5. SOBRE A PREDESTINAÇÃO PARA A SALVAÇÃO, E SOBRE A CONDENAÇÃO CONSIDERADA NO GRAU MAIS ELEVADO
1. O primeiro na ordem dos decretos divinos não é o da predestinação, pelo qual Deus preordenou para fins sobrenaturais, e por que ele resolveu salvar e condenar, declarar sua misericórdia e sua justiça punitiva, e ilustrar a glória da sua graça salvadora, e da sua sabedoria e poder que correspondem a essa graça gratuita.
2. O objeto da predestinação para fins sobrenaturais, para a salvação e morte, para a demonstração da misericórdia e da justiça punitiva, ou da graça salvadora, a sabedoria e o poder mais livre de Deus, não é criaturas racionais indefinidamente conhecidas de antemão , capazes de salvação, de perdição, da criação, da queda, e de reparação ou de serem recuperadas.
3. Também não é o sujeito, algumas criaturas particulares entre aquelas que são considerados deste modo.
485
4. A diferença entre os vasos para a honra e os para desonra, isto é, de misericórdia e ira, não tem referência a adorno ou a perfeição do universo ou da casa de Deus.
5. A entrada do pecado no mundo não tem referência à beleza do universo.
6. A criação, no estado reto da justiça original não é um meio para a execução do decreto de predestinação, ou de eleição, ou de reprovação.
7. É horrível para afirmar que "o meio da reprovação é a criação, no estado reto da justiça original"; (Gomarus, em suas teses sobre a Predestinação;) e nesta afirmação são propostas duas volições contrárias de Deus a respeito de uma e mesma coisa.
8. É uma afirmação horrível, que "Deus predestinou qualquer homem, Ele se agradou não somente com a condenação, mas igualmente com às causas da condenação." (Beza, vol. I, fol. 417.)
9. É uma afirmação horrível, que "os homens são predestinados à morte eterna, pela vontade revelada ou a escolha de Deus, sem qualquer demérito da parte deles." (Calvin, Inst. L. I, c. 2, 3).
10. Esta, também, é uma afirmação horrível: "Alguns homens foram criados para a vida eterna, e outros para a morte eterna."
11. Não é uma expressão feliz, que "a preparação para a destruição não é para ser referida a qualquer outra coisa, que o conselho secreto de Deus".
12. A permissão para a queda [de Adão] no pecado, não é o meio de execução do decreto da predestinação, ou da eleição, ou da reprovação.
13. É uma afirmação absurda, que "os deméritos dos réprobos são os meios subordinados de levá-los diante à destinada destruição."
14. É uma afirmação falsa, de que "a causa eficiente e suficiente, e material da predestinação, são deste modo, encontradas naqueles que são reprovados."
15. Os eleitos não são chamados "vasos de misericórdia" na relação de meio e fim, mas porque a graça é única causa movente, através da qual é feito o próprio decreto da predestinação para a salvação.
486
16. Nenhuma pequena injúria é infligida a Cristo como mediador, quando ele é chamado de "a causa subordinada da salvação destinada".
17. A predestinação dos anjos e dos homens diferem muito umas das outras, que nenhuma propriedade de Deus pode ser prefixado em ambos, a menos que sejam aceitos numa ambígua acepção.
Obs: Em uma das teses de que Arminius rejeita (14) , o teólogo se apropria de termos aristotélicos como causa eficiente e material, conceitos mais especificamente ligados as causas envolvidas na constituição das coisas. Em sua Metafisica Aristóteles enumera quatro causas, a saber:
Causa material — do que é feito a coisa.
Causa formal — o que determina forma das coisas.
Causa eficiente — o que faz a coisa.
Causa final — a finalidade de quem cria.
Causa formal — o que determina forma das coisas.
Causa eficiente — o que faz a coisa.
Causa final — a finalidade de quem cria.
Tradução: Lailson Castanha
______
Fonte: ARMINIUS, Jacobus. Works of Arminius Vl 2
O pressuposto bíblico é o Deus triúno que deu origem a todas as coisas que existem além dEle (como ser, não como lugar de existência, pois todos somos e existimos nEle). Acontece que, Deus revelou que essa predestinação é conforme o beneplácito de Sua vontade, como fala em efésios. De qualquer forma, mesmo que a eleição fosse segundo quem aceitasse, AINDA ASSIM, a eleição pressuposicionalmente seria a partir da vontade de Deus. Se Deus é o criador de tudo, incluindo o homem e suas volições, desejos e anseios, Deus também é o criador da vontade de "aceitar" a Ele. O que o arminiano não entende é que o mecanismo do "livre-arbítrio" humano destitui Deus de sua Onipotência e Onisciência. É por isso que defendo que somente Deus possui livre-arbítrio.
ResponderExcluirFarias
ResponderExcluirNão consegui compreender muito bem esse artigo caríssimo Lailson, você poderia me explicar com suas palavras como interpretrar o verso de romanos 9 quando diz: "Vasos [preparados para a desonra]"
Gostaria que, se possível me explicasse também o verso de provérbios 16.4 quando diz que Deus fez o ímpio para o dia da calamidade.
Desde já agradeço. Estou aprendendo muito com seu blog!
Saúde!
Companheiro Anônimo, (que postou seu comentário no dia 06.08.12), saúde.
ResponderExcluirPondere sobre esse texto:
Descobrindo-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito, que propusera em si mesmo,
De tornar a congregar em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra;
Efésios 1:10
Nele, digo, em quem também fomos feitos herança, havendo sido predestinados, conforme o propósito daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade; (Efésios 1. 9, 10,11)
Você usa um termo muito importante para compreender a visão arminiana a respeito da eleição. O termo beneplácito segundo o Aulete significa: aprovação de um ato, de um pacto; concordância com eles, ou seu consentimento. Perceba que beneplácito implica o estabelecimento de alguma determinação.
As Escrituras afirmam:
Porque isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador,
Que quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade.
(1 Tm 2. 3, 4)
Vimos que há um bleneplácio, Vimos também que é agradável ao senhor que todos se salvem, porém, porém, em seu beneplácito Deus estabeleceu que seriam salvos os que cressem, e apenas os que crerem. Logo fica claro que os eleitos de Deus são os que crerem, ou seja, os que respondem a esse chamado. Como se diz:
E o Espírito e a esposa dizem: Vem. E quem ouve, diga: Vem. E quem tem sede, venha; e quem quiser, tome de graça da água da vida. (Ap 22.17).
Deus não é criador de tudo, ele é sustentador de tudo. Ele criou Lúcifer, porém não criou a mentira, que segundo as Escrituras é produto de Satanás, o pai da mentira, como nos revela Jesus por meio do Evangelho joanino: “(...) porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira.”(Jo 8.44).
Deus CRIOU OS ANJOS E OS HOMENS, PORÉM NÃO PODE SER O CRIADOR DO PECADO, que é a infidelidade aos preceitos que Ele estabeleceu, “porque não pode negar-se a si mesmo.” (2 Tm 2.13). Ou seja, Deus não pode ser santo, e ao mesmo tempo desejar criar algo que afronte a sua santidade. Deus não pode ser justo, e ao mesmo tempo desejar a injustiça.
João afirma que “Todo aquele que vive habitualmente no pecado também vive na rebeldia, pois o pecado é rebeldia. (1 Jo 3.4). Ora, se Deus é Santo e Reto, nenhuma rebeldia pode vir dele. O que ocorre é que, criando o homem com liberdade de exercer escolhas, Deus possibilitou a vivência do mal, que é o afastamento de sua vontade.
Companheiro Farias, saúde.
ResponderExcluirEm Romanos 9.20, 21 está escrito:
Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim?
Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para uso honroso e outro para uso desonroso?
(Rm 9. 20, 21)
Essa assertiva é uma resposta de Paulo aos judeus que não aceitavam o fato de Deus ter glorificado a Igreja, ou seja os partícipes da Nova Aliança, colocando os judeus que se apegavam a Lei, em uma posição de desonra. Com isso, o apóstolo queria reafirmar que a rejeição de Israel, que se apegava a Lei, não ia contra a justiça de Deus que outrora havia estabelecido o Antigo Pacto. Para você compreender melhor, você deve perguntar para o texto: Quando o apóstolo Paulo afirma, para quem ele estava afirmando: Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim? –. Ele se dirigia aos judeus que não aceitavam se submeterem efetivamente ao Novo Pacto, e ainda tentavam fazer os gentios, alcançados pela Nova Aliança, se sujeitarem a Lei.
Portanto, eles não tinham o direito de questionar sua posição de desonra diante da igreja gentílica. Se você ler o capítulo 11 alcançará maior compreensão do que digo.
Já o texto Provérbios 16.4, nos indica que tudo é alcançado pela sábia providência.Até mesmo o mal, e aquele que o pratica, já tem um lugar preparado. Em Eclesiastes 7.29 está escrito: “Deus fez o homem reto, mas ele se meteu em muitas astúcias.” Esse homem feito por Deus originalmente reto, que se torna perverso, também será usado para a Glória a Deus, porque até mesmo a corrupção do homem, manifestará a glória de Deus sob forma de JUSTIÇA. Pensar de outra forma é desconsiderar a totalidade das Escrituras que destaca a retidão de Deus e sua pureza. Com Tiago ressaltamos que nada tentador pode vir de Deus.
Ninguém, sendo tentado, diga: De Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta.Tiago 1.13
Saiba que suas questões e dos demais que postam no espaço para comentários, muito me desafiam. Respondê-las torna-se um desafio para minhas convicções. Portanto, é com seriedade que procuro respondê-las.
Mas quem disse que Deus nega a si mesmo sendo Ele a causa última da ocasião do pecado? Não está Ele afirmando ser Deus, tendo total controle de sua criação?
ResponderExcluirAdemais, porque Deus não pode ser o autor dessa ocasião de pecado? Eu vos pergunto então, quem o é? O homem é criação de Deus, isso o inclui inteiramente, da volição ao corpo material.
Companheiro Anônimo (que postou seu comentário no dia 09.08.12),
ResponderExcluiro que estou negando, é a sua assertiva, a saber: Deus é o criador de tudo, incluindo o homem e suas volições, desejos e anseios. Ora, se Deus é criador de TUDO, torna-se criador do pecado, que é a negação de sua condição santa e reta.
Deus é autor do homem. Este por sua vez, tem o seu livre arbítrio e potencialidades para inaugurar através de sua escolha a rebelião contra os preceitos estabelecidos por Deus. Portanto, Deus é o autor do homem e de sua capacidade de se rebelar contra os preceitos por ele estabelecidos, pois deu ao homem o livre arbítrio. Porém, o autor do pecado é o agente com o seu livre arbítrio, e não Deus.
Henri Ford é criador do automóvel – isso não o torna criador do atropelamento por auto. O motorista que dirige o automóvel, na posse de seu automóvel, recebeu a potência para se transformar em um atropelador por auto; esse homem é o autor do atropelamento, não Henri Ford que, com a criação do automóvel, ofereceu ao motorista o carro e a potência para se tornar um atropelador por auto.
Saúde.
Eu vou continuar sendo chato em uma coisa: Determinismo é conceito metafísico, não teológico... me pergunto por que insistem em usar essa expressão ao tratar da teologia cristã
ResponderExcluirCompanheiro Anônimo (postagem de 26 de agosto de 2012 19:32 ), saúde.
ResponderExcluirO importante sobre o uso do termo é o conceito que carrega. A teologia, assim como é feita no Ocidente, não se desvencilha dos conceitos filosóficos, pelo contrário, se apropria.
"o que estou negando, é a sua assertiva, a saber: Deus é o criador de tudo, incluindo o homem e suas volições, desejos e anseios. Ora, se Deus é criador de TUDO, torna-se criador do pecado, que é a negação de sua condição santa e reta.
ResponderExcluirDeus é autor do homem. Este por sua vez, tem o seu livre arbítrio e potencialidades para inaugurar através de sua escolha a rebelião contra os preceitos estabelecidos por Deus. Portanto, Deus é o autor do homem e de sua capacidade de se rebelar contra os preceitos por ele estabelecidos, pois deu ao homem o livre arbítrio. Porém, o autor do pecado é o agente com o seu livre arbítrio, e não Deus.
Henri Ford é criador do automóvel – isso não o torna criador do atropelamento por auto. O motorista que dirige o automóvel, na posse de seu automóvel, recebeu a potência para se transformar em um atropelador por auto; esse homem é o autor do atropelamento, não Henri Ford que, com a criação do automóvel, ofereceu ao motorista o carro e a potência para se tornar um atropelador por auto. "
Lailson, acho que vc não entendeu totalmente a minha objeção. Eu quero saber como é possível a existência de algo (uma escolha humana) que determina o conhecimento divino. Molina desconsidera é que, para Deus, não existem “futuríveis”. Se alguma coisa pudesse existir anteriormente à causalidade divina, Deus não seria a Primeira Causa, mas causa segunda, na medida em que é determinado – pela essência desse algo –, a conhecê-lo. E isto é ainda mais absurdo, se levarmos em conta que, em Deus, a simplicidade impõe que não haja distinção entre essência e atributos! Vemos, portanto, que, nem a título de coisa conhecida, alguma coisa pode ser causa da ciência de Deus!
Companheiro anônimo (postagem 2 de setembro de 2012 07:21),
ResponderExcluirciência é constatação. O que ocorre não é que a escolha humana determina o conhecimento de Deus – em verdade, é o conhecimento de Deus que previamente constata a escolha humana. Deus já sabe o que ocorre(rá) no futuro. Poderia ele impedir? – Sim, porém, soberanamente prefere permitir que algumas situações que sua ciência já constatou, sejam frutos da liberdade do alvedrio humano.
Deus é a primeira causa porque é a potência que proporciona o movimento, não que positivamente determina o movimento. Deus como potencia dá o fôlego de vida permite o movimento humano, sustenta a vida – neste sentido ele é a Primeira Causa, ou seja, a causa que possibilita qualquer outro tipo de ação. Para Deus existem sim possibilidades condicionais, tanto que as promessas e ameaças estão relacionadas a essas possibilidades. A segunda causa seria a continuidade da ação promovida pelo homem no uso das possibilidades proporcionadas por Deus.
Se tudo o que ocorre for estabelecimento direto de Deus, a ideia de relação fica esvaziada, tornando-se impossível. As Escrituras afirmam que o Pai trabalha. Se tudo é puro estabelecimento divino, Deus nada teria a fazer, pois já está estabelecido, não necessitando de relação ou comunicação ulterior.
Saúde.
Olá amigo Lailson,
ResponderExcluirVocê sabe me falar qual a diferença da doutrina da predestinação Luterana para a calvinista?
JOw
Companheiro JOw, saúde.
ResponderExcluirSe desejarmos abordar a doutrina da predestinação, por necessidade, devemos também abordar a questão da fé e da justificação. Pois o conceito de predestinação não pode ser explorando com a exclusão desses dois conceitos.
Tanto em Lutero como em em Calvino a justificação se dá, unicamente, e apenas, através da fé. Ou seja, é pela fé que somos justificados; pela fé em Cristo somos considerados justos. Na teologia luterana, significar que a fé justifica é entender que é pela fé, e unicamente pela fé que recebemos perdão dos pecados e a reconciliação possibilitada no ato sacrifical de Cristo na Cruz.
O entendimento calvinista de que a justificação se dá, unicamente, e apenas, através da fé, entre outras coisas aponta que o homem nada tem em si para se autojustificar, toda a justiça que recebe lhe é imputada pela ação da graça. No calvinismo entende-se que, quem justifica é quem Deus, em Cristo, por meio da fé; a fé é o canal de seu ato justificador. Essa ênfase, de ser a fé ser apenas o canal. Em Calvino a fé é o único canal pelo qual Deus transmite a justificação, porém, não se deve tratar a fé como a causa da justificação, e sim a ferramenta pela qual Deus usa para transmitir a justificação a seu eleito. Nesse aspecto há uma concordância entre as duas tradições teológicas.
As diferenças entre luteranismo e calvinismo, iniciam-se no entendimento de ambas as tradições quanto a extensão da graça. No luteranismo a graça é universal, ou seja, crê-se como luterano, que Deus, em Cristo, realmente justificou o mundo, e, entendendo mundo como designação universal de todas as pessoas, ou seja, o sacrifício de Cristo não foi executado apenas em favor de um grupo de eleitos, e sim, por todos os pecadores, sem exceção. Segundo o luterano McGrath, Cristo efetivamente perdoou o mundo.
Já no Calvinismo, a extensão universal da justificação é rejeitada. Entre os calvinstas crê-se que somente os eleitos são justificados; aqueles que, pelo eterno conselho de Deus, foram predestinados para adoção. Entendem os calvinistas que, se Jesus realmente houvesse morrido por todo o mundo, e não tivesse alcançado a salvação de todas as pessoas visadas por seu ato – isto poderia indicar que parte da obra de Cristo foi vã, foi desconsiderada, a saber, seu sacrifício por alguns, seu ato justificatório por alguns, não foi levado em consideração. Por isso, defendem que a única fórmula que valoriza integralmente o sacrifício de Cristo – é aquela que apresenta o ato sacrifical de Cristo direcionado apenas para os eleitos, predestinados por Deus para sua adoção pela fé em Cristo -, pois não desperdiça - em nenhum momento, o ato de Cristo, ficando manifesto que, se Cristo morreu apenas pelos que são predestinados para a salvação (os eleitos), o seu ato sacrifical alcançou pleno êxito, pois cumpriu a totalidade de seu propósito.
No luteranismo, admitir o perdão universal, não significa, de imediato, admitir a salvação universal. Para os luteranos a salvação só pode ser efetivada pela fé. Em outras palavras, embora alvo da graça de Deus, todo o pecador que não acolher o ato gracioso de Cristo, permanecendo nas práticas incrédulas, não gozará a efetivação da obra de Cristo em sua vida, em sua incredulidade, não alcançará a salvação. Apesar de ter os seus pecados perdoados, não alcançam a salvação por que, sem fé, não creem na obra de Cristo. Se o justo viverá por fé, sem fé, por outro lado, sem fé, ninguém terá a vida eterna. Portanto, no luteranismo, é a pessoa não é condenada pelos seus pecados, pois esses em Cristo já foram perdoado, ela morre pela sua incredulidade.
Na tradição reformada, a condenação se dá pelo fato de os réprobos serem pecadores e terem ainda em vigência suas culpas, seus débitos. Não sendo alvos da expiação de Cristo, e como tais, não serem justificados por Cristo, não alcançam a fé e, por consequência, não alcançam o perdão que renda em salvação.
ResponderExcluirÉ muito importante acrescentarmos, que boa parte da sistematização da doutrina luterana em relação a predestinação é pós-Lutero, ou seja, começa a definir-se a partir de Philipp Melanchthon, em Lutero ainda percebe-se uma radicalidade semelhante à Calvino, como se pode perceber em suas palavras:
Assim Deus esconde sua eterna bondade e misericórdia sob ira eterna, sua justiça sob iniquidade. Este é o grau mais alto de fé, crer que ele seja misericordioso quando ele salva poucos e condena muitos, e crer que ele seja justo quando por sua própria vontade ele nos faz necessariamente condenáveis, de forma que ele pareça, de acordo com Erasmo, se deleitar nos tormentos dos miseráveis e ser digno de ódio ao invés de amor.1
Lutero fala de uma dupla vontade de Deus, uma oculta, que já tem definida quem são aqueles que Deus deseja que acolha sua oferta, e a vontade pregada, que a sua oferta extensiva a todos, mesmo entre todos os que já determinou que não acolhesse sua oferta, embora, paradoxalmente, defendia que o Deus revelado, realmente morreu para os pecados de todo ser humano. Enfim, na ideia de dupla vontade, uma vontade revelada e uma vontade oculta, percebe-se claramente um paradoxo na soteriologia Lutero, tornando-a confusa Por conta desse paradoxo, Lutero e demais luteranos, defendiam que deve-se evitar discutir sobre tudo que se refere a predestinação, como se pode ler no Livro da Concórdia:
“Se nós desejamos pensar ou falar corretamente e proveitosamente sobre eleição eterna ou sobre a predestinação e ordenamento dos filhos de Deus à vida eterna, nós devemos nos acostumar a não especular a respeito da absoluta, secreta, escondida e inescrutável presciência de Deus”2.
No Final de sua vida, rejeitando comentar sobre as coisas que não nos são reveladas, Lutero declara:
Eu ensinei em meu livro Da Vontade Cativa e em outro lugar, a saber, que uma distinção deve ser feita quando alguém lida com o conhecimento, ou melhor com o tema, da divindade. Pois alguém deve debater ou sobre o Deus oculto ou sobre o Deus revelado. Com respeito a Deus, enquanto ele não é revelado, não há fé, não há conhecimento e não há entendimento. E aqui deve-se apegar à declaração que o que está acima de nós não é de nosso interesse. Pois pensamentos deste tipo, que investigam algo mais sublime acima ou fora da revelação de Deus, são completamente diabólicas. Com eles nada mais é alcançado além de um mergulho na destruição; pois eles apresentam um objeto que é inescrutável, a saber, o Deus não revelado. Por que ao invés disto não deixar Deus manter suas decisões e mistérios em segredo? Não temos razões para nos esforçar tanto para que estas decisões e mistérios sejam revelados a nós3.
Sobre o caráter paradoxal da teologia luterana, da graça universal e dupla vontade de Deus, afirma Siegbert Becker:
ResponderExcluir"As confissões luteranas, ao introduzir a doutrina da graça universal na discussão da predestinação, prefaciam este movimento com o aviso, “Disto não devemos julgar de acordo com nossa razão”. A Declaração Breve da Igreja Luterana – Sínodo de Missouri, que todos os sínodos da original Conferência Sinodal reconhecem como ortodoxo, diz destas duas doutrinas, “Razão cega de fato declara que estas duas verdades são contraditórias; mas nós impomos silêncio em nossa razão”. Assim o luteranismo se coloca contra qualquer decreto de predestinação dupla, e especificamente nega que a não eleição de homens é a causa de sua condenação”4.
Nessa afirmação, percebe-se o distanciamento do luteranismo posterior da doutrina da predestinação calvinista, do duplo decreto predestinador. Embora em Lutero pede-se perceber, ainda que de maneira fragmentária, a ideia da dupla predestinação, no luteranismo tardio, essa ideia é anuviada, ou, como se vê em A Declaração Breve da Igreja Luterana – Sínodo de Missouri, ela é descartada.
______
(1) Luther, Martin. Luther's works Vol. 1-55. Philadelphia: Fortress Press, 1999.
(2) T. G. Tappert, T. G. The Book of Concord : The Confessions of the Evangelical Lutheran Church .Philadelphia: Fortress Press, 2000.
(3) Martin Luther, Luther’s Works, vol. 12, ed. J. J. Pelikan (Philadelphia: fortress Press, 1955.
(4) Ibid.