 5.15) – Perceba que no texto há uma distinção, entre TODOS e OS QUE VIVEM. Todos se referem a humanidade, e os que vivem se referem os que aceitaram a graça.
Leia esse versículo:
Ora, é para esse fim que labutamos e nos esforçamos, porquanto temos posto a nossa esperança no Deus vivo, Salvador de todos os homens, especialmente dos fiéis. (1Tm 4.10).
Note que o texto coloca a Salvação de Deus como estendida a todos os homens, mas destaca os fiéis, indicando que a eficácia da oferta se reforça aos fiéis.
Por fim, o texto de Romanos 11. 32, a saber: Porque Deus encerrou a todos debaixo da desobediência, para com todos usar de misericórdia. (Rm 11.32) é uma resposta a dualidade judia e gentia – eliminada por Paulo,. em relação a participação aos crentes gentios que se vangloriavam, em detrimento dos judeus. O capítulo começa com uma indagação: Porventura rejeitou Deus o seu povo? (Rm 11.1) - Romanos 11.32 responde: Deus encerrou a todos debaixo da desobediência, para com todos usar de misericórdia, ou seja, todos, tanto judeus como gentios são alvos da misericórdia de Deus; ninguém pode se vangloriar de exclusividade, o gentio salvo não pode a aviltar o judeu que caiu – porque: “Deus encerrou a todos debaixo da desobediência, para com todos usar de misericórdia”.
Muito obrigado Lailson,
ResponderExcluirGraças eu dou á Deus por sua vida, não pare de divulgar a teologia arminiana, ela tem sido de grande importância pra mim, e tenho certeza que para outras pessoas também. O arminianismo tem que crescer no Brasil.
Antigamente eu era calvinista, mas eu nunca gostei do "deus-calvinista", eu aceitava apenas racionalmente, mas não conseguia adorá-lo em espírito e em verdade; e o pior, quantas vezes eu indiretamente dizia que Deus me tentava para o mau. EU era orgulhoso com minha teologia, gostava de debater com "arminianos-leigos" não para convencê-los da minha perspectiva calvinista, mas para vencê-los, massacrando o indivíduo em uma teologia sistemática assustadora.
O arminianismo me ensinou tanto, mudou a minha vida, me salvou, ora o arminianismo, nada mais é que o "apelido" do verdadeiro evangelho.
Oro para que Deus te use cada vez mais para anunciar o seu evangelho puro e simples, onde Deus de fato é amor, e os homens de fato são pecadores e salvos pela graça de Deus. Muito obrigado!
Companheiro de cristianismo e de arminianismo, saúde.
ResponderExcluirSinto-me gratificado em saber que minha simples contribuição tem sido relevante para amigos de fé. Se somos chamado para servir – já ganhei a minha paga.
Se a função da teologia – é, entre outras coisas elucidar os atributos e caráter do Deus das Escrituras – creio que sua maneira de perceber Deus, com o auxílio da Teologia Arminiana – reafirma a relevância dessa linha teológica.
Oremos conjuntamente, para sermos sempre renovados pela graça de Deus, e para que nossa vida testemunhe, sempre, o caráter e o amor de Deus.
Prezado, como você interpreta esse verso?
ResponderExcluir“Para que se saiba desde o nascente do sol, e desde o poente, que fora de mim não há outro; eu sou o Senhor, e não há outro.
Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu sou o Senhor, que faço todas estas coisas.” Is 45.6-7
Aqui parece ficar claro que Deus é o autor do mal, Ele é Soberano sobre todas as coisas. Nada pode vir a existir sem Ele.
Obrigado.
Companheiro Anônimo (postagem do dia 17 de setembro de 2012 11:55), saúde.
ResponderExcluirNo texto de Isaías 45, Deus está explicitando sua relação com Israel, que apesar de todos os seus feitos, ainda não o conhecia. Quando Deus afirma que ele cria o mal, como a citação de Isaias 47.07 -, ele está a se referir ao mal como punição contra o pecador. Segundo Shedd, o termo mal citado no verso sete , é oriundo do termo hebraico rá, que se refere ao mal como consequência do pecado. Sobre esse mal Shedd afirma que ocorre como “consequência de uma situação que Deus está pronto a remediar, se entregarmos os nossos caminhos a Ele, aceitando o castigo e a correção das suas mãos.”
Portanto, diferentemente da interpretação que coloca Deus como criador do MAL essencial, o mal comentado em Isaias tem o mesmo sentido da correção citada em Hebreus 12, a saber:
“Porque o Senhor corrige o que ama, E açoita a qualquer que recebe por filho.
Hebreus
Se suportais a correção, Deus vos trata como filhos; porque, que filho há a quem o pai não corrija?
(...)E, na verdade, toda a correção, ao presente, não parece ser de gozo, senão de tristeza, mas depois produz um fruto pacífico de justiça nos exercitados por ela.”
(Heb. 12. 6, 7 -, 11).
Embora Deus crie um malefício para assolar o seu povo, esse mal visto por quem sofre, se transformara em bem. Se você continuar lendo o livro de Isaias, perceberá o propósito de Deus com o mal, ou seja, o uso da calamidade para corrigir. Portanto, essa mal, na verdade é um bem, como é um bem a correão do pai, que no momento, para o filho corrigido é um mal.
Porque assim diz o Senhor, que criou os céus, o Deus que formou a terra, que a fez e a estabeleceu, não a criando para ser um caos, mas para ser habitada: Eu sou o Senhor e não há outro.
Não falei em segredo, nalgum lugar tenebroso da terra; não disse à descendência de Jacó: Buscai-me no caos; eu, o Senhor, falo a justiça, e proclamo o que é reto.
Olhai para mim, e sereis salvos, vós, todos os confins da terra; porque eu sou Deus, e não há outro.
Por mim mesmo jurei; já saiu da minha boca a palavra de justiça, e não tornará atrás. Diante de mim se dobrará todo joelho, e jurará toda língua.
De mim se dirá: Tão somente no senhor há justiça e força. A ele virão, envergonhados, todos os que se irritarem contra ele.
Mas no Senhor será justificada e se gloriará toda a descendência de Israel.
(Isaías 45:22 – 25)
Continuando o texto, percebemos que as ações de Deus visava imprimir sua justiça e proclamar sua retidão. Entendendo assim, a interpretação de Deus como criador do mal essencial perde a força e, até mesmo, perde o sentido, porque mal essencial tem um fim em si mesmo, diferentemente do que lemos no livro de Isaías de um mal atual, servindo para fazer o povo se voltar para o seu Deus. Portando, esse mal atual vivenciado pelo povo, é um bem, porque foi usado para corrigi-lo e o fazer voltar para o seu Deus.
Caríssimo Lailson, meu nome é Patrício e gostaria de, primeiramente, parabenizar o seu blog. Me alimento muito do conteúdo que você posta, fico feliz de ver pessoas que lutam para divulgar a teologia da graça.
ResponderExcluirEu gostaria de saber, prezado, qual sua posição, e seu comentário a respeito da TEOLOGIA DIALÉTICA de Karl Barth.
Apesar de eu considerar o arminianismo mais próximo da verdade do que o calvinismo, eu acho que as duas cosmovisões erram quando se tratam de eleição. Minha visão da mesma tem o foco diretamente em Cristo.
Gostaria de expor os argumento de Barth para que, se possível, você analisasse e comentasse:
"De acordo com a Sagrada Escritura, a eleição de Deus em graça é um determinado e esboçado agir divino que tende para um alvo, cujo objetivo direto e próprio de modo nenhum é a pessoa individual como tal, mas sim uma pessoa singular – e somente nessa pessoa singular o povo é chamado e comprometido (por intermédio dessa pessoa), e só então, nessa coletividade, é que os indivíduos são incluídos para um relacionamento pessoal com Deus. Somente naquela Pessoa singular (Jesus Cristo) é que a determinação divina corresponde a uma certeza para o ser humano. Em seu sentido rigoroso, somente Cristo pode ser entendido a caracterizado como ‘eleito’ (e ‘rejeitado’). Todos os outros são eleitos (ou rejeitados) em Cristo e não em sua própria individualidade."
A teologia deve começar com Cristo. Mas não basta ter Cristo como ponto de partida. A reflexão teológica também deve ter Cristo como centro. Este procedimento também deve nortear a reflexão a respeito da predestinação.
Jesus Cristo é a Palavra que estava com o Pai e que se tornou ser humano (Jo 1:1-4). "Eleitos em Cristo - para entendê-lo, precisamos voltar primeiramente ao mistério central da mensagem cristã, qual seja a encarnação." (Barth) Os primeiros concílios da cristandade enfatizaram que Cristo é Deus-Homem.
A predestinação subentende que Deus é o sujeito, que elege e escolhe o ser humano. Na condição de Deus-Homem, Cristo é o Deus que escolhe o homem eleito. E Cristo também é o Homem-Eleito. O conceito Homem-Eleito é essencial e decisivo para a compreensão da predestinação. Mas este conceito não tem sido devidamente considerado pelos teólogos que antecederam Barth.
Jesus Cristo é o Homem-Eleito escolhido por Deus "antes de toda realidade criada, antes de todo ser e devir do tempo, antes do próprio tempo, na pré-temporal eternidade de Deus, a eterna decisão divina tem como objeto e conteúdo a existência deste específico ser, o homem Jesus de Nazaré, e a obra deste homem em sua vida e morte, sua humilhação e exaltação, sua obediência e mérito." (Barth)
Em resumo: Jesus Cristo é o Deus que elege e é, ao mesmo tempo, o Homem-Eleito!
A partir de Jesus Cristo foi destruída, cancelada e eliminada a doutrina tradicional do decretum absolutum - que formulava a existência de uma vontade secreta e não revelada da parte de Deus.
A eterna vontade de Deus é a eterna vontade revelada em Cristo. Ou nós nos relacionamos com o Deus revelado em Jesus Cristo, ou nós estamos lidando com um ídolo. Jesus Cristo foi revelado e não guardado em segredo. Jesus Cristo expulsou o decretum absolutum.
Barth observa que "em última análise, Calvino rasgou Deus e Jesus Cristo em duas entidades separadas."
Jesus Cristo é o Deus que elege. E é também o Deus conosco (Emanuel). Logo, o Deus que elege, posiciona-se a nosso favor - ele é por nós! Assim sendo, a vida e a morte de Jesus Cristo são a garantia de que nós somos eleitos!
Companheiro Patrício, saúde.
ResponderExcluirGosto muito da visão soteriológica da TEOLOGIA DIALÉTICA. Entendo com Barth - ser Cristo o grande protagonista da eleição. Essa visão é respaldada nas Escrituras, como podemos aprender com o apóstolo Paulo:
Porque o amor de Cristo nos constrange, julgando nós assim: que, se um morreu por todos, logo todos morreram.
E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou.
(2 Cor 5.14, 5)
É importante o destaque: UM MORREU POR TODOS. Nesse um (Cristo), que morreu por todos, vemos todos eleitos. Porém, essa eleição tem de ser confirmada, como Paulo exorta em várias passagens. Um morreu por todos, porém, os que vivem não devem mais viver para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou..
Arminius também buscava colocar Cristo como centro da salvação. Ele afirma:
“A fé evangélica é um assentimento da mente, produzida pelo Espírito Santo, por meio do evangelho, nos pecadores, que, através da lei, conhecem e reconhecem seus pecados, e são penitentes por conta deles, por que eles não estão apenas totalmente convencidos dentro de si que Jesus Cristo foi constituído por Deus, o autor da salvação àqueles que lhe obedecem, e que ele é seu próprio salvador se eles crerem nele, e pelo qual também acreditam nele como tal, e através dele em Deus como o Pai benevolente nele, para a salvação dos crentes e para a glória de Cristo e de Deus. IV. O objeto da fé não é apenas o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, mas também o próprio Cristo constituído por Deus, o autor da salvação para aqueles que lhe obedecem”.
É importante destacarmos a afirmação: “O objeto da fé não é apenas o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, mas também o próprio Cristo constituído por Deus, o autor da salvação para aqueles que lhe obedecem”.
Nesse destaque percebemos a centralidade de Cristo, também, na soteriologia arminiana.
Versando sobre a predestinação, Arminius afirmou:
ResponderExcluir“O primeiro decreto sobre a salvação dos pecadores, como aquele pelo qual Deus resolve nomear seu Filho Jesus Cristo como Salvador, Mediador, Redentor, sumo sacerdote, também aquele que pode expiar os pecados, e, pelo mérito de sua própria obediência pode recuperar os perdidos a salvação, e dispensá-los pela sua eficácia.
O segundo decreto é aquele pelo qual Deus resolve receber em favor aqueles que se arrependem e creem, e, para salvar em Cristo, por causa de Cristo e por Cristo, os que perseveram, mas para deixar debaixo do pecado e da ira aqueles que são impenitentes e incrédulos, e condená-los como estrangeiros de Cristo”.
Aceitando a nomeação do Filho, pelo pai, como: “Salvador, Mediador, Redentor, sumo sacerdote” -, e que “pelo mérito de sua própria obediência pode recuperar os perdidos a salvação” percebe-se mais uma vez a centralidade de pessoa de Cristo no processo da salvação.
Admitindo como decreto “aquele pelo qual Deus resolve receber em favor aqueles que se arrependem e creem, e, para salvar em Cristo, por causa de Cristo e por Cristo, os que perseveram” percebe-se novamente, na teologia arminiana, a pessoa de Cristo como fundamento da Eleição.
Voltando à Barth, segundo destaca o Dicionário de Teologia Vida, “outros teólogos (como Karl Barth) tentam evitar o debate calvinista-arminiano, fazendo supor que a eleição de Deus, é antes de tudo, uma eleição em Cristo e não uma eleição de indivíduos para a salvação. Fazendo apontamentos sobre a maneira de Barth compreender a eleição, a revista PUC assevera: O ser humano é o ser eleito para o relacionamento com Deus. Isto acontece unicamente pela graça. (PUC-RIO). A ideia de barthiana de o homem - ser eleito para o relacionamento com Deus, está em sintonia com o apóstolo Paulo em sua assertiva: “E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou.” - e também corrobora Arminius, em sua afirmação: o segundo decreto é aquele pelo qual Deus resolve receber em favor aqueles que se arrependem e creem, e, para salvar em Cristo, por causa de Cristo e por Cristo, os que perseveram.
Apesar de enfatizar o termo eleição, não tão destacado em Arminius, gosto do entendimento soteriológico barthiano, entendendo não haver um significativo distanciamento da percepção da salvação do arminianismo de Arminius.
Outro destaque se faz importante: a teologia de Barth é acusada de universalismo, por colocar a eleição de Cristo como eleição do homem em Cristo. Porém, um barthiano pode se safar dessa acusação (se achar necessário) ressaltando com Paulo que apesar de a humanidade ser eleita em Cristo, faz-se necessário que os homens não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou. A eleição deve ser confirmada, isso o apóstolo destaca nas Escrituras, e a confirmação se dá nos termos destacados no verso bíblico a pouco citado.