quarta-feira, 20 de julho de 2011

O amor, o temor, a confiança e a honra que são devidos do homem para Deus.

Disputa 72.
O AMOR, O TEMOR, A CONFIANÇA E A HONRA QUE SÃO DEVIDOS DO HOMEM PARA DEUS.


Jacobus Arminius.

I. Estes atos em geral podem ser considerados tanto no primeiro ato, ou no segundo. No primeiro, eles aparecem sob a denominação de afeto, no segundo, eles conservam neles o apropriado nome dos atos. Mas em consequência da íntima união e acordo de natureza entre um afeto e um segundo ato, amor, medo, confiança e honra, recebem a mesma denominação de "um afeto", e um ato".

II. O amor a Deus é um ato obediente do homem, pelo qual ele prefere consciente e voluntariamente, antes de todas as outras coisas, a união de si mesmo com Deus e obediência à lei divina, à qual é subjuntado um ódio de separação e de desobediência.

III. O temor de Deus é um ato obediente do homem, pelo qual ele consciente e voluntariamente teme antes de todas as coisas e evita a desagradar a Deus, (que é colocado na transgressão dos seus mandamentos,) sua ira e repreensão e alguma [sinistra] estimativa nefasta dele para não ser separado de Deus.

IV. Confiança em Deus é um ato obediente do homem, pelo qual ele consciente e voluntariamente repousa em Deus somente, certamente esperando e esperando dele todas as coisas que são salutares ou salvadoras, no qual também compreende a remoção de males.

V. A honra de Deus é um ato obediente do homem, pelo qual ele conscientemente e voluntariamente retribui a Deus gratidão por suas virtudes excelentes e atos.

VI. O objeto primário de todos esses atos, como eles são prescritos pela lei e é dever do homem, é o próprio Deus, porque, por qualquer outra coisa que estes atos devam ser realizados, eles devem ser executados por conta de Deus e através de seu mandamento, caso contrário, ninguém pode realmente chamá-los de "bom".

VII. A razão formal do objeto, isto é, por que esses atos podem e devem ser realizados para Deus, é, a sabedoria, bondade, justiça e poder de Deus, e os atos praticados por ele de acordo com e através deles. Mas permitamos que isso seja objeto de uma piedosa discussão, - qual destes, ao exigir atos simples, obtém precedência, e o que deles seguem?

VIII. A causa imediata desses atos é o homem, de acordo à sua compreensão e inclinação, bem como a liberdade de sua vontade, não como o homem é natural, mas como ele é espiritual, novamente formado após a vida de Deus.

IX. A causa principal é o Espírito Santo, que infunde no homem, pelo ato da regeneração, os afetos do amor, medo, confiança, honra e, através da graça excitante que move e o incita a atos segundos, e por meio da cooperação da graça, contribue com o próprio homem para produzir tais segundos atos.

X. A forma desses atos é que devem ser feita através da fé, e de acordo com a lei de Deus. Seu fim é que sejam realizados para a salvação dos próprios trabalhadores, para a glória de Deus, e para o benefício e confirmação de outros.

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Works of James Arminius Vl.2
http://www.ccel.org/ccel/arminius/works2.pdf
Tradução: Lailson Castanha

Gravura: Jacobus Arminius

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Avivamento à moda wesleyana


Avivamento à moda wesleyana

Por José Ildo Mello*

“É chegado o Reino de Deus!” (Mt 12.28)

Wesley ensinava que pregar não é dominar certas técnicas, mas o ser dominado por certas convicções.

Vamos começar com o exame Mateus 13.31-32:

O reino dos céus é semelhante a um grão de mostarda que um homem tomou e semeou no seu campo: Qual é realmente a menor de todas as sementes, mas quando ele é cultivado, é a maior das hortaliças e torna-se uma árvore , de modo que as aves do céu vêm e se aninham nos seus ramos.”

Há alguns anos atrás, um pastor de outra denominação foi convidado para pregar em uma reunião especial sobre a missão da conferência no Brasil. Sabendo que o nosso lema para aquele ano era "oração e ação por um mundo melhor", ele começou seu discurso dizendo: "Oração e ação: sim, mas mundo melhor: não!" E continuou dizendo que não devemos nutrir esperança a respeito de melhoras das condições de vida deste mundo antes da Segunda Vinda de Jesus. Para ele, a missão da Igreja é como a arca de Noé, em outras palavras, limitada apenas a pregar o Evangelho para a salvação das almas.

Esta teologia faz dos pregadores agoureiros do fim, sob o pressuposto de que quanto pior melhor, por significar que Jesus está voltando. Este ponto de vista ensina que o Reino de Deus será inaugurado no futuro, de forma radical e abrupta, por ocasião da Segunda Vinda de Jesus. Comodismo e escapismo são conseqüências inevitáveis.

Mas, tal perspectiva não encontra respaldo nos ensinos de Jesus e seus apóstolos. Jesus contou uma série de parábolas referentes ao Reino de Deus (Mateus 13). Em todas elas, observasse uma clara alusão ao contexto atual. Nenhuma delas se encaixa bem numa perspectiva futurista do Reino. Vejamos, por exemplo, o que Jesus diz a respeito da natureza do Reino de Deus na Parábola do Grão de Mostarda.

Vemos aqui, que Jesus está ensinando que a manifestação e o estabelecimento do Reino de Deus é um processo lento e gradual, com um início pequeno e modesto. Não sendo em nada parecido com uma abrupta erupção vulcânica, pois o Reino se assemelha a uma semente de mostarda em seu processo gradual de crescimento. Algo como aquele pequeno grupo de discípulos no início da Igreja! Não despreze o poder desse "pequeno grão de mostarda!", porque ele está destinado a crescer e a influenciar como sal da terra e luz do mundo! A presença da Igreja na Terra visa promover luz, esperança, justiça e vida. "Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus" (Mateus 5,13-16).

O Reino de Deus já foi inaugurado neste mundo e está em processo de expansão. Jesus disse: "mas se eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus, então o reino de Deus é chegado a vós" (Mateus 12:28). Como cristãos, temos de convir que Jesus estava expulsando demônios pelo Espírito de Deus, que, de acordo com as palavras de Jesus, é um sinal de que o Reino de Deus chegou até nós. Observe que Jesus estava falando sobre o Reino de Deus em termos da presente era: aqui e agora! No versículo 29, Jesus continua este raciocínio com uma pergunta: "como pode alguém entrar na casa de um homem valente, e furtar os seus bens, se primeiro não amarrar o valente? E então roubará a sua casa". O que Jesus está dizendo aqui não lança luz sobre o controverso texto de Apocalipse 20 que fala sobre a prisão de Satanás? Também no que diz respeito à interpretação do Apocalipse 20, temos Efésios 1.20-23 e 2.6, que diz: "... Esse poder ele exerceu em Cristo, ressuscitando-o dos mortos e fazendo-o assentar-se à sua direita, nas regiões celestiais, muito acima de todo governo e autoridade, poder e domínio, e de todo nome que se possa mencionar, não apenas nesta era, mas também na que há de vir. Deus colocou todas as coisas debaixo de seus pés e o designou como cabeça de todas as coisas para a igreja,que é o seu corpo, a plenitude daquele que enche todas as coisas, em toda e qualquer circunstância... Deus nos ressuscitou com Cristo e com ele nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus".

Voltemos agora para Mateus 12:28-29, note que Jesus estava expulsando demônios. Ele estava saqueando os bens da casa do homem valente. O que é possível porque Jesus, em primeiro lugar, havia tido o cuidado de amarrar o tal valente. Este é um nítido retrato de que o Reino de Deus foi inaugurado por ocasião da Primeira Vinda de Cristo. Jesus disse: “Chegou a hora de ser julgado este mundo; agora será expulso o príncipe deste mundo” (João 12:31).

Satanás está amarrado no sentido de não poder mais continuar enganando as nações como fazia até o nascimento do Cristo (Ap 20). “A luz brilha nas trevas, e as trevas não a derrotaram” (Jo 1.5). Ser amarrado, não significa que Satanás não continua a exercer certo poder e influência neste mundo. Mas significa que ele foi ferido mortalmente pelo nascimento, vida, morte e ressurreição do legítimo Rei deste mundo, o Senhor Jesus, que se manifestou neste mundo para destruir as obras do diabo (1 Jo 3.8), de modo que as portas do inferno não tem poder para impedir o sucesso da missão da Igreja de resgatar vidas, fazendo discípulos de todas as nações, promovendo a justiça e o bem como sal da terra e luz do mundo.

Há diferença entre batalha decisiva e batalha final como se viu na história do desfecho da Segunda Guerra Mundial, cuja batalha decisiva tornou-se conhecida como o "Dia D". Depois daquele dia, embora os exércitos inimigos continuassem a insistir na luta, nada mais poderiam fazer para evitar a derrota final, por terem sido feridos mortalmente.

Para o Apóstolo Paulo, a Batalha Decisiva de Cristo contra Satanás e todas as forças do mal foi travada na Cruz: "e, tendo despojado os poderes e as autoridades, fez deles um espetáculo público, triunfando sobre eles na cruz" (Co 2.15). Esta foi a batalha mais importante de todas, pois é ela que garante o sucesso da Batalha Final do Armagedom que acontecerá por ocasião da Segunda Vinda de Cristo, quando o anticristo será destruído com um sopro apenas da boca do Rei Jesus (2 Ts 2) e quando todo joelho se dobrará e toda língua confessará que Jesus é Senhor! A Primeira Vinda trouxe a presença do Reino e a Segunda Vinda trará a plenitude dele.

Satanás está preso no sentido de que ele não tem poder e nem liberdade de ação a ponto de bloquear o progresso da missão da igreja. Jesus disse: "Sobre esta pedra edificarei a minha igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela" (Mt 16.18). Satanás continua fazendo grande oposição ao reino de Jesus, mas seu poder está agora restrito ao ponto de que as portas do inferno não prevalecerão contra a missão da Igreja. Além disso, Jesus disse que o Evangelho do reino, necessariamente, teria de ser pregado no mundo inteiro, em testemunho a todas as nações antes do fim (Mateus 24.14). E o Livro de Apocalipse revela que nos céus haverá uma multidão incontável de salvos provenientes de todos os povos, línguas e nações (Ap 6 e 7). Isso significa que a igreja será bem sucedida em sua Grande Missão.

E em outro texto, os discípulos compartilhavam com Jesus da alegria de terem sido capazes de subjugar os demônios. "E Jesus disse-lhes: Eu via Satanás, como raio, cair do céu. Eis que vos dou poder para pisar serpentes e escorpiões, e sobre todo o poder do inimigo, e nada vos fará dano algum (Lc 10.18,19).

Mas alguém pode alegar que não consegue enxergar que Satanás esteja de fato amarrado e nem que Jesus esteja reinando. O autor de Hebreus trata desta questão em Hebreus 2:7,8, onde, por um lado, ele reconhece que todas as coisas já estão debaixo dos pés de Jesus, mas, em segundo lugar, ele confessa que ainda não vemos todas as coisas a ele sujeitas. Esta aparente contradição tem a ver com o que foi dito acima sobre a tensão natural que existe entre a batalha decisiva e a batalha final, entre o já e o ainda não.

Cristo já triunfou na cruz (Colossenses 2:15), mas a batalha final ainda está por vir, quando a morte, o último inimigo, será colocada sob os pés do Senhor (1 Coríntios 15. 25-26). Até lá, temos de lutar o bom combate (2 Timóteo 4:7).

Paulo, em 1 Coríntios 15. 25-26 e 54-55, partilha do mesmo ponto de vista de Jesus sobre a manifestação paulatina do Reino de Deus durante o período que vai da Primeira até a Segunda Vinda de Cristo. Neste texto, não há como evitar a conclusão de que este período em que Jesus "deve reinar até que tenha posto todos os inimigos debaixo dos seus pés" seja entendida em termos da presente época, antes da Segunda Vinda de Jesus, porque é apenas na Sua Segunda Vinda que a morte, o último inimigo, será destruída. Observe que a Segunda Vinda de Jesus marca o ápice e não o início do Reino de Jesus neste mundo.

Paulo diz que os crentes já foram transladados para o Reino de Cristo: "Porque ele nos resgatou do domínio das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor" (Cl 1.13). E, não devemos esquecer também de que a declaração mais primitiva e fundamental da fé cristã é "Jesus é o Senhor". É Senhor já no presente e não o será apenas no futuro. Isto tem muitas implicações, tanto sociais como também políticas. Assim, muitos cristãos morreram por causa desta "mera" confissão. Pois significa mais do que dizer que Jesus é o Senhor da minha vida, significando também que Ele é o Senhor de todo o mundo. É por isso que ele é chamado de o Rei dos reis!

O que buscamos quando fazemos a oração que Jesus nos ensinou: "Venha o teu reino. Sua vontade seja feita na terra como no céu"? Algo para o aqui e agora nesta época ou algo apenas para o futuro, para depois da Segunda Vinda de Cristo? O que significa buscar em primeiro lugar o Reino de Deus e a Sua Justiça (Mt 6.33)? O que um cristão deve fazer com a fome e sede de justiça que devem caracterizar um filho de Deus (Mt 5.6)? As bem-aventuranças são para agora ou apenas para uma era futura?

John Wesley era otimista quanto à suficiência do poder da graça de Jesus não só para nos perdoar os nossos pecados, mas também para nos purificar de toda injustiça e para transformar as pessoas em novas criaturas, capacitando-as a serem imitadoras de Deus como filhos amados.

Mas Wesley não parou por aí, ele também acreditava na competência desta graça de transformar o mundo. Wesley disse: “Dá-me cem homens que nada odeiem senão o pecado, que nada temam senão Deus e que nada busquem senão almas perdidas, e eu transformarei o mundo em chamas”. E o Dr. Howard Snyder em “O Wesley Radical”, declara que" Wesley viu tamanho poder na graça de Deus, que não se pode estabelecer limites ao que o Espírito de Deus pode realizar através da Igreja na era presente. Mas essa ênfase deve ser combinada com as advertência de julgamento e castigo eterno. A confiança precisa ser otimista e também realista. O trigo cresce, mas o joio também. A ciência se desenvolve, mas a iniqüidade também. As portas do inferno não prevalecem contra o avançar da Igreja, mas não quer dizer que estejam inoperantes.

Falando sobre o realismo do ponto de vista pós-milenista de Wesley , vamos olhar mais uma vez o texto da parábola do grão de mostarda. Quando a semente se torna uma árvore, as aves vêm e se aninham nos seus ramos. Note que a parábola do Semeador no mesmo capítulo fala sobre as aves vindas de comer a semente. Os pássaros não parecem representar algo bom, pelo menos neste contexto. As aves, nestas duas parábolas do reino, não pertencem à semente ou à árvore. As aves são motivadas por interesses mesquinhos. Eles querem destruir a semente quando ela é pequena e querem associar-se a ela quando ela transforma-se em uma árvore frondosa para poder tirar partido de sua sombra e frutos. A história da igreja mostra exatamente isso, pois ela foi terrivelmente perseguida no começo quando era apenas um pequeno grupo, mas, quando se tornou grande, os "pássaros" buscaram associar-se a ela. Quanto joio há no meio do trigo.

Jesus continua o seu ensinamento sobre a natureza de seu reino nesta época dizendo que o reino de Deus cresce como uma boa semente, mas o inimigo planta ervas daninhas. Isso aponta para a existência de um conflito entre as forças do bem e do mal, em que o inimigo está tentando obstruir a expansão do Reino de Deus. Esta guerra vai continuar a existir até a última batalha, quando o último inimigo será colocado sob os pés de Jesus (1Co 15.25).

Wesley não ignorou as profecias que falam sobre a grande angústia, a apostasia de muitos cristãos e que descrevem também aumento da maldade nos finais dos templos, mas viu essas profecias combinados no mesmo contexto em que Jesus também diz que a igreja será bem sucedida no cumprimento de sua missão, pois "este evangelho do reino será pregado no mundo inteiro, em testemunho a todas as nações, e então virá o fim" (Mateus 24.14). Mas o realismo de Wesley não diminuiu sua motivação nem o seu otimismo que tanto o moveu a ação em favor do Reino de Deus. Ele nunca perdeu seu idealismo com base em sua confiança no poder de Deus para a santificação e transformação pessoal e social. Sua escatologia não permitiu que ele ficasse parado em uma posição de mera contemplação. "Por que vocês estão olhando para o céu?" Perguntou aos anjos aos discípulos em Atos 1.10. A escatologia de Wesley não era especulativa e não se prestava para satisfazer a curiosidade. Wesley não apenas olhava para a frente para contemplar o dia do Senhor, mas ele também trabalhou muito para acelerar a chegada deste grande dia, seguindo a recomendação do Apóstolo Pedro em sua segunda carta que nos exorta a aguardar e a apressar a Segunda Vinda de Cristo (2 Pedro 3). Wesley sabia que a segunda vinda de Jesus estava ligada ao cumprimento da missão da igreja. "O Senhor não retarda a sua promessa, como alguns a julgam demorada. Ele é paciente com você, não querendo que ninguém pereça, mas que todos cheguem ao arrependimento " (2 Pe 3).

Wesley viu que o Novo Testamento combina o evangelismo e as dimensões profética do Evangelho em um mesmo pacote. Não houve separação entre salvação pessoal e engajamento social. Wesley concordava com Paulo em que a fé que salva é a fé que se manifesta através do amor (Gálatas 5.6).
Nós somos enviados em missão a este mundo como o Pai que enviou Jesus (João 20:21). "O Filho de Deus se manifestou para destruir as obras do diabo" (1 João 3:8). E nós sabemos "como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com poder: que andou fazendo o bem e curando todos os oprimidos do diabo, porque Deus estava com ele" (Atos 10:38). Jesus não estava apenas preocupado com as almas, mas ele também mostrou preocupação significativa com a pessoa como um todo. Seu ministério de compaixão não foi usado como uma isca para pescar almas, pois uma boa parte daqueles que foram curados por Jesus acabou por não segui-lo. Alguns deles nem sequer voltaram a ele para agradecer. Isso mostra que o ministério de compaixão tem valor em si mesmo, porque ele pertence à natureza real do Reino de Deus que é amor! E é da natureza deste amor fazer o bem! Jesus não pode negar a si mesmo. Tão pouco nós que somos seus seguidores.


Wesley era um homem de convicção. Para ele, a teologia e a prática eram realmente um! Como o Dr. McKenna disse em seu livro "Que tempo para ser um Wesleyano!: "Como conseqüência lógica da doutrina arminiana da expiação ilimitada, Wesley pregou os direitos naturais e sociais de todos os homens". Assim, Wesley se atreveu a acreditar que o mundo poderia ser melhorado pela graça de Deus. Imagine quanta fé e coragem foram necessário para Wesley decidir trabalhar para acabar com um mal milenar tão terrível como era a escravidão. Utopia? A última carta que John Wesley escreveu foi para William Wilberforce, um discípulo de Wesley que era um membro do Parlamento inglês. A carta manifestava a sua oposição à escravidão e incentivava Wilberforce perseverar firme em sua luta contra a escavidão. O Parlamento finalmente proibiu a participação da Inglaterra no comércio de escravos em 1807. O status quo não tem a última palavra! As trevas não podem contra a luz de Cristo (Jo 1.5) Há esperança para o mundo, pois Jesus amou o mundo de tal maneira (Jo 3.16)!

Quem sabe o que poderia ter acontecido se a Igreja Metodista não tivesse entrado declínio espiritual algumas décadas após a morte de Wesley? Talvez, o contexto tivesse sido outro a ponto de desencorajar Karl Marx a dizer: "A religião é o ópio do povo". Quem pode dizer quantas guerras, quanto o racismo e quantas injustiças sociais poderiam ter sido evitadas se a igreja sempre fosse fiel às exigências do Evangelho?

Estamos vivendo em um mundo materialista. Satanás é o Senhor do materialismo. Paulo disse: "Porque o amor ao dinheiro é a raiz de todo mal" (1 Timóteo 6:10). Somos constantemente bombardeados pela mídia que nos incita a nos conformarmos com um modo de vida onde os homens trabalham para ganhar, ganham para comprar, e compram para provar seu valor. Preocupações sobre a ascensão social, com o consumo, com o bem estar existencial têm restringido um profundo compromisso das pessoas com a vontade de Deus. A Bíblia diz: "Não ameis o mundo" (1 Jo 2.15). E "Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente"(Romanos 12.2). "Não ajunteis para vós tesouros na terra ... Ninguém pode servir a dois senhores" (Mateus 6.19,24). A teologia da prosperidade é apenas uma manifestação extrema desse grande problema da falta de visão do Reino de Deus entre os evangélicos. Parece que perdemos a mentalidade peregrina.

E a resposta para esse problema está em um verdadeiro reavivamento que encha os nossos corações com amor e nos mova a um estilo de vida simples a fim de dar mais e mais para os pobres e para a missão da igreja. Um avivamento que nos faça buscar o seu reino e a justiça de Deus em primeiro lugar. Como uma pequena semente, este reavivamento pode começar com uma pessoa ou com um pequeno grupo de discípulos dispostos a obedecer a todos os mandamentos do Senhor.

Para Wesley a generosidade é a prova final da vida cheia do Espírito. Pois a graça recebida deve se transformar espontaneamente em graça repartida, se não, corre o risco de ser cancelada pelo Rei (Mateus 18.25-34). Contra a corrupção social muito grande da Inglaterra, Wesley viveu o fruto do Espírito. Embora tenha se tornado um dos homens mais ricos da Inglaterra, viveu anualmente com apenas 28 Libras até sua morte, entregando o restante para os pobres.

A terrível pobreza que campeia este mundo coloca uma interrogação sobre o estilo de vida de muitos cristãos. Temos que seguir o exemplo de Jesus, dos apóstolos, de Wesley e Asbury, entre outros. O estilo de vida simples e a prática da caridade como bons despenseiros da multiforme graça de Deus é o que pode impactar o mundo. Note que o sinal da salvação de Zaqueu foi que ele, espontaneamente, decidiu partilhar o seu dinheiro (Lc 19). Em contrapartida, a ambição pelo dinheiro foi o sinal da condenação do Jovem Rico (Mc 10). O sinal mais contundente de Pentecostes foi que a multidão dos discípulos mostrava amor e cuidado uns para com os outro. "Eles tinham tudo em comum. Vendiam suas propriedades e bens e os repartiam por todos, de modo que não haviam necessitados entre eles " (At 2). Seria o Evangelho, boa notícia para os pobres apenas em termos da promessa de vida eterna no céu? Não estavam os pobres da igreja primitiva experimentando também os primeiros frutos da justiça do Reino? Lembre-se que o ano do Jubileu era uma boa notícia para os pobres (Lv 25); Somente o Senhor Jesus, através do Seu Espírito derramado sobre a Igreja, foi capaz de cumprir o ano do Jubileu (At 2). Mas, seria isto impossível hoje em dia? "O que é impossível para o homem, é possível para Deus!" (Mc 10.27).

Portanto, precisamos de um reavivamento! Reavivamento é a redescoberta de valores e princípios originais. Temos de olhar para trás para ver se existem alguns valores que foram esquecidos.

Além de tudo o que foi dito aqui, eu gostaria de chamar a atenção para a importância de pequenos grupos no desenvolvimento do caráter cristão de santificação e de outros valores do reino de Deus, que devem ser cultivados na comunidade de convertidos que desejam seguir os passos de Cristo. O homem é um ser social. Um influencia o outro, principalmente pelo exemplo. O poder da cultura costumava ser maior do que o poder de nossas convicções pessoais. Se queremos mudar as pessoas e a sociedade, temos de desenvolver pequenos grupos, onde se possa provar a bondade da palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro. Mas, de um modo em geral, o Metodismo foi perdendo essa visão que era tão vital para Wesley. Nós negligenciamos nosso precioso legado. Hoje, para nossa vergonha, outras igrejas cristãs estão redescobrindo a importância dos pequenos grupos. Pequenos grupos nos ajudam a lembrar que o reino dos céus é semelhante a um grão de mostarda! O poder do progresso e do impacto destes microcosmos é impressionante! Esta é a estratégia do Reino!

Um reavivamento produz crescimento. A informalidade e o dinamismo espiritual do movimento Wesleyano levou a igreja Metodista a crescer de 15.000 membros em 1780 para 1.360.000 membros em 1850, tornando-se a maior denominação em solo americano, seguidos pelos batistas, com 800.000, e pelos presbiterianos, 460.000, e anglicanos, com 200.000.

Precisamos voltar às nossas raízes, nós precisamos de um reavivamento ao estilo Wesleyano para experimentar o que eles experimentaram e produzir frutos semelhantes aos que produziram. Mas avivamentos não são mais que costumavam ser. Eles foram transformados em campanhas evangelísticas e em cultos carregados de puro emocionalismo, onde reina o egocentrismo, o individualismo e o estrelismo. Avivamentos fracos em conteúdo bíblico, capengas em termos de profundidade profética, escondendo o preço do discipulado, numa tentativa de agradar o cliente. Dizem o que as pessoas querem ouvir e não aquilo que elas precisam escutar. Pouco ou nada falam sobre a gravidade do pecado e a necessidade de arrependimento e de santificação. Avivamentos inócuos no sentido de conduzir o indivíduo a negar a si mesmo a fim de colocar-se inteiramente sob o senhorio de Jesus Cristo. Convidam as pessoas a mera decisão de "aceitar a Cristo". E, para entornar o caldo, propõem isto como um meio de se obter uma vida boa e próspera, apelando para a sedução das riquezas, da fama e do poder. Ignoram a mensagem da cruz. Para estes a cruz é algo que pertence exclusivamente a Cristo e não tem nada a ver com o cristão. O Deus destes é o Deus da "graça barata", o Deus que sempre dá, sem jamais requerer nada. Um Deus criado a imagem e semelhança daqueles que são incapazes de negarem-se a si mesmos. Estão enfatizando a fé em detrimento do amor. Estão querendo fazer de Deus uma espécie de gênio da lâmpada de Aladim, um meio para obtenção de suas ambições egoístas. Estão pregando um outro evangelho que mantém os homens escravizados ao deus deste século e conformados com os valores deste mundo.

Precisamos de um avivamento do tipo wesleyano, que nos leve a uma missão integral e que nos impulsione a viver e pregar os ensinamentos de nosso Senhor. Um reavivamento que nos impeça de nos preocuparmos apenas com a salvação das almas e de ignorarmos as necessidades físicas das pessoas. Precisamos de um avivamento que não só promova a reconciliação entre o homem e Deus, mas também entre o homem e o seu próximo. Um reavivamento que promova o arrependimento, não o alívio emocional e psicológico de uma consciência culpada, mas a aceitação da cruz como uma verdadeira morte para este mundo com o propósito de viver para Deus. Se Jesus é o Senhor, então as pessoas devem ser confrontadas com a sua autoridade sobre a totalidade da vida.

Quando eu leio sobre o que Deus fez nos tempos de Wesley, sou tomado por uma sensação de fracasso. Não por ignorar os frutos ministeriais até o presente, mas por perceber que o Senhor poder e quer realizar muito mais que isto. Mas "eu ainda tenho um sonho!" Porque nós temos esse maravilhoso legado, me atrevo a sonhar em tomar parte em um grande avivamento, o maior em toda a história da igreja, o derradeiro antes do Grande Dia do Senhor. Um avivamento à moda antiga que venha impactar este mundo com o poder do santo Evangelho de Jesus!

A experiência de Wesley nos ensina que avivamento é precedido de um sentimento de frustração, fracasso e tristeza, daquele tipo, segundo Deus, que nos leva ao arrependimento. Wesley teve tristeza por causa do seu estado espiritual, por causa também da situação de carnalidade da igreja anglicana, por causa do estado de degradação moral e de injustiça de seu país e do mundo. Aqui no Brasil temos vitórias para celebrar, o que pode nos atrapalhar na busca de um genuíno avivamento. Uma bênção pode ser tornar em maldição quando nos leva a acomodação. Avivamento não se fabrica, não é produto de marketing e nem de planejamento estratégico. “Se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar e orar, buscar a minha face e se afastar dos seus maus caminhos, dos céus o ouvirei, perdoarei o seu pecado e curarei a sua terra” (2 Cr 7:14)

A solução passa pela pregação de todo o conselho de Deus de maneira convicta, acompanhada da encarnação e vivência da mensagem que se prega. Tal pregação acompanhada de exemplo pode levar os homens a sentirem aquela tristeza segundo Deus que os leva ao genuíno arrependimento. Serve como uma voz profética em meio ao deserto que prepara o caminho do Senhor.

Que tal se Wesley estivesse vivo nos dias de hoje! Talvez alguém sugira a possibilidade de fazermos um clone dele. Mas não seria uma boa idéia fazer um clone de Wesley. Além das implicações éticas da clonagem, sabemos que o segredo da vida de Wesley não estava em seus genes e nem mesmo em sua excelente educação familiar e formação acadêmica. Precisamos lembrar que, com tudo isto, Wesley falhou em sua primeira missão para a América. O segredo de seu fecundo ministério foi a experiência espiritual que mudou a sua vida e o mundo ao seu redor. O Deus que se moveu notavelmente no passado ainda está no seu trono. "Senhor, ouvi falar da tua fama; temo diante dos teus atos, Senhor. Realiza de novo, em nossa época, as mesmas obras, faze-as conhecidas em nosso tempo..." (Habacuque 3.2). Ó Senhor, reaviva a tua obra em nossos dias! "Realiza de novo, Senhor!"

*Bispo José Ildo Swartele de MelloCasado com Ana Cristina, pai de três filhos: Samuel, Daniel e Rafael, é também Professor de Teologia, Escatologia e Evangelização na Faculdade Metodista Livre. Formado em Bacharel pela Faculdade Metodista Livre, cursou Mestrado em Teologia na Faculdade Teológica Batista de São Paulo e fez Doutorado em Ministério na Faculdade Teológica Sul Americana. Pastor desde 1986 (Cidade Ademar 86-88; Vila Guiomar 89; Vila Bonilha 90-97, Aeroporto 98-2004), serve atualmente como Pastor da Imel de Mirandópolis, como Bispo da Igreja Metodista Livre do Brasil e como presidente do Concílio Mundial de Bispos.
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Vídeo desta mensagem: http://youtu.be/w8bEqmx1lSc
Saiba mais sobre o assunto em: http://escatologiacrista.blogspot.com/p/o-milenio-apocaliptico.html

Para acompanhar e saber um pouco mais sobre Bispo Ildo Melo, sua trajetória e suas atividades na web acesse:
Bispo Ildo Mello na Internet.
Igreja Metodista Livre:
http://metodistalivre.org.br/

Vídeos: http://youtube.com/ildomello
Novo Canal de Vídeos:
http://vimeo.com/channels/mensagem
MP3:
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Estudos:
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Imagem: John Wesley

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Seria Deus imutável, impassível e atemporal? (parte II)


Seria Deus imutável, impassível e atemporal? (parte II)

Debate entre teísmo tradicional e a teologia do processo

Por Bispo Ildo Mello*

QUESTÕES:1. Pode Deus ser perfeito e mutável ao mesmo tempo?
2. Negar a imutabilidade implica na crença de que Deus esteja em processo de evolução?
3. Como a cosmovisão pode afetar nosso conceito de Deus?
4. Que tipo de relacionamento Deus tem com os homens?
5. Deus é afetado positiva e/ou negativamente pelo que acontece no mundo?
6. Como entender os textos que falam de Deus como sendo contingente?
7. Deus sofre?
8. O que o mundo significa para Deus?
9. O que significa a expressão “Deus é amor”?
10. Deus pode se decepcionar com alguém?
11. Deus pode experimentar novidade?
12. Deus é atemporal?

RELEVÂNCIA DO TEMA.

• Nossa compreensão de Deus
• Nosso relacionamento com Deus
• O papel da oração
• Nossa missão
• Qual o retrato que estamos fazendo de Deus e passando para outras pessoas?


Dois Extremos.

Teismo Tradicional:
.. Tomás de Aquino.


Teologia do processo:
. Alfred North Whitehead


Cosmovisão

. Baseado no conceito grego de perfeição que é estático e atemporal.
. Influenciado pela cosmologia medieval que era estática.
. Ênfase na transcendência abstrata de Deus.


TEÍSMO TRADICIONAL

Imutabilidade

• Deus é imutável em essência, atributos, consciência e vontade.
• Deus é imutável por ser absolutamente perfeito não podendo mudar nem
mesmo para melhor.
• Deus não pode experimentar novidade.


Impassibilidade

• Deus não pode estar sujeito às alterações emocionais
• Não podendo também ser afetado positiva ou negativamente pelo mundo.
• Textos bíblicos que falam de Deus como demonstrando uma variedade de
sentimentos precisam ser interpretados como expressões antropomórficas.
• “Deus é amor” significaria apenas que Deus deseja boas coisas para suas
criaturas.
• O mundo pode estar relacionado com Deus, pois é dependente dEle, mas Deus
não pode realmente relacionar-se com o mundo.
• A relação Deus-mundo é como uma avenida de mão única.


Atemporalidade

• Tudo aquilo que se encontra dentro da dimensão do tempo, por ser mutável, é imperfeito
• Para um Deus atemporal, passado, presente e futuro existem em um eterno
presente.
• Não havendo nada novo que Deus possa conhecer ou experimentar.
• Teólogos da Idade Média não demonstraram nenhum interesse sobre o
aspecto histórico do cristianismo.


TEOLOGIA DO PROCESSO

Cosmovisão Atual e Dinâmica

• Teoria da evolução de Darwin - Um mundo em processo de criação
• Teoria da relatividade de Einstein
• Conhecimento do mundo subatômico
• Teoria Quântica
• Um universo embriônico e incompleto, onde mudança e desenvolvimento são marcantes
• Movimento e novidade fazem intimamente parte de sua experiência para serem ignorados ou tratados superficialmente.
• Mudar não envolve apenas um eterno retorno a um preestabelecido padrão, mas à emergência de uma novidade genuína.
• Levam muito a sério os temas:
• tornar-se
• Relação
• novidade
• Enfatizando a primazia do:
• “tornar-se” sobre o “ser”,
• “relativo” sobre o “absoluto”,
• “interdependente” sobre o “independente”
• Deus é visto como a exemplificação maior dos princípios metafísicos segundo os quais todas as coisas são explicadas
• Deus não seria uma excessão a regra
• Teologia Natural
• Ênfase na imanência de Deus e em relacionamentos dinâmicos e significativos.


Conceito Bipolar

• Deus teria um aspecto abstrato e absoluto
• e um outro que seria concreto e relativo
• Natureza primordial e abstrata, perfeição em amor, bondade e onipresença
• Natureza conseqüente e concreta: limitado, sujeito ao desenvolvimento, desafiado à auto-superar-se criativamente.
• Infinito em potencial,
• Mas ainda em processo de evolução como e com o mundo.
• O relacionamento Deus-mundo seria o de interdependência
• O mundo seria sua natureza conseqüente = “pan-en-teísmo”
• Deus estaria relacionado com o mundo assim como nós estamos relacionados com o
nosso corpo.
• O físico é visto como um processo mental, um fenômeno espiritual.
• Deus não apenas influencia cada ocasião de experiência, mas também, é afetado por cada uma delas.
• Deus é infinito em sua potencialidade, naquilo que Ele pode vir a ser ou tornar-se, não naquilo que Ele é.
• Deus é infinitamente capaz de aprimorar-se. Afirmam que infinitude absoluta não faz Sentido.
• “O dinâmico e simpático Deus da revelação cristã, que revela-se como amor na pessoa de Jesus Cristo, está menos em casa num mundo de estáticas substâncias do que no dinâmico e novo mundo de relações do pensamento do processo”.
• Deus realmente se sensibiliza, se emociona, se entristece, se compadece, sofre, se alegra, fica admirado…
• Pais que permanecem em absoluta alegria enquanto seus filhos estão em agonia não são considerados perfeitos.
• Negam também o estereótipo masculino aplicado a Deus, o que só serviu para reforçar a imagem de Deus como controlador, independente, não-receptivo e não responsivo, insensível, inflexível e sem emoções.


TEOLOGIA NATURAL

• O que o Teísmo Tradicional e a Teologia do Processo tem em comum?
• Ambos são adeptos da Teologia Natural.
• Pressuposto de que existe uma fonte dupla geradora do conhecimento de Deus.
• Assevera que é possível chegar ao conhecimento de Deus à parte da Revelação específica.
• Forte orientação antropológica, ontológica, metafísica e filosófica.
• As cinco provas racionais para a existência de Deus apresentadas por Aquino ilustram bem este método:


• 1. Do movimento para um motor imóvel;
• 2. Dos efeitos para uma Causa Primeira;
• 3. Da existência contingente para a Existência Necessária;
• 4. Dos graus da perfeição para um Ser Perfeitíssimo;
• 5. Da ordem na natureza para um Ordenador.


• Vemos a força da teologia natural na doutrina panenteísta, pois crêem que Deus está manifesto no mundo criado, mais que isto, o mundo é o corpo de Deus.
• É o mesmo erro cometido por Aquino, Schleiermacher, Otto e tantos outros, de partir da criação para se chegar ao Criador, do homem para Deus, de baixo para cima.
• Estas são teologias baseadas no homem, que exaltam o homem em detrimento do próprio Deus.
• Minhas pressuposições sobre a prioridade da autoridade das Escrituras Sagradas não encontram eco nestas teologias.
• Busca exagerada por Relevância e Contextualização
• Ambos buscam um conceito de Deus que esteja em harmonia com as cosmovisões de
suas respectivas culturas.
• Advogam um lugar para a teologia no reino das demais ciências
• Perigo
• Tende ao desviar do sentido natural e original do texto.
• Corre-se sempre o risco de negligenciar a cosmovisão dos próprios hebreus.


CRÍTICA DE BARTH A TEOLOGIA NATURAL

• Deus é absolutamente outro, distinto de sua criação.
• Nega a existência de qualquer analogia na natureza, na humanidade, ou na história que seja capaz de fornecer uma conexão para o conhecimento de Deus.
• Toda e qualquer defesa da fé deve estar unicamente baseada nos atos de Deus como revelados nas Escrituras;
• Qualquer apologia baseada somente na razão acaba diluindo a força da Palavra.
• O conhecimento de Deus não é algo inerente ao homem, não é uma descoberta humana, não está baseado na razão e na experiência humana, mas é o reconhecimento da graça reveladora de Deus.
• Barth diz que o mundo existe em Deus, bem como ao lado e fora de Deus, negando assim toda espécie de monismo.
• É um erro dizer que o mundo é um elemento necessário de Deus, um modo divino. Este foi o erro de Philo e do Gnosticismo, que agora tem se repetido no panenteísmo da teologia do processo.
• O objeto da teologia evangélica é Deus na história de seus feitos como revelado a nós em Sua Palavra, pois Deus é quem Ele é em suas obras.
• A imanência de Deus deve ser entendida em sentido dialético com Sua transcendência, pois Deus não se manifesta em todos os lugares de maneira igual.
• Em Sua liberdade, Deus escolhe se revelar ao homem num local definido, distinto e específico.
• O testemunho e a auto-revelação de Deus tem o seu lugar na História de Israel e na encarnação de Cristo.
• Jesus é a chave para o conhecimento de Deus. Sem esta chave, embora Deus esteja presente no mundo numa diversidade de detalhes, é impossível conhecê-lo
• Os povos que tiveram acesso apenas a revelação geral aderiram ao politeísmo
• Curioso notar que, embora ambos os pontos de vista façam uso do método da Analogia do Ser da Teologia Natural, por fim, tenham chegado a conclusões tão antagônicas.


AVALIAÇÃO

• A forma como o tomismo apresenta a imutabilidade divina freqüentemente sugere um Deus que é completamente impassível, indiferente iceberg metafísico, que lida conosco numa via de mão única, onde meu amor ou falta de amor, minha salvação ou perdição, não fazem a menor diferença para ele.
• Mas, os teólogos do processo, em seu afã em defender a mutabilidade de Deus, têm pago um alto preço, tendo como resultado a crença num deus que é finito, impotente e dependente, mais merecedor de nossa pena do que de nossa adoração.
• Os teólogos do processo fazem Deus parecer ser pouco mais que um aspecto da realidade. Não ficando claro em que sentido Ele é um ser pessoal e ativo.
• Os teólogos do processo estão certos em criticar alguns ensinos de Tomás de Aquino, principalmente aqueles que apresentam Deus de forma fria, estática e impassível, isolado e sem real, dinâmico e significativo relacionamento com o mundo.
• As nossas próprias orações estariam também desprovidas de significado se não existisse um relacionamento real e interpessoal entre Deus e os homens.
• Portanto, não há que se duvidar que o Deus das Escrituras Sagradas é um Deus de amor e genuína compaixão.
• Estão certos em afirmar que o mundo tem significado para Deus (Jo 3.16)
• Mas, enquanto a Bíblia descreve Deus como estando envolvido com o mundo, ela também fala de Deus como existindo antes da criação, ressaltando seu “status” de independência.
• Como pode o Deus da Bíblia fazer promessas no caso de ser finito, não estando em condições de assegurar o cumprimento?
• Os teólogos do processo falam pouco sobre a cruz e reduzem Jesus a um bom exemplo
• No pensamento do processo, Deus é totalmente sujeito as vicissitudes de mudança, nada pode assegurar sua identidade.
• Qual razão, então, têm os cristãos hoje para acreditar que o Deus que eles adoram é o mesmo Deus adorado por Moisés e revelado por Jesus Cristo?
• O teísmo tradicional apela para o argumento de linguagem antropomórfica quando se depara com textos que contrariam sua visão preestabelecida de Deus, numa tentativa de esvaziar o significado do próprio texto.
• As metáforas não possuem valor para expressar a imagem de Deus? (Hb 1.1, ex: Oséias)
• Os teólogos do processo advogam a autoridade bíblica para aqueles textos que concordam com o seu ponto de vista, ignorando aqueles que lhe são contrários.


UMA PROPOSTA ALTERNATIVA

• Não estamos obrigados a ter que escolher entre o pacote de atributos do tomismo e o conceito panenteísta de Deus.
• Não devemos usar a Bíblia para defender nossas pressuposições, devemos permitir que a Bíblia fale por si mesma.
• Não devemos permitir que idéias preconcebidas distorçam nossa leitura das Escrituras
• Precisamos levar em consideração a cosmovisão dos receptáculos originais. A negligência deste princípio é perceptível tanto em Tomás de Aquino quanto na teologia do processo.
• Em muitos pontos, os ataques da teologia do processo contra o tomismo são justificados, mas isto não implica em abandonar a crença em cada um dos atributos de Deus defendidos por Aquino e aderir ao panenteísmo.
• Dentro do próprio teísmo existem variadas interpretações sobre os atributos de Deus.
• A fé bíblica afirma que o perfeito Deus inclui criativa interação que é consistente com Seu imutável caráter e propósito.
• Proponho o método, protestante por excelência (Sola Scriptura), da “Analogia da Fé”, que conclama que a Bíblia é o ponto de partida para o conhecimento de Deus, que se dá através de sua auto-revelação específica e objetiva na história de Israel e em Cristo. Pois Cristo é a medida de todas as coisas e não o homem! (Jo 1.14; Cl 1.15 e Hb 1.3)
• O movimento teológico tem sua direção de cima para baixo, baseado na soberania de Deus que é transcendente e livre, mas que em amor escolhe se revelar ao homem. Como ensinou Barth, “Deus é livre para nós através do Filho e, em nós, através do Espírito”. (Hb 1.1)
• “Ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi posto” (1 Co 2.11).


O Deus das Escrituras é um Deus pessoal, de amor compassivo e Sofredor.

• Não devemos reduzir o Senhor vivo, ativo e pessoal a um princípio impessoal e
estático
• Embora somente Deus tenha vida em Si mesmo, Ele tem outorgado vida a muitos
outros a fim de participar de relacionamentos pessoais com eles.
• Ter emoções é próprio de um ser pessoal.
• Estabelecer relacionamentos afetivos é próprio de um ser pessoal.
• Deus tem total domínio sobre suas emoções, não sofrendo, portanto, de nenhum
distúrbio emocional.
• Amar implica em ser afetado pelas ações e condições do ser amado.
• Amar sem emoções, simpatia e compaixão é uma contradição.
• Um amor frio e indiferente, desprovido de empatia, não é nada inspirador e não
encontra respaldo bíblico.
• Teofanias e metáforas não foram maneiras de Deus se revelar ao seu povo?
(Hb 1.1)
• Os profetas expressavam a Deus não apenas através de suas palavras, mas
também de suas vidas e sentimentos (Moisés, Isaías, Jeremias, Oséias…)
• Deus revela-se plenamente em Cristo (Jo 1.14; Cl 1.15 e Hb 1.3).


A BÍBLIA DESCONHECE UM DEUS ATEMPORAL

• A idéia de perfeição estática, imutável e atemporal não é de origem cristã, mas
grega
• Os verbos que descrevem Deus criando ou preservando, descrevem
atividades que contém uma inevitável dimensão temporal.
• A atividade de Deus deve estar no tempo, pois Deus não pode ser separado
de seu atos.
• Deus precisa estar no tempo para entendermos como pode sua ira durar apenas um instante
• Para entrar em real relacionamento.
• Os diálogos entre Deus e os profetas envolvendo promessas e juízos condicionais de Deus precisam ser levados a sério.
• Textos bíblicos que relatam Deus como estando incerto em relação a alguns eventos futuros precisam ser levados a sério (Am 5.15; Ex 32.30; Ez 12.1-3 e Jr
26.2-3)
• Textos que falam que o povo não agiu como Deus pensava que agiria precisam ser levados a sério:
• “E, depois de ela ter feito tudo isso, eu pensei que ela voltaria para mim, mas não voltou...” (Jr 3.7).
• Algo do futuro deve estar em aberto para que o homem seja livre
• Como um grande mestre de xadrez, a despeito dos lances do adversário, Deus conduz o jogo para sua vitória.
• Não poderia Deus autolimitar-se para experimentar novidade e estabelecer relacionamentos íntegros e reais com suas criaturas?
• Existem alegrias e muitas emoções nas explorações e descobertas humanas.
• O que é mais chato que assistir uma corrida inteira de fórmula 1 quando já se
sabe tudo que vai acontecer?


PAPEL DA ORAÇÃO

Papel das Orações e questões relativas a recompensas e juízos.

• Qual seria o papel da oração se tudo estivesse predeterminado?
• Coisas acontecem e deixam de acontecer devido a orações
• Deus é afetado positivamente por nossas orações feitas aqui na terra (1 Rs 8.12-66)
• Somos responsáveis por nossos atos. Nossos atos são significativos.
• A impiedade humana têm afetado a Deus, a ponto de desencadear o seu
juízo (Jr 4.23-28 e Jl 2.10).


DEUS PODE SE ARREPENDER?

• Deve-se procurar entender o que os autores do AT queriam dizer com o uso do verbo “arrepender” tendo Deus como sujeito.
• Derek Kidner, ao comentar Gn 6.618, diz que os autores do AT empregam as expressões mais ousadas, contrabalançadas em outros lugares, se necessário, mas não enfraquecidas.
• Exemplo: (1 Sm 15.29,35) onde o autor afirma primeiro que Deus não é homem para mentir e nem se arrepender, mas logo abaixo, diz que Deus se arrependeu de ter escolhido Saul para ser rei.
• O que ele queria comunicar é que nós podemos confiar em Deus e em sua promessas, pois Ele não mente e nem é instável.
• Já, no v. 35, vemos que Deus está decepcionado com Saul, pois não foi para se comportar daquele modo que Deus havia elegido Saul como rei.
• Deus estava decepcionado com Saul, arrependido de tê-lo elegido rei e estava fazendo algo a respeito, no caso, estava providenciando outro rei.
• Neste sentido, o arrependimento de Deus não deve ser entendido como um ato de alguém volúvel, mas como alguém que teve sua confiança traída.


“Deixemos de lado nossos pensamentos sobre Deus e permitamos que Deus e não os nossos pensamentos sobre Ele, determinem qual seja a verdade sobre Deus”
(Barth)


*Bispo José Ildo Swartele de Mello
Casado com Ana Cristina, pai de três filhos: Samuel, Daniel e Rafael, é também Professor de Teologia, Escatologia e Evangelização na Faculdade Metodista Livre. Formado em Bacharel pela Faculdade Metodista Livre, cursou Mestrado em Teologia na Faculdade Teológica Batista de São Paulo e fez Doutorado em Ministério na Faculdade Teológica Sul Americana. Pastor desde 1986 (Cidade Ademar 86-88; Vila Guiomar 89; Vila Bonilha 90-97, Aeroporto 98-2004), serve atualmente como Pastor da Imel de Mirandópolis, como Bispo da Igreja Metodista Livre do Brasil e como presidente do Concílio Mundial de Bispos.
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Imagem: Bispo Ildo Mello