Emmanuel Mounier
Nunca será tarde demais para pensar sobre o sentido da liberdade.
Conheceis de certo a velhíssima história de Adão e Eva. Mesmo se não acreditais nisso, tomai a substância dela. O seu sentido é que Deus teria muito bem podido criar um ser maravilhoso, todo ele montado como um belo autômato. Mas, sendo Deus Liberdade ao mesmo tempo que Sabedoria, um ser feito à sua imagem não devia apenas ser constituído de forma a causar admiração às crianças, mas poder escolher livremente ser ou não ser essa maravilha. A árvore perigosa fora tomada como teste dessa opção era, diz a Escritura, a árvore da Ciência do Bem e do Mal: traz, sem dúvida, esse nome a fim de indicar que a mesma seiva alimenta a um tempo o Bem e o Mal, que é temerário demais querer assimilar um ou outro, sumariamente, a qualquer uma das civilizações da história. E essa árvore, final de contas, crescia em uma espécie de Paraíso. Não é, portanto, amaldiçoada a procura do saber e do poder.
Eram estes de certo proibidos até que o homem, no seu crescimento livre, amadurecesse bastante para deles não fazer uso mortal.
Ele não soube esperar, segundo a narração sagrada: a sua impaciência teve um desfecho infeliz.
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MOUNIER, Emmanuel. Sombras de medo sobre o século XX;
tradução de Salústio de Figueiredo. Rio de Janeiro: AGIR, 1958.
Foto: Emmanuel Mounier (1905 - 1950), filósofo personalista francês.
Foto: Emmanuel Mounier (1905 - 1950), filósofo personalista francês.