terça-feira, 27 de julho de 2010

O caráter de Deus e a predestinação

2 - O caráter de Deus e a predestinação

John Wesley

Apresentam-se então o livre arbítrio de um lado e a condenação do outro. Vejamos qual é o plano mais defensável, se o absurdo do livre arbítrio, como alguém pensa ser, ou se o outro com o absurdo da condenação. Se for do agrado do Pai das luzes abrir os olhos do nosso entendimento, vejamos qual destes contribui mais para a glória de Deus, para a manifestação dos seus glorioso atributos, da sua sabedoria, justiça e misericórdia aos filhos dos homens.
Primeiramente a sua sabedoria. Se o homem for até certo ponto livre, se pela "luz que alumia a todo aquele que vem ao mundo" lhe forem postos diante de si a vida e a morte, o bem e o mal, então quão gloriosamente aparece a multiforme sabedoria de Deus em toda a economia da salvação do homem! Querendo-se que todos os homens sejam salvos, mas não se querendo forçá-los a isso, querendose que todos os homens sejam salvos, mas não como árvores ou pedras, mas como homens, como criaturas inteligentes, dotadas de entendimento para discernir o que é bom e de liberdade para aceitá-lo ou recusá-lo, o esquema de todas as suas dispensações vai bem com este seu ôrothesis seu plano, "o conselho da vontade"! O seu primeiro passo é feito no sentido de iluminar o entendimento pelo conhecimento geral do bem e do mal. O Senhor acrescenta a isto muitas convicções internas as quais não há um homem sobre a terra que não as tenha sentido freqüentemente. Outras vezes Ele, com delicadeza, move a nossa vontade, nos impulsiona a andar na luz. Instilanos no coração bons desejos, embora talvez não saibamos de onde vêm. Ele procede desse modo com todos os filhos dos homens mesmo aqueles que não têm conhecimento da sua palavra escrita. Mas supondo-se que o homem é, até certo ponto, um agente livre, que arranjo de sabedoria é organizado! Como cada parte deste plano convém a este fim! Salvar o homem como homem. Colocarem-se a vidae a morte perante ele e então, sem o forçar, persuadi-lo a escolher a
vida...
Chegamos à sua justiça. Se o homem é capaz de escolher entre o bem e o mal, ele se torna um objeto próprio da justiça de Deus que o absolve ou o condena, que o recompensa ou pune. Mas se ele não é, não se torna objeto daquela. Uma simples máquina não capaz de ser absolvida nem condenada. A justiça não pode punir uma pedra por cair ao chão, nem, no nosso plano, um homem por cair no pecado, ele não pode senti-la mais do que a pedra, se ele está, de antemão, condenado... Será este homem sentenciado a ir para o fogo eterno preparado para o diabo e os seus anjos por não fazer o que ele nunca foi capaz de evitar? "Sim, porque é a soberana vontade de Deus". "Então, ou temos achado um novo Deus ou temos feito um"! Este não é o Deus dos cristãos. Nosso Deus é justo em todos os seus procedimentos; não ceifa onde não semeou. Ele requer apenas, de acordo com o que Ele deu, e onde ele deu pouco, pouco será pedido. A glória da sua justiça está em recompensar a cada um segundo as suas obras. Aqui se mostra aquele glorioso atributo evidentemente manifesto aos homens e aos anjos de que se aceita de cada um segundo o que ele tem e não segundo o que ele não tem. Este é aquele justo decreto que não pode passar quer no tempo quer na eternidade...
Assim Ele gloriosamente distribui o seu amor, supondo-se que esse amor recaia em uma dentre dez de suas criaturas, (não podia eu dizer uma dentre cem?), e não se importe com as restantes, que as noventa e nove condenadas pereçam sem misericórdia ; é suficiente para Ele amar e salvar a única eleita. Mas por que tem misericórdia apenas desta e deixa todas aquelas para a inevitável destruição? "Ele o faz porque o quer" Ah!, que Deus concedesse sabedoria submissa àqueles que assim falam! Pergunto: qual seria o pronunciamento da humanidade a respeito de um homem que procedesse desse modo?
A respeito daquele que, sendo capaz de livrar milhões da morte apenas com um sopro de sua boca, se recusasse a salvar mais do que um dentre cem e dissesse: "Eu não faço porque não o quero"? Como exaltarmos a misericórdia de Deus se lhe atribuímos tal procedimento? Que estranho comentário é aquele da sua própria palavra: "A sua misericórdia é sobre toda a sua obra!"...
A soberania de Deus aparece: 1) Em fixando desde a eternidade aquele decreto sobre os filhos dos homens de que "aquele que crer será salvo" e o "que não crer será condenado". 2) Em todas as circunstâncias gerais da criação, no tempo, lugar, no modo de criar todas as coisas, em nomear o número e as espécies das criaturas visíveis e invisíveis. 3) Em conceder talentos naturais aos homens, estes a estes e aqueles àqueles. 4) Na disposição do tempo, do lugar e das outras circunstâncias exteriores tais como pais e amigos atendendo ao nascimento de cada um. 5) Na dispensação dos vários dons do seu Espírito para a edificação da sua Igreja. 6) Na ordenação de todas as coisas temporais tais como a saúde, a fortuna, os amigos, todas as coisas que carecem de eternidade. Mas é claro que, na disposição do estado eterno dos homens, não somente a soberania, mas a justiça, a misericórdia e a verdade mantêm as rédeas. O governador do céu e da terra, o Eu, Sou, sobretudo o Deus bendito para sempre, com aquelas qualidades, dirige e prepara o caminho diante da sua face.

Obras: "A predestinação calmamente considerada"
______
BURTNER, R.W. e CHILES, R.E., compiladores. Coletânea de Teologia de John Wesley. Rio de Janeiro: Instituto Metodista Bennett, 1995. 2ed., 50-54
(X,232-36).

Gravura: Imagem de John Wesley.


quarta-feira, 21 de julho de 2010

Sobre a obediência aos mandamentos de Deus em geral.

Jacobus Arminius

Disputa 70

SOBRE A OBEDIÊNCIA AOS MANDAMENTOS DE DEUS EM GERAL.

1. Como o submeter da obediência é o dever de um inferior, portanto, para a realização da mesma, a humildade é necessária. Esta, geralmente considerada, é uma qualidade pela qual, qualquer um se torna pronto à submeter-se a outro, para realizar e executar suas ordens, e, neste caso, para submeter-se a Deus.

2. Obediência diz respeito em parte a um ato interno e, em parte a um externo. O desempenho dos dois é necessária para a completa obediência, verdadeira e sincera. Porque Deus é Espírito, e o observador de corações, que exige a obediência de todo o homem, tanto do homem interior como do exterior - a obediência pelas inclinações do coração e dos membros do corpo. O ato externo sem o interno é a hipocrisia, e o interno, sem o externo, é incompleto, a menos que o homem seja impedido da realização do ato externo, sem sua imediata culpa.

3. Com isto, quase coincide a expressão dos teólogos escolásticos" para executar uma ordem, ou de acordo com a substância do ato somente, ou igualmente de acordo com a qualidade necessária e o modo, " em qual sentido, igualmente, Lutero parece ter pronunciado essa expressão - " Advérbios salvação e maldição."

4. A graça e a concordância especial de Deus são necessários para o desempenho de toda a obediência, verdadeira e sincera, até mesmo para o homem interior, das inclinação do coração, e de um modo lícito. Porém permitimos que ela seja feita uma matéria de discussão, se a revelação, e aquela assistência de Deus, que é chamado de "geral", e que é contrário a esta ajuda especial, e distinta dela, seja suficiente para realizar o ato externo do corpo e da substância do ato.

5. Apesar de que a graça especial que se move, excita, estimula e incita a obedecer, fisicamente move o entendimento e a inclinação do homem, de modo que não possa ser de outra maneira do que afetado com a percepção dela, ainda ela não efetua ou alicia o consentimento exceto moralmente, ou seja, pelo modo da persuasão, e pela intervenção da vontade livre do homem, que a vontade livre não só exclui coerção, mas igualmente toda a antecedente necessidade e determinação.

6. Mas, que a especial concorrência ou assistência da graça, que é também chamado de graça "cooperante e de acompanhante" não difere em espécie, nem em eficácia dessa graça excitante, que é chamado de preveniente e operante, mas é a continuação da mesma graça. É denominada "cooperante" ou "concomitante", só por conta da concomitância da vontade humana, que a graça operante e preveniente aliciou da vontade do homem. Esta concomitância não é negada a quem a graça excitante é aplicada, a menos que o homem ofereça resistência à graça excitante.

7. Dessas premissas, podemos concluir que um homem regenerado é capaz de agir melhor do que ele faz, e pode deixar mais o mal do que ele deixa, e, portanto, que nem no sentido em que é recebido por Santo Agostinho nem naquele em que algum do nossos teólogos compreendem, é a graça eficaz necessária para o desempenho de obediência - uma particularidade que é muito harmoniosa com a doutrina de Santo Agostinho.

COROLÁRIO

Coação apenas limita a liberdade de um agente, não a destrói ou a tira fora, e tal circunscrição não é feita, exceto por meio de intervenção ou da inclinação natural, a inclinação natural, portanto, é mais contrária à liberdade do que a coação o é.

Tradução: Lailson Castanha.
_______
Fonte: ARMINIUS, Jacobus. The Works Of Arminius.Vl.2.
http://wesley.nnu.edu/arminianism/arminius/arminius.htm 

sábado, 17 de julho de 2010

Sobre a causa do pecado universal.

Jacobus Arminius

10. SOBRE A CAUSA DO PECADO UNIVERSAL

1. Embora o pecado não possa ser cometido por ninguém exceto por uma criação racional, e, por isso, deixa de ser um pecado, por esta mesma circunstância, se sua causa for atribuída a Deus; no entanto, parece possível, por quatro argumentos, fixar essa acusação sobre o nossos teólogos. "Segue-se de sua doutrina de que Deus é o autor do pecado".

2. A primeira razão. - Porque eles ensinam que, "sem previsão do pecado, Deus absolutamente decidiu declarar sua glória através da justiça punitiva e da misericórdia, na salvação de alguns homens e na condenação de outros".

Ou, como outros deles afirmam: "Deus resolveu ilustrar a sua própria glória pela demonstração da graça salvadora, a sabedoria, a ira, habilidade e poder mais gratuito, na salvação de alguns homens em particular, e na condenação eterna de outros; que não pôde ser feito, nem foi feito, sem a entrada do pecado no mundo."

3. Segunda razão. - Porque eles ensinam "que, para alcançar aquele fim principal e supremo, Deus ordenou que o homem devesse pecar e se tornar corrompido e, pelo qual, Deus abriu um caminho próprio para a execução do presente decreto."

4. Terceira razão. - Porque eles ensinam que "Deus negou ao homem, ou tenha retirado do homem, antes de pecar, a graça necessária e suficiente para evitar o pecado", que é equivalente a isso - como se Deus tivesse

491

imposto uma lei sobre o homem que era simplesmente impossível de ser executada ou observada por sua própria natureza.

5. Quarta razão. - Porque eles atribuem a Deus alguns atos, em parte externo, em parte, mediato, e em parte imediato, que, uma vez sendo estabelecido, o homem não foi capaz de fazer o contrário do que pecar por necessidade de uma consequente e antecedente coisa em si, que inteiramente tira toda a liberdade, contudo, sem essa liberdade um homem não pode ser considerado, ou contado, como sendo culpado do cometimento de pecado.

6. A quinta razão. - Testemunhos da mesma descrição pode ser adicionada em que nossos teólogos afirmam, em palavras expressas que "o reprovado não pode escapar da necessidade de pecar, especialmente porque esse tipo de necessidade é injetada através da nomeação de Deus". (Institutas de Calvino Lib. 2, 23).

Tradução: Lailson Castanha
______
Fonte: ARMINIUS, Jacobus. The Works Of Arminius.Vl.2
http://wesley.nnu.edu/arminianism/arminius/arminius.htm#2