Exortação
à vivência dos princípios auxiliadores para a confirmação da
salvação, na carta aos Hebreus
O
livro de Hebreus é um dos livros intrigantes das Escrituras. É um
livro que
nos tira
de
nossa quietude intelectual,
do
conforto da fé irrefletida e nos leva ao campo inquietante da
reflexão. Por
exemplo, em
um de
seus
trechos mais conhecido, em sua definição de fé, o leitor é
tirado do
conforto das fáceis definições e
é
colocado
diante do desafio da reflexão:
a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das
coisas que se não vêem (Hb
11.1). Podemos perguntar: como é possível um firme fundamento
baseado na esperança, e, como é possível ser prova de coisas que
não se vêem? -
Se não se vêem
como prová-las? Porém, esse rico livro , não apenas nos tira do
conforto da fácil leitura, elimina o conforto da
fé
passiva, acomodada,
impossibilitando
o
leitor,
de
se
apegar, ou
a
continuar
se apegando a
ideia da graça barata.
Depois
de explanar sobre o ministério de Jesus, de anunciador da Palavra de
Deus e de sua grandeza , da firmeza e rigor que palavra anunciada
imprime sobre os seus transgressores - o autor coloca o leitor diante
de uma inquietante e exortativa indagação: Como escaparemos nós,
se não atentarmos para uma tão grande salvação, a qual, começando
a ser anunciada pelo Senhor, foi-nos depois confirmada pelos que a
ouviram? (Hb
2.3).
Continuando sua exortação o
escritor da epístola,
relembra aos
destinatários,
os ricos meios usados por
Deus para
confirmar
e testificar a
salvação. Narra
o privilegio vivenciado pela
igreja
que teve Cristo como anunciador das Boas Novas, e, além de anunciador, um sofredor
–
que
fez de seu sofrimento, o meio para
livrar o homem da escravidão do pecado. Após a exposição de
tantos detalhes, o escritor, apresenta outra exortação - considerai
a Jesus Cristo, apóstolo e sumo sacerdote da nossa confissão (Hb
3.1)
-
“o qual é fiel ao que o constituiu” (Hb
3.2).
Essa admoestação coloca o leitor diante de um imperativo: considerai a
Jesus Cristo. Pode-se
afirmar que qualquer crente tanto os que apóstolo pretendeu enviar a carta, como os leitores posteriores, que se depararam com essa asseveração foram levados a atentarem ao exemplo de fidelidade de
Cristo, que só manterá como
sua casa “se tão somente” conservarem “firme a confiança e a glória da esperança até ao fim”. (Hb
3.6).
Perceba que aqui entra um condicional
“se”,
ou
seja, só serão considerados casa de Cristo se conservarem-se
firmes, confiante e esperançosos, e, até o fim.
Apesar de as exortações já se tornarem duras, elas não se encerram nessa frase, pelo contrário, o escritor se preocupa em prolongá-la:
Apesar de as exortações já se tornarem duras, elas não se encerram nessa frase, pelo contrário, o escritor se preocupa em prolongá-la:
Portanto,
como diz o Espírito Santo: Se ouvirdes hoje a sua voz,
Não endureçais os vossos corações, como na provocação, no dia da tentação no deserto. (Hb 3.7-8)
Não endureçais os vossos corações, como na provocação, no dia da tentação no deserto. (Hb 3.7-8)
Depois
de relembrar os erros dos judeus de outrora, que tentaram a Deus com a dureza de seus corações.
Citando os Salmos 95.7, o
escritor reforça a advertência:
Vede,
irmãos, que nunca haja em qualquer de vós um coração mau e
infiel, para se apartar do Deus vivo.
Antes,
exortai-vos uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se
chama Hoje, para que nenhum de vós se endureça pelo engano do
pecado;
Porque
nos tornamos participantes de Cristo, se retivermos firmemente o
princípio da nossa confiança até ao fim. (Hb 3.12-14)
Nesse momento, a preocupação da epístola, é alertar para o perigo
de os crentes, a semelhança dos antigos, se endurecerem pelo engano
do pecado, perdendo a firmeza e o princípio da confiança que
adquiriram. Podemos
notar intensidade da preocupação que vivencia o escritor sobre a
real possibilidade da perda da salvação dos crentes que receberão
sua carta, na
repetição de
sua exortação:
Enquanto
se diz: Hoje, se ouvirdes a sua voz, Não endureçais os vossos
corações, como na provocação. (Hb 3.15) –
e continua sua
reflexão exortativa com a seguinte argumentação: E vemos que não
puderam entrar por causa da sua incredulidade. (Hb 3.19)
E
não para:
Temamos,
pois, que, porventura, deixada a promessa de entrar no seu repouso,
pareça que algum de vós fica para trás. (Hb 4.1)
Mantendo
a sua linha argumentativa, afirma:
Cheguemos,
pois, com confiança ao trono da graça, para que possamos alcançar
misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo
oportuno. (Hb 4.16)
A
ênfase em destaque –
chegar com confiança ao trono da Graça -,
depois de tantas exortações, não deveria ser diferente, pois,
segundo
o próprio escritor, nos
tornamos participantes de Cristo, se retivermos firmemente o
princípio da nossa confiança. Pode-se
afirmar, que chegar com confiança é um dos fatores que possibilitam
o crente a alcançar misericórdia e achar graça para ser ajudado em
tempo oportuno; relembrando que – os crentes só se mantém como
casa
de
Cristo “se tão somente” conservarem “firme a confiança e a
glória da esperança até ao fim”. (Hb 3.6)
É
tão
fundamental,
para os que almejam a confirmação da salvação, se
fixarem na
fidelidade, na
confiança -
na
manutenção do apego a promessa e da fé, que
escritor faz questão de revelar que
o abandono desses exercícios espirituais impossibilitará
outra renovação para arrependimento. (Hb 6.4-6) Em outro momento afirma: Mas o justo viverá pela fé; E,
se ele recuar, a minha alma não tem prazer nele. (Hb 10.38) E não é a toa que essa carta
faz
um elogio a fé e aos Heróis
da fé, que, embora viveram distantes da promessa, não
abriram mão de sua fé.
Também,
não
é sem propósito que
na epístola, esses exercícios espirituais são exaltados,
pois, se a carta enfatiza o apego a promessa, a esperança, a
fidelidade e
a confiança como condições para tornar os crentes participantes de
Cristo, falar da fé é fundamental, pois:
“a
fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das
coisas que se não vêem”. (Hb
11.1).
A
fé é
o
fundamento da Esperança, e é através dela que a esperança nas
promessas se transforma em convicção.
“Ora,
sem fé é impossível agradar-lhe; porque é necessário que aquele
que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que é galardoador
dos que o buscam”. (Hb 11.6) Portanto,
é necessário que os crentes zelem por sua fé, pois, “o justo
viverá pela fé; E, se ele recuar,” Deus “não tem prazer nele”. (Hb 13.38)
Enfim,
falamos que o livro de aos Hebreus nos tira da comodidade intelectual
e espiritual, seus textos exigem de nós um pouco mais de reflexão,
exige a reobservação de nossos conceitos e ideias há muito tempo
enraizadas em nosso intelecto, como, e por exemplo, a questão da
nulidade do homem em relação a sua salvação.
Muitos
defendem a passividade do homem em relação a sua salvação,
defendem, se valendo da interpretação soteriológica monergista das Escrituras, que cabe apenas a Deus qualquer medida em favor da salvação
do homem, e por consequência, o homem nada faz de positivo. Os
engenheiros desse sistema soteriológico, preocupados em
eliminar o que, entendem, seria, um possível mérito humano -,
a possibilidade de o homem responder a alguns estímulos
de Deus -,
apresentam um ser esvaziado que age de acordo e com os comandos
absolutos de seu criador, sem
nenhuma resposta que não seja, a própria resposta de Deus dominante
no homem – o que seria um solilóquio. Ávidos por defender o
sistema monergista, preferem ignorar a riqueza das exortações, como
as registradas na epístola aos Hebreus, que revela ao crente que é
necessário que ele aja em favor da salvação, que há que se tomar atitudes em
prol da efetivação da salvação, que necessitam cooperarem com os meios da graça, enfim, que não há salvação monergista, já que a salvação é uma
dádiva de Deus, que exige do homem zelo e esforço para mantê-la.
Negar
que
homem,
com
o auxílio da graça, participa
e deve participar ativamente na efetivação de sua
salvação, é
negar as instruções da epístola aos Hebreus, e variados textos
bíblicos que exortam os crentes a confirmarem
sua vocação, perseverarem na
doutrina e
preservarem a sua fé além
de desconsiderar a exposição bíblica sobre responsabilidade do
homem em relação a sua salvação. Portanto, cabe a nós, fazermos uma leitura mais atenta das Escrituras, a fim de desfazermos esses equívocos interpretativos que tendem a anunciar, implicitamente, um evangelho que não exige do cristão os esforços que tanto solicitou aos crentes judeus que estavam sob o seu cuidado, o zeloso escritor da epístola aos Hebreus.
Lailson
Castanha