domingo, 25 de janeiro de 2009

O equilíbrio teológico do arminianismo e um aspecto da incoerência calvinista.


Arminianismo é o sistema teológico proveniente do teólogo holandês Jacobus Arminius. Sua grande preocupação foi mostrar a soberania de Deus coadunada com sua justiça e seu amor, e, a responsabilidade do ser-humano diante disso.

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O equilíbrio do arminianismo reside no fato de que, em sua admissão à soberania de Deus, não é excluída a responsabilidade do homem, e o seu livre-arbítrio em escolher ou rejeitar a graça salvadora que lhe é oferecida.

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Segundo Jacobus Arminius dependemos da graça de Deus para escolhermos o que é bom, mas isto não exclui o fato de que podemos resistir à graciosa oferta de Deus.
Se excluíssemos o livre arbítrio do homem, naturalmente, também, estaríamos tirando-lhe a responsabilidade dos pecados cometidos, já que, se os seus pecados não são frutos de sua livre escolha, a culpa não seria sua. Outrossim, se foi Deus em seu decreto, que impediu o homem de querer o que é certo, a culpa cairia no próprio Deus, já que o homem estaria cumprindo sua ordem. Portanto, seria Deus e não o homem o autor do pecado.
O arminianismo rejeita este fato, porque admite a santidade plena de Deus, ademais, defende a idéia de que o homem tem o seu livre arbítrio porque Deus, em sua soberania lhe concedeu.
Se depois da queda o homem não consegue desejar o bem por si só, Deus com seu amor, e sem acepção de pessoas, manifesta a sua graça salvadora a todos os homens, para que através dela o homem possa desejar o que é bom. Ligado a este fato, é importante ressaltarmos a afirmação paulina de que “Deus encerrou a todos debaixo da desobediência, para usar de misericórdia para com todos” (Rm.11.32).
A punição ou o galardão que Deus dará ao homem, se dá pelo fato de que todos tiveram acesso a graça, podendo acatar ou resisti-la. Portanto, serão galardoados aqueles que acolheram a graça salvadora não resistindo ao convencimento do espírito, e serão punidos, aqueles que não acolheram a graça, resistindo ao Espírito Santo que testifica da obra redentora de Cristo.
O arminianismo é biblicamente equilibrado por que, admitindo o livre arbítrio e rejeitando a idéia de que o pecado praticado pelo homem foi decretado pela vontade soberana de Deus, leva a sério a responsabilidade do homem diante de suas escolhas, tão evidente nas Escrituras nas passagens de advertências e exortações, e também, por que, realmente crê no repúdio de Deus ao pecado, entendendo que, se Deus repudia o pecado, é por que Ele não poderia tê-lo decretado, e que o homem que o praticou, fê-lo inicialmente por sua livre vontade, jamais por um decreto Divino.
A existência do Livre Arbítrio coloca no homem a responsabilidade pelo seu pecado, e distancia o pecado de Deus, que sendo santo, jamais criaria um decreto que fizesse o homem inaugurar um mal da qual, Ele tanto repudia, e que está em contradição com o seu caráter santo e justo.
Diferindo da abordagem arminiana, o calvinismo apresenta todas as ações como efeitos de um decreto divino. Até mesmo o mal, inclusive o pecado do homem seria uma ação direta (positiva) de Deus, efeito de seu esterno decreto. Outrossim, Calvino defende a idéia que “Deus queira que se faça o que proíbe fazer”(1), se apegando nas várias passagens bíblicas que destacam Deus ordenado males, ou a utilização, por intermédio de agentes, de coisas e práticas que abomina.
As passagens usadas por Calvino não corroboram efetivamente sua proposição registrada no capitulo XVIII, no subcapítulo três do primeiro volume de seu tratado, simplesmente porque, e, isto pode ser observado no contexto de cada passagem usada pelo teólogo francês, todas as más ações ou más intentos, foram usadas por agentes já endurecidos em si mesmos, e contra pessoas ou nações obstinadas – coisa semelhante a esta, é tratada pelo apóstolo Paulo, na segunda epístola aos Tessalonicenses, como, “operação do erro” – para darem credito a mentira (2Ts.2. 11). Segundo o apóstolo, enviada “contra os não acolheram o amor da verdade para serem salvos” (2Ts.2. 10), e, exatamente, porque “não acolheram o amor da verdade para serem salvos”. Não porque dantes, desejou que os tais, não acolhessem, “o amor da verdade para serem salvos”.
O mesmo raciocínio é visto sendo tratado pelo mesmo apóstolo em sua epístola endereçada aos Romanos, na qual é narrado que, alguns homens, por conhecer a Deus e mesmo assim não o glorificaram, o próprio “Deus os entregou um sentimento perverso para fazerem coisas que não convém” (Rm. 1. 28) . Mais adiante, seguindo o mesmo juízo, o apóstolo assevera:
“(...) Mas, segundo a tua dureza e teu coração impenitente, entesouras ira para ti no dia da ira e da manifestação do juízo de Deus”
O qual recompensará cada um segundo as suas obras; a saber:
A vida eterna aos que, com perseverança em fazer bem, procuram glória, honra e incorrupção;
Mas a indignação e a ira aos que são contenciosos, desobedientes à verdade e obedientes à iniqüidade;
Tribulação e angústia sobre toda a alma do homem que faz o mal; primeiramente do judeu e também do grego;
Porque, para com Deus, não há acepção de pessoas.” (Rm.2. 5-11)
Calvino, acatando a assertiva de Agostinho, num aparente recuo, parece defender a idéia de que Deus só conduz as pessoas ao erro, como castigo ao que elas já se tornaram, ou seja, obstinada no pecado. Vejamos o que ele afirma:
(2)"A não ser que esteja enganado, já antes expliquei claramente como, em um
mesmo ato, tanto se manifesta o delito do homem, quanto refulge a justiça de Deus.
E aos espíritos comedidos será sempre suficiente esta resposta de Agostinho:“Uma vez que o Pai haja entregado o Filho, e Cristo seu corpo, e Judas o Senhor, por que nesta entrega Deus é justo e o homem réu, senão porque, em um e o mesmo ato que praticaram, a causa em função da qual o praticaram não é uma e única?”
Mas se alguns se sentem mais embaraçados com o que ora dizemos, ou, seja, que em Deus não há nenhum consenso com o homem, onde este, pelo justo impulso daquele, faz o que não lhe é de direito, que os socorra o que em outro lugar adverte o mesmo Agostinho: “Quem todo não trema ante esses juízos em que Deus opera
até mesmo no coração dos maus tudo quanto lhe apraz, contudo dando-lhes de conformidade
com seus merecimentos?”.
Só que se contradiz, juntamente com Agostinho, quando se apropria de sua seguinte idéia:
(3)E assim o mesmo escritor pondera, com muito acerto, em outro lugar, que neste
exame Deus não indaga o que os homens têm podido, ou o que têm feito, porém o
que têm querido, de sorte que o que se leva em conta é o propósito e a vontade.
Afirmando com Agostinho que "Deus opera até mesmo no coração dos maus tudo quanto lhe apraz, contudo dando-lhes de conformidade
com seus merecimentos?” ele se contraria quando admite que: “Deus não indaga o que os homens têm podido, ou o que têm feito, porém o que têm querido, de sorte que o que se leva em conta é o propósito e a vontade.”
Se Deus opera tudo o que lhe apraz no coração dos maus, levando em conta o seu merecimento, automaticamente, não está levando em conta o que tem feito os homens?
Como Deus estaria conformando a má ação ao homem, sendo que Ele mesmo“queira que se faça o que proíbe fazer”? - Se o que Deus queria que se faça o que proíbe fazer, de forma decretiva, sendo esta coisa feita, é realizada através de um agente, mas a má ação é de quem quer que se faça o que proíbe fazer, (de quem decreta), o agente apenas executa o que foi-lhe irresistivelmente determinado.
Por entender, e, tentar ressaltar que soberania Deus, não combina com o livre arbítrio do homem, o calvinismo se perde num emaranhado de conjecturas, que mal ponderadas, pode até parecer coerentes, mas, confrontando-as com a lógica escrituristica, e também com o juízo comum, fica evidente a desconexão a de suas idéias, e, a peculiar obscuridade dogmática.
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Lailson Castanha
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(1)CALVINO, João. As Institutas ou Tratado da Religião Cristã – Vol. 1.
(2) Ibdem.
(3) Ibdem .

7 comentários:

  1. O calvinismo só me traz confusão, quanto mais leio os textos calvinistas, mas confusa eu fico. Por que Deus, em sua Soberania, independentemente de qualquer coisa, iria eleger uns e reprovar outros? Isto não faz sentido, Deus seria injusto e tirano?
    Não consigo entender.

    Ana Paula - Salvador (BA)

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  2. Pois é Ana Paula, esse problema por você destacado foi também levantado por Arminius. Ele rejeitou enfaticamente a possibilidade de admitir como, proclamado por deus, um decreto tão horrivel e injusto como admitiam e ainda admitem os calvinistas.

    Abaixo, você pode ler a rejeição de Arminius às idéias de Beza e Calvino:

    É uma horrível afirmação que “Deus predestinou qualquer pessoa que Ele desejou não somente para a condenação, mas da mesma forma para as causas da condenação.” (Beza, vol. I, fl. 417.)

    É uma horrível afirmação que “homens são predestinados à morte eterna pela vontade revelada ou escolha de Deus, sem qualquer demérito [proprium] de sua parte.” (Calvino, Inst. l. 1, c. 2, 3.)

    Acesse:http://arminianismo.com/index.php?option=com_content&view=article&id=161%3A5-sobre-a-predestinacao-para-salvacao-e-sobre-a-condenacao-considerada-no-mais-alto-grau&catid=94%3Ajames-arminius-as-obras-de-james-arminius-vol2-&Itemid=100030

    Saúde.

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  3. O grande contraste: “Predestinação / Graça”
    Lendo a bíblia, comecei a meditar no Deus de amor e justiça que se reveste da imensurável graça, e que traz a salvação pela sua misericórdia a todos que o buscar.
    Todavia, como posso conciliar essa idéia de que Deus fez uns para a condenação eterna, sem chance de arrependimento , e outros a serem forçados à salvação, pela graça incondicional.
    Quando leio em Isaias o Senhor convidando o povo, profeticamente, dizendo: Buscai o Senhor enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto. É que não entendo mesmo ! Continua:
    Deixe o ímpio o seu caminho e o homem maligno os seus pensamentos e se convertam ao Senhor, que se compadecerá dele; torne para o nosso Deus que é grandioso em perdoar.Is. 15.6-7. ...mas se o ímpio se converter dos seus maus caminhos e se arrepender dos seus pecados certamente viverá, não morrerá. Se o justo, desviando-se da sua justiça e cometer impiedade, certamente morrerá...Desejaria eu de qualquer maneira a morte do ímpio? não desejo antes que se converta dos seus maus caminhos e viva? Ez. 18. 21-24.
    Todavia, como posso conciliar essa idéia de que Deus fez uns para a condenação eterna, sem chance de arrependimento, e outros a serem forçados à salvação, pela graça incondicional.
    Quando leio em Isaias o Senhor convidando o povo, profeticamente, dizendo: Buscai ao Senhor enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto.
    Deixe o ímpio o seu caminho e o homem maligno os seus pensamentos e se convertam ao Senhor que se compadecerá dele.; torne para o nosso Deus que é grandioso em perdoar.Is. 15.6-7. ...Mas, se o ímpio se converter dos seus maus caminhos e se arrepender dos seus pecados certamente viverá, não morrerá. Se o justo desviando-se da sua justiça certamente e praticar injustiça, morrerá.... Desejaria eu de qualquer maneira a morte do ímpio? Não desejo antes que se converta dos seus maus caminhos e viva? Ez. 18. 21-24.
    e Jesus disse: Vinde a mim todos vós que se achar cansados e oprimidos e eu vos aliviarei. Mt. 11.28
    É exatamente o grande contraste que vejo nessa corrente de ensinamento da predestinação, pois nosso Deus é bom, justo, amoroso, misericordioso. E nos chamou por essa graça salvadora, das trevas para a sua bendita luz.

    Laerço dos Santos.

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  4. Eu acho impossível alguem ler uma obra como: Por quem Cristo morreu? de John Owen, e ainda permanecer na dúvida quanto à eleição!

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  5. Companheiro Júniorb34, saúde.

    Quais são as ideias contidas no livro “Por quem Cristo morreu?” de John Owen, que é capaz de suprimir qualquer dúvidas a respeito da eleição?

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  6. Entendo que a obra do puritano Owen nem sequer versa sobre a eleição, tratando apenas da expiação. Apesar de não haver na prática nenhum teólogo que defenda isso, logicamente é possível ser arminiano e crer na expiação limitada defendida por John Owen. Por exemplo: Cristo teria morrido somente por aqueles a quem Deus previu que receberia livremente a graça oferecida pelo chamado geral do Espírito. Logo, o livro do Owen nada fala acerca da eleição incondicional.

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  7. Companheiro Tiago, saúde.

    Obrigado pela contribuição.
    Em relação à obra e as ideias de John Owen, confesso que sou totalmente ignorante.

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