domingo, 16 de janeiro de 2011

A Glória de Deus.

A Glória de Deus.

Jacobus Arminius

92. A glória de Deus é de sua perfeição, considerada extrinsicamente, e pode, em algum grau, ser descrita assim: é a excelência de Deus acima de todas as coisas. Deus manifesta essa glória através de atos externos, de várias maneiras. (Romanos 1.23, 9.4; Salmos 8.1).

93. Mas os modos de manifestação, que nos são declarados nas Escrituras, são essencialmente dois: um, por um resplendor de luz e de raro esplendor, ou pelo seu oposto, uma densa escuridão ou obscuridade. (Mateus 17:2-5, Lucas 02.09; Êxodo 16.10; 1 Reis 08.11). O outro, pela produção de obras que concordam com Sua perfeição e excelência. (Salmos 19.1; João 2.11). Mas, cessando de qualquer discussão mais prolixa desse assunto, deixemo-nos com ardentes orações suplicantes, rogando ao Deus de Glória, que, uma vez que Ele nos formou para a sua glória, Ele nos faça, ainda mais e mais, instrumentos de demonstrar sua Glória entre os homens, por Cristo Jesus, nosso Senhor, o esplendor da sua glória, e a expressa a imagem de sua Pessoa.

Tradução: Lailson Castanha
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The Works of James Arminius, Vol. 1
http://wesley.nnu.edu/arminianism/the-works-of-james-arminius/public-disputations-james-arminius-dd-dedication/
Gravura: Moisés e a Sarça Ardente de Grabriel Castanha

sábado, 8 de janeiro de 2011

Os desígnios de Deus e a obstinação do homem.

Os desígnios de Deus e a obstinação do homem.

Muito se tem falado a respeito dos desígnios de Deus para com os homens. Nas discussões a esse respeito conjectura-se positivamente ou negativamente a respeito de conceitos como soberania de Deus, alteridade, livre arbítrio e predestinação e determinismo. É muito raro em uma discussão sobre os desígnio de Deus a ausência dos conceitos que foram destacados.

Quando falamos em desígnios não podemos fugir algumas indagações investigativas, como, e por exemplo: tudo o que acontece conosco, positivamente foi um desígnio de Deus? Em outras palavras podemos indagar: tudo o que acontece, é fruto de uma vontade positiva de Deus? Ou mesmo: - alguns eventos ocorrem por Sua permissão e nem sempre por sua determinação intencionalmente positiva? - Tudo que nos ocorre, é fruto de uma intencionalidade direta de Deus, ou, sua soberania não implica um intenso controle direto sobre todos os eventos? - ou também: o homem pode ser responsabilizado diretamente por alguns eventos que ocorrem em sua existência ou através ou mesmo a partir dela, ou tudo o que acontece tem que ser apresentado como vontade positiva e intencional de Deus?

Na medida em que essas indagações, que se manifestam de várias formas, forem respondidas, configurar-se-á então, a maneira que consideraremos Deus e o seu caráter, a forma em que interpretamos os eventos que ocorrem em nossa existência e a forma que devemos nos posicionar diante dos acontecimentos que se nos apresentam, e a maneira que julgaremos as nossas intenções e ações. É certo que, se buscarmos respostas sobre questões transcendentes usando apenas ferramentas existenciais, nosso intento não terá êxito – por conta da limitação do alcance que a ferramenta que usamos alcançará. Temos que, além de nossas ferramentas existenciais, nos apropriarmos da revelação escriturística, procurar entender, o que ela tem a nos dizer a esse respeito.

Lendo os Salmos 81 percebe-se claramente insights reveladores sobre a questão que estamos a destacar. Lendo esse texto, o anuviado problema do desígnio de Deus/responsabilidade do homem é iluminado. Nesse Salmo, depois de uma série de convocações e lembranças das coisas que Deus houvera feito a favor de Israel, o salmista omite a sua voz, e dá a sua escrita, livre e direto curso à voz de Deus:

Ouve, povo meu, quero exortar-te. Ó Israel, se me escutasses!
Não haja no meio de ti deus alheio, nem te prostres ante deus estranho.
Eu sou o SENHOR, teu Deus, que te tirei da terra do Egito. Abre bem a boca, e ta encherei.
Mas o meu povo não me quis escutar a voz, e Israel não me atendeu.
Assim, deixei-o andar na teimosia do seu coração; siga os seus próprios conselhos.
Ah! Se o meu povo me escutasse, se Israel andasse nos meus caminhos!
Eu, de pronto, lhe abateria o inimigo e deitaria mão contra os seus adversários.
Os que aborrecem ao SENHOR se lhe submeteriam, e isto duraria para sempre
Eu o sustentaria com o trigo mais fino e o saciaria com o mel que escorre da rocha.(Sl 81. 8-16)


Observando esses versos percebemos que Deus apesar de preceituar algumas regras para o seu povo, desejando que as tais fossem observadas, não estabeleceu os seus bons preceitos de maneira irresistível. Deus colocou sobre o homem a responsabilidade de observá-los, de cumpri-los.

Ó Israel, se me escutasses! - Nesse verso percebe-se a expressão plangente de Deus por conta da falta atenção de Israel para com os seus conselhos. Após lamentar a conduta obstinada de seu povo, Deus continuou a afirmar sobre o seu povo, ainda em tom lamentoso:

“(…) Mas o meu povo não me quis escutar a voz, e Israel não me atendeu.”

Se atentarmos para essa expressão, podemos perceber a liberdade que Deus dá aos homens entre seguir ou não seguir os seus desígnios, apesar de desejar que sua vontade seja cumprida. Desse exemplo, podemos tirar pelo menos uma importante conclusão: nem sempre os desígnios de Deus para com os homens são colocados como decretos inelutáveis.
Depois de resolvida uma parte do problema, a saber, se os desígnios de Deus são irresistivelmente estabelecidos, que pelo texto, tivemos a liberdade de crer que nem sempre o que Deus deseja diretamente acontece, continua em aberto, a questão da responsabilidade do homem, problematizada na seguinte indagação: o homem pode ser responsabilizado diretamente por alguns eventos que ocorrem em sua existência ou através ou mesmo a partir dela?


Recorrendo novamente ao texto, somos levados, mesmo que de maneira indireta, a resposta:

Ah! Se o meu povo me escutasse, se Israel andasse nos meus caminhos!
Eu, de pronto, lhe abateria o inimigo e deitaria mão contra os seus adversários.
Os que aborrecem ao SENHOR se lhe submeteriam, e isto duraria para sempre
Eu o sustentaria com o trigo mais fino e o saciaria com o mel que escorre da rocha.


No do conectivo condicional “se”, o texto indica-nos a realidade das possibilidades. Ou seja, para Israel, existia uma possibilidade existencial diferente daquela em que esse povo passou a vivenciar, caso obedecesse ao seu Deus. Essa possibilidade era o que Deus desejou e desejava.

Quando no texto, em nome de Deus é usado o conectivo condicional, afirmando que certos eventos ocorreriam “se” o povo de Israel escutasse a voz de Deus e andasse em seus caminhos, são nos dado a liberdade de crer que algumas coisas deixaram ou deixam de ocorrer por conta de alguns posicionamentos ou posturas humanas. No texto em destaque, por conta da obstinação de Israel em seguir suas próprias ideias, não atentando para os conselhos de Deus, seguindo os caminhos que Deus não desejava que eles seguissem, Israel deixou de vivenciar as benesses que Deus desejou que vivenciasse.

Se alguns eventos deixam de acontecer por consequência de uma determinada postura, segue-se que, outros eventos substituintes ocorrerão. Outrossim, quando fugimos da vontade de Deus, deixamos de herdar o bem que ele preparou para os que o seguem, portanto somos responsáveis por boa parte de eventos negativos que ocorrem em nossa existência, através ou a partir dela. Somos responsáveis porque, por nossa livre escolha, deixamos de atentar para os desígnios de Deus. Só somos efetivamente responsáveis pelas consequências de nossas escolhas, porque somos livres para fazer escolhas autênticas. Se não fossemos livres para praticarmos tais escolhas, não seríamos efetivamente responsáveis por suas consequências.

A mesma implicação se dá em relação ao nosso galardão A responsabilidade humana não diminui ante o chamado à salvação. Sobre essa questão, o apóstolo Paulo nos direciona a ideia de que somos responsáveis em nos qualificarmos diante de Deus, de que temos que nos esforçar para alcançar o galardão, ao contrário do que muita gente defende de que o chamado à salvação dispensa a resposta ou ação efetivamente humana, vejamos:

Não sabeis vós que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só leva o prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis.
Todo atleta em tudo se domina; aqueles, para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, a incorruptível.
Assim corro também eu, não sem meta; assim luto, não como desferindo golpes no ar.
Mas esmurro o meu corpo e o reduzo à escravidão, para que, tendo pregado a outros, não venha eu mesmo a ser desqualificado. (1Co 9.24-27)


Como se pode perceber, Paulo destaca o seu esforço, como uma atitude que tinha como finalidade garantir a sua qualificação. Destaca sua responsabilidade em se mostrar qualificado.
Seguindo a mesma temática da responsabilidade humana, o apóstolo Paulo narra à peregrinação do povo israelita no deserto. No decorrer da narração, falando sobre o povo de Israel, o apóstolo afirma:


“nossos pais estiveram todos debaixo da nuvem, e todos passaram pelo mar,
e todos foram batizados em Moisés, na nuvem e no mar,
e todos comeram de uma mesma comida espiritual,
e beberam todos de uma mesma bebida espiritual, porque bebiam da pedra espiritual que os seguia; e a pedra era Cristo.
Mas Deus não se agradou da maior parte deles, por isso foram prostrados no deserto.” (1 Co 10.1-5).


Na narração do apóstolo Paulo, percebe-se claramente a realidade do povo de Israel. Esse povo andou com Deus, recebeu as bênçãos de Deus. Porém, outra evidência se mostra de maneira trágica: Deus não se agradou desse povo.
Continuando a falar, o apóstolo indica aos destinatários de sua epístola, porque que o povo de Israel foi rejeitado por Deus e por conseguinte, foram prostrados no deserto. Disse o apóstolo:


E estas coisas foram-nos feitas em figura, para que não cobicemos as coisas más, como eles cobiçaram.(1 Co 10. 6).

Falando nesses termos, o apóstolo estava a destacar a responsabilidade humana ante a eleição da igreja e a consequente e definitiva salvação do homem. Devemos olhar para a tragédia de Israel e com isso aprender que temos responsabilidades reais em relação ao chamado de Deus.

Ser participante do povo Eleito ou da igreja Eleita não nos exime da responsabilidade e esforço para sermos achados dignos de Deus. A salvação é pela graça. Pela graça podemos nos postar diante de Deus em condição aceitável. A graça nos dá as condições - nos oferece os meios, as ferramentas que nos possibilita postarmo-nos de maneira adequada. Oferecer os meios não significa, portanto eximir-nos da responsabilidade de usar as ferramentas que a graça nos dispôs. Se não usarmos as ferramentas da graça cairemos. Portanto é de nossa total responsabilidade o uso dos meios que a graça nos dispôs a fim de que fiquemos em pé.

“No demais, irmãos meus, fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder.
Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo.
Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais.
Estai, pois, firmes, tendo cingidos os vossos lombos com a verdade, e vestida a couraça da justiça;
E calçados os pés na preparação do evangelho da paz;
Tomando sobretudo o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do maligno.
Tomai também o capacete da salvação, e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus;
Orando em todo o tempo com toda a oração e súplica no Espírito, e vigiando nisto com toda a perseverança e súplica por todos os santos(...).” (Ef 6.10-18).


Lailson Castanha
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Gravura: Adão e Eva expulsos do Éden de Gustave Doré (1832-1883)

domingo, 2 de janeiro de 2011

As Sete Cartas do Apocalipse

As Sete Cartas do Apocalipse

Bispo José Ildo Swartele de Mello*

INTRODUÇÃO:

Tem muita gente que imagina que o Apocalipse é um livro repleto de mistérios enigmáticos que somente os especialistas seriam capazes de decifrar, mas isto não é verdade, pois o próprio termo Apocalipse significa revelação. Sendo assim, o que estava oculto, agora, está sendo revelado; Os sete selos que lacravam o livro foram rompidos pelo Cordeiro de Deus, revelando, assim, como ele próprio vencerá e julgará o mal para estabelecer a plenitude de seu reino de justiça e paz (5.1-14).

Além disto, é preciso ter em mente que o Apocalipse são cartas endereçadas ao povo simples e sofredor das sete igrejas da Ásia Menor que viveram no primeiro século da era cristã. Portanto, foi escrito de tal maneira que essas pessoas humildes pudessem compreender sua mensagem.
O livro é uma revelação de como o glorioso Senhor Jesus Cristo, o soberano dos reis da terra (1.4), promoverá juízos contra os malfeitores trazendo pureza, justiça e paz ao mundo (6.12-17 e capítulos 18 a 22). O clima é de guerra contra o mal (18.14), onde inúmeros seguidores de Cristo estão sendo martirizados (6.9; 7.9-14 e 13.15; 20.4). Mas o que parece ser um sinal de fraqueza da Igreja se converterá em força, pois a morte não é o fim daqueles que seguem o caminho do Cordeiro de Deus que foi morto, mas ressuscitou e que vive e reina para sempre juntamente com todos os seus mártires (1.18; 18.14 e 20.4).


O livro traz conforto e ânimo aos que estão passando pela Grande Tribulação (7.13-17; 18.14). Eles não devem ter medo do sofrimento, pois tudo está sob o controle do Senhor Jesus (2.10). Ele triunfará sobre o mal e vingará o sangue dos inocentes (6.9-17; 18.14 e19.1-9), retribuindo a cada um segundo as suas obras (2.23; 22.12). O Rei das Nações (15.3) promoverá a cura das nações (22.2) e a maldição não terá mais lugar (22.3), pois felizes para sempre serão os que lavaram as suas vestes e as alvejaram no sangue do Cordeiro (22.14; 7.14-17; 20.4).

Esta revelação é dada à sete igrejas da Ásia menor. Não haviam apenas sete igrejas naquela região, mas sete foram escolhidas para representar a Igreja de Cristo em sua totalidade, assim como João escolheu cuidadosamente sete milagres de Jesus para registrar em seu Evangelho com o intuito de representar a totalidade dos milagres como um demonstrativo da natureza divina de Cristo. O fato do Senhor comunicar em primeira mão à igreja o que ele está para prestes a executar demonstra o alto conceito que ele tem da Igreja.

A igreja pode ser desprezada e perseguida pelo mundo, mas é valorizada por Jesus. A igreja está no centro dos planos de Deus (Ef 1.22-23; 2.6-7; 2Co 5.18-20), ela é agente do Reino de Deus e serve como protótipo da nova criação, do novo céu e da nova terra que estão a caminho (1 Pe 2.9; Mt 5.13-15; Mt 6.10; At 1.8; 1 Pe 4.10; 2 Co 5.17; Rm 14.17).

Assim como Deus não fazia nada sem antes comunicar aos seus servos, os profetas (Am3.7), assim também, o Senhor comunica à Igreja o que está prestes a fazer, pois ela é o Corpo de Cristo nesta terra e foi incumbida de exercer um papel preponderante na execução dos planos de Deus (Mt 28.18-20; At 1.6-8; 1 Pe 2.9), além disto, o Senhor alerta a igreja para ela não ser pega de surpresa quanto as provações que há de enfrentar em sua luta contra o mal. O conteúdo desta revelação serve também de conforto e ânimo, motivando a Igreja a perseverar em seu testemunho diante das tribulações para que ela possa cumprir com fidelidade a sua importante missão no mundo.

A Igreja possui um papel ativo nos planos de Deus. Os eventos escatológicos estão intimamente ligados ao sucesso da missão da Igreja, pois o fim só virá depois da pregação do Evangelho a todas as nações (Mt 24.14). O Apocalipse revela que haverá no céu uma multidão incontável de mártires procedentes de todos os povos, tribos e nações (7.9), sinal de que a Igreja cumprirá com sucesso sua missão, possibilitando assim que os eventos de juízo contra o mal cheguem ao clímax na consumação dos séculos que trará o dia do Juízo Final. Tais juízos são consequências da ira de Deus que virá sobre a terra para vingar o sangue dos inocentes (6.10 e17; 14.7; 16.1-7 e 19.2) e para estabelecer um novo tempo em que a maldade não terá mais lugar (21.1-7).

Agora, todo privilégio traz consigo responsabilidades (Tg 3.1). O Senhor pede conta dos talentos entregues aos seus servos (Mt 25.19). “Para aquele que muito for dado, muito será requerido” (Lc 12.48). O Senhor está revelando à Igreja os seus juízos contra o mal que estão prestes a acontecer no mundo em favor da restauração da santidade, mas, “o julgamento começa pela casa de Deus; e, se começa primeiro conosco, qual será o fim daqueles que não obedecem ao evangelho de Deus? E, se ao justo é difícil ser salvo, que será do ímpio e pecador?” (1Pe 4.17 e 18). Sendo assim, vemos aqui nestas cartas do Apocalipse, que o Senhor Jesus que está prestes a julgar o mundo, começa seu julgamento a partir de sua própria Igreja, pois ela deve servir como luz do mundo e sal da terra. A Igreja é uma comunidade escatológica, composta por novas criaturas, que receberam um novo coração (Ez 11.19) e que foram regenerados e capacitadas pelo Espírito (Tt 3.5-6), recebendo todas as condições necessárias para viverem uma nova vida de acordo com os valores do Reino de Deus (2Pe 1.3; Ef 1.3), servindo como um sinal e também como uma semente do futuro que Deus tem planejado para toda a humanidade (Ef 1.10). Vejamos o que Jesus escreve as sete igrejas.

Lendo as sete cartas de Cristo, percebemos o seguinte padrão geral: 1. Jesus se apresenta; 2. Jesus conhece as virtudes da Igreja; 3. Jesus conhece os pecados da Igreja; 4. Jesus punirá os infiéis; 5. Jesus exorta ao arrependimento 6. Jesus recompensará os fiéis e 7. A exortação final de Jesus. Então, Vamos examinar as cartas por cada um destes sete tópicos.

1. JESUS SE APRESENTA ASSIM ÀS SETE IGREJAS:
1. À Éfeso como aquele que tem as sete estrelas em sua mão direita e anda entre os candelabros (2.1).
2. À Esmirna como o Primeiro e o Último, como aquele que morreu e tornou a viver (1.8).
3. À Pérgamo como aquele que tem a espada afiada de dois gumes (2.12),
4. À Tiatira como o Filho de Deus, cujos olhos são como chama de fogo e os pés como o bronze reluzente (1.18);
5. À Sardes como aquele que tem os sete espíritos de Deus e as sete estrelas (3.1);
6. À Filadélfia como aquele que é santo e verdadeiro e que tem a chave de Davi (3.7);
7. E à Laodicéia como o Amém, a testemunha fiel e verdadeira e como o soberano da criação de Deus (3.14).


Então, em suas apresentações, Jesus se revela como o Senhor da Igreja, que passeia no meio dela (1.20; 2.1; 3.1), marcando sua forte presença e presença no meio da Igreja com seus pés como de bronze reluzente e como aquele que tudo vê através de seus olhos que são como chama de fogo que examina as obras de cada um, queimando o pecado, destruindo a palha e purificando o metal precioso (1.18; 1Co 3.13); E, como aquele que morreu e ressuscitou, ele conforta e anima os atribulados, e com a chave de Davi, o santo e verdadeiro, tem poder para abrir e fechar portas que ninguém pode reverter. E, com sua espada afiada de dois gumes, ele está pronto para punir os malfeitores. Jesus não é apenas o Senhor da Igreja, mas é também o soberano da criação de Deus.

2. JESUS CONHECE AS VIRTUDES DA IGREJA
Portanto, Jesus conhece pessoalmente Igreja. Ele conhece as circunstâncias adversas (2.9, 13) e destaca as virtudes das igrejas, tais como: as boas obras (2.2, 19), o amor (2.19), o trabalho árduo (2.2, 19), a perseverança diante do sofrimento e pobreza (2.2, 3, 9, 19, 3.8, 10), a perseguição e martírio por fidelidade a Cristo (2.10, 13; 3.8) sua luta contra os hereges e seu apego a sã doutrina (2.3, 24, 3.10), sua santidade (3.4), sua fidelidade (2.13; 3.10) e obediência e a sua fé e serviço (2.19).


3. JESUS CONHECE OS PECADOS DA IGREJA
Mas Jesus também conhece muito bem os pecados da Igreja, tais como: aqueles que seguem os falsos apóstolos e profetas, aqueles que seguem as heresias dos nicolaítas, Jezabel e de Balaão, aqueles que vivem na prática de imoralidades e idolatrias, aqueles cujas obras não são perfeitas, aqueles que são mornos espiritualmente falando e aqueles que se acham espirituais, mas que de fato são miseráveis, pobres, cegos e que estão nus (3.17; 2Pe 1.8-9) , de modo a envergonhar o santo nome de Cristo.


4. JESUS ADVERTE MOSTRANDO AS CONSEQUÊNCIAS DE UMA VIDA PECAMINOSA
Jesus não admite o pecado no mundo e muito menos na Igreja (2Tm 2.19). Ele, num ato de misericórdia, buscando despertar a Igreja, adverte apontando para as duras consequências de uma vida pecaminosa. Os crentes devem se arrepender, “se não”: terão o seu candelabro removido (2.5), ou seja, a sua luz será apagada, e não terão direito a comer do fruto da árvore da vida que está destinado somente aos vencedores (2.7), e não terão direito a coroa da vida que esta destinada apenas aos que forem fiéis até a morte (2.10) e estarão sujeitos à segunda morte que é a condenação eterna, pois somente ao vencedor é dito que de modo algum sofrerá a segunda morte (2.11). Se não houver arrependimento e mudança de atitude, o próprio Senhor Jesus virá contra os impenitentes com a sua espada afiada de dois gumes (2.16), pois Jesus retribuirá a cada um segundo as sua próprias obras (2.23). Se os crentes não estiverem vigiando, serão surpreendidos quando, Jesus, o noivo vier de surpresa e ficarão de fora das bodas (3.3; Mt 25.1-13), terão seus nomes riscados do livro da vida, pois somente os fiéis é que jamais terão os seus nomes apagados deste livro (3.5; Ex 32.33). Se não houver arrependimento, se não houver fervor espiritual, o crente morno deve saber que corre o risco de ser vomitado da boca do próprio Deus (3.16).


5. JESUS CONVIDA AO ARREPENDIMENTO
Jesus conclama a Igreja ao arrependimento (2.4, 16, 21-24, 3.3, 19).Jesus passeia no meio dos candelabros (2.1), ele anda no meio da Igreja esquadrinhando mentes e corações. Ele enaltece as virtudes, mas também recrimina o pecado, advertindo quanto aos perigos que a Igreja está correndo se persistir no erro, tudo visando à cura e à restauração da santidade da Igreja. Pois o Pai repreende ao filho porque o ama e lhe quer bem (3.19). Jesus concede tempo e oportunidade para o arrependimento até mesmo daquela falsa profetiza Jezabel (2.21)! E para a mais carnal e pecaminosa de todas as sete igrejas, Jesus ainda estende este carinhoso convite, dizendo: “Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei e cearei com ele, e ele comigo” (3.20). Jesus está à porta batendo. Ele não está com um pé de cabra querendo entrar à força. Ele não nos empurra o Evangelho goela à baixo. Jesus não arromba a porta de nosso coração, pois deseja que sejamos receptivos ao seu convite amoroso. Só não aceita quem não quer. Ele não quer filhos contrariados dentro de sua casa. Se o filho quer ir embora, pode ir, mas se volta arrependido, mesmo estando em frangalho, ferido e quebrado, é recebido com beijos, abraços e muita festa! (Lc 15.11-24)


6. JESUS MOTIVA MOSTRANDO AS RECOMPENSAS
Jesus estimula sua Igreja mostrando os galardões ou recompensas que os fiéis receberão no final de sua jornada cristã. O vencedor comerá da árvore da vida que está no Paraíso de Deus (2.7), aquele que for fiel até a morte receberá a coroa da vida (2.10), o vencedor receberá ainda o maná escondido e uma pedra branca com um novo nome nela escrito (2.17), o que vencer e for obediente até o fim receberá autoridade sobre as nações e receberá a estrela da manhã (2.26-28), os vencedores que não contaminaram as suas vestes, andarão com Jesus, vestidos de branco, pois são dignos, e, por isto mesmo, jamais terão o seus nomes apagados do livro da vida, mas serão reconhecidos diante do Pai celeste (3.4-5), o vencedor servirá perpetuamente em posição privilegiada como coluna no santuário de Deus, e receberá em si a inscrição do nome de Deus, do Senhor Jesus Cristo e de sua santa cidade celestial (3.12), e, por fim, o vencedor receberá o direito de sentar-se juntamente com Cristo no seu trono assim como Jesus venceu e recebeu o direito de sentar-se no trono do Pai (3.21). A coroa da vitória é promessa garantida aos que combateram o bom combate, completaram a carreira, e guardaram a fé (2 Tm 4.7). Somos, assim, estimulados à desenvolver nossa salvação como temor e tremor e também à nos empenharmos para confirmar nossa eleição sabendo que é desta forma que estaremos ricamente providos para entrar no Reino Eterno de nosso Senhor e Salvador (2Pe 1.10.11).


7. ÚLTIMA EXORTAÇÃO DE JESUS
No final de cada uma das sete cartas, Jesus dirige uma última exortação, dizendo: “Aquele que tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas” (2.7, 11, 17, 29; 3.6, 13 e 22). Como também alertou o autor de Hebreus: “Hoje, se vocês ouvirem a sua voz, não endureçam o coração... cuidado, irmãos, para que nenhum de vocês tenha coração perverso e incrédulo, que se afaste do Deus vivo” (Hb 3.7-12). O Espírito de Cristo está falando e batendo a porta. Ele nos ama e quer o nosso bem, desejando ter comunhão conosco. “Por isso é preciso que prestemos maior atenção ao que temos ouvido, para que jamais nos desviemos. Porque, se a mensagem transmitida por anjos provou a sua firmeza, e toda transgressão e desobediência recebeu a devida punição, como escaparemos, se negligenciarmos tão grande salvação?” (Hb 2.1-3a). Portanto, “Aquele que tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas”!


*Bispo José Ildo Swartele de Mello
Casado com Ana Cristina, pai de três filhos: Samuel, Daniel e Rafael, é também Professor de Teologia, Escatologia e Evangelização na Faculdade Metodista Livre. Formado em Bacharel pela Faculdade Metodista Livre, cursou Mestrado em Teologia na Faculdade Teológica Batista de São Paulo e fez Doutorado em Ministério na Faculdade Teológica Sul Americana. Pastor desde 1986 (Cidade Ademar 86-88; Vila Guiomar 89; Vila Bonilha 90-97, Aeroporto 98-2004), serve atualmente como Pastor da Imel de Mirandópolis, como Bispo da Igreja Metodista Livre do Brasil e como presidente do Concílio Mundial de Bispos.

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Foto: Bispo Jose Ildo Swarlete Melo