OS TERMOS DA SALVAÇÃO
Bispo José Ildo Swartele de Melo.
ÍNDICE ANALÍTICO
INTRODUÇÃO
1. FÉ EM JESUS, INDEPENDENTE DE ARREPENDIMENTO, SALVA?
1.1. OS ARGUMENTOS DE HODGES
1.2. REFUTANDO OS ARGUMENTOS DE HODGES
1.2.1. REDENÇÃO
1.2.2.JUSTIFICAÇÃO
1.2.3.REGENERAÇÃO
1.2.4. BATISMO
2. PODE ALGUÉM SER CRISTÃO SEM SER DISCÍPULO?
3. SUBMISSÃO AO SENHORIO DE CRISTO É INDISPENSÁVEL PARA A SALVAÇÃO?
CONCLUSÃO
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Bispo José Ildo Swartele de Melo.
ÍNDICE ANALÍTICO
INTRODUÇÃO
1. FÉ EM JESUS, INDEPENDENTE DE ARREPENDIMENTO, SALVA?
1.1. OS ARGUMENTOS DE HODGES
1.2. REFUTANDO OS ARGUMENTOS DE HODGES
1.2.1. REDENÇÃO
1.2.2.JUSTIFICAÇÃO
1.2.3.REGENERAÇÃO
1.2.4. BATISMO
2. PODE ALGUÉM SER CRISTÃO SEM SER DISCÍPULO?
3. SUBMISSÃO AO SENHORIO DE CRISTO É INDISPENSÁVEL PARA A SALVAÇÃO?
CONCLUSÃO
INTRODUÇÃO
Quais são as condições que um homem deve preencher para receber a salvação? Existe uma controvérsia entre aqueles que afirmam ser a salvação um dom gratuito de Deus. A disputa está em que, enquanto, alguns sustentam que a fé seja a única condição para que o homem seja salvo, outros afirmam a necessidade do arrependimento. Os primeiros fazem diferença entre crente e discípulo e não acreditam ser necessário uma submissão ao senhorio de Jesus Cristo para que alguém seja salvo, bastando apenas recebê-lo como Salvador e acusam o outro grupo de estarem pervertendo a graça pura do Evangelho. Já os que enfatizam a necessidade da submissão ao senhorio de Cristo não conseguem enxergar nenhuma distinção entre crente e discípulo e acusam os defensores da "graça livre" de estarem barateando o Evangelho.
Poderia alguém ser salvo sem ter se arrependido, ter fé sem ter obras, ser crente sem ser discípulo, receber Jesus como Salvador, mas não tê-lo como Senhor?
Este trabalho tem como objetivo tratar destas questões, indo um pouco além de MacArthur e Millard, na confrontação dos argumentos de Hodges, pois apresento alguns novos textos que ainda não haviam sido discutidos, bem como o tema do batismo e seu significado, que não poderia ser ignorado.
1. FÉ EM JESUS, INDEPENDENTE DE ARREPENDIMENTO, SALVA?
1.1. OS ARGUMENTOS DE HODGES
Hodges, um dos principais defensores da "Graça Livre", afirma que o caminho da salvação é muito simples, conforme as palavras de Jesus em Jo 6.47: "Em verdade, em verdade vos digo: Quem crê, tem a vida eterna." Tão simples que qualquer criança pode entender. E, que, através de versos tão simples como estes, milhões de pessoas tem encontrado a Cristo, através dos séculos. Hodges afirma que os defensores da necessidade de submissão ao senhorio de Cristo para a salvação tem transformado as palavras simples de Jesus num complexo e intrincado plano de salvação, onde as palavras de Jesus, em Jo 7.47, seriam entendidas da seguinte forma: "Em verdade, em verdade vos digo, quem se arrepender, crer, e se submeter totalmente a minha vontade, tem a vida eterna." E que todas estas adições estariam implícitas no termo "crer". Em sua opinião, isto seria um absurdo que estaria contrariando o contexto de todo o Evangelho de João, que tendo como propósito principal evangelizar (Jo 20.30,31), não menciona uma vez sequer a necessidade de arrependimento e submissão ao senhorio de Cristo visando a obtenção da salvação, mas unicamente fé.(1)
Hodges evoca os reformadores Lutero e Calvino e lembra o grande lema da reforma: "sola fide" - "fé somente" e não arependimento e fé como a única condição para a justificação e vida eterna. E é enfático ao afirmar: "fazer do arrependimento uma condição para a salvação eterna é nada menos que regressar ao dogma católico-romano".(2) Cita também, como base bíblica, Rm 4.3 e At. 16.31.
Para ele o arrependimento não tem a ver com salvação, mas sim com comunhão e um relacionamento harmonioso com a vontade de Deus. Citando a parábola do "Filho Pródigo", Hodges destaca que a restauração do filho perdido foi muito mais fácil do que ele imaginava, e que a estória não é uma simples estória sobre salvação, mas sobre como se deu o reencontro e a restauração da comunhão entre um pai e seu filho rebelde, culminando num banquete festivo. E usa o mesmo argumento para entender o texto de Lc 5.31,32, afirmando que o texto diz respeito a um convite a pecadores para se "sentarem a mesa", tendo comunhão com Deus, e que não se trata, necessariamente, de salvação. Neste sentido, arrependimento é também exigido dos cristãos (Ap 3.19-20).
Hodges conclui sua argumentação dizendo que Deus pode usar o arrependimento como um estímulo à fé, como também pode usar a gratidão, o medo, a insatisfação e uma série de outros incentivos. Mas quando se trata de um convite à salvação, suas palavras são claras: "... Aquele que tem sede, venha, e quem quiser receba de graça a água da vida" (Ap 22.17b). "Deus tem apenas um meio de dar esta água." Afirma Hodges, "Ele a dá livremente. Mas Deus tem muitos meios de fazer as pessoas desejarem a água que Ele dá."(3)
1.2. REFUTANDO OS ARGUMENTOS DE HODGES
Ao meu ver, Hodges falha ao reduzir a salvação ao aspecto da justificação. Faz questão de não usar o termo regeneração, quando diz: "Fé somente (não arrependimento e fé) é a única condição para obter-se a justificação e a vida eterna." (4) O mesmo ocorre em outros trechos como, por exemplo: "Harmonia - companheirismo - entre uma humanidade pecadora e um deus misericordioso sempre deve ser baseada em arrependimento, assim como a justificação deve sempre basear-se unicamente na fé."(5) Mas não podemos entender a salvação como se ela implicasse apenas em justificação. Para responder a Hodges, seria necessário fazer uma breve explanação da doutrina da salvação, onde trataríamos também do sacramento do batismo. Salvação significa sermos redimidos do poder das trevas e do pecado, justificados da culpa do pecado, regenerados para um novo viver, pois que adotados como filhos de Deus, devemos ser seus imitadores.
1.2.1. REDENÇÃO
O pecado separou o homem de Deus e o escravizou. Como afirma Stott: "O pecado não é meramente um ato ou hábito exterior; é uma corrupção profundamente arraigada no íntimo".(6) Muitas vezes no Novo Testamento os homens são descritos como escravos (Jo 8.31-34; Rm 6.17, Tt 3.3).
Sempre que os homens por sua própria culpa ou através de algum poder superior ficam submetidos ao controle de outra pessoa, e perdem sua liberdade para implementar a sua vontade e as suas decisões, e quando seus próprios recursos são inadequados para enfrentar aquele outro poder, podem obter de novo a sua liberdade somente mediante a intervenção de um terceiro. No NT, conforme o aspecto encarado, o grupo de palavras gr. associado com lyo, sozo, rhyomai, é empregado para expressar semelhante intervenção. lyo, "soltar" (42 vezes no NT), é usado para expressar a libertação das cadeias ou mediante o pagamento de um resgate (lytron), mas tem outras matizes de sentido que também se discutem aqui. sozo (106 vezes no NT) é o termo mais comum e tem a gama mais larga de sentidos. De modo predominante significa "salvar", "preservar" e "libertar". Aquele que menos vezes se emprega é Irhyomai (16 vezes), tem a gama mais estreita de significados, i.é, "salvar", "libertar", e assim, "livrar de um perigo ameaçador ou agudo"... No NT, esses termos se empregam de modo preeminente para a obra redentora de Cristo. (7)Stott define salvação como libertação do pecado.(8) E em outra parte ele diz:
"O que necessita o homem é de uma transformação radical da natureza, o que o Professor H. M. Gwatkin denominou 'uma transformação do ego para o não-ego'. O homem não pode operar tal coisa dentro de si mesmo. Novamente dizemos, ele precisa de um salvador... Ele morreu por nossos pecados a fim de terminar com nossa alienação e levar-nos de volta a Deus. Ele ressurgiu e enviou o Espírito Santo a fim de que os homens possam nascer de novo, recebendo uma nova natureza e sendo libertos da escravidão de seus pecados."(9)
Embora a redenção também tenha uma dimensão futura, pois a sua plenitude só virá quando da Segunda Vinda de Cristo: "...mas também nós que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo" (Rm 8.23), não podemos nos esquecer dos seus poderosos efeitos no presente, que são registrados no início deste mesmo capítulo: "Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus. Porque a lei do Espírito da vida em Cristo Jesus te livrou da lei do pecado e da morte" (8.1-2). E as implicações desta redenção são santidade e inclinação para as coisas do Espírito Santo (v.4-8). Não fomos redimidos para vivermos "segundo a carne": "Porque, se viverdes segundo a carne, caminhais para a morte; mas, se pelo Espírito mortificardes os feitos do corpo, certamente vivereis."
Paulo afirma que a nossa justificação é mediante a redenção que há em Cristo Jesus (Rm 3.24). Não há como separar estes aspectos da Salvação. Paulo é enfático ao declarar que nossa redenção é libertação do pecado: "Mas graças a Deus porque, outrora escravos do pecado, contudo viestes a obedecer de coração à forma de doutrina a que fostes entregues; e, uma vez libertados do pecado, fostes feitos servos da justiça". O apóstolo nos exorta a vida de santidade, no tempo presente, como resultado de nossa redenção, visando a vida eterna: "Agora, porém, libertados do pecado, transformados em servos de Deus, tendes o vosso fruto para a santificação, e por fim a vida eterna" (6.22). "Como viveremos no pecado, nós os que para ele morremos?" (6.1). Para Paulo, quem "morreu" para o pecado é que está justificado dele (6.7). "Porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e, sim, da graça" (6.14).
Concluo este ponto afirmando que Hodges falha em não atentar para esta "tão grande salvação" e suas implicações éticas. Falha em não perceber a interrelação e interdependência dos diversos aspectos da nossa salvação, nesse caso, em particular, da justificação e redenção. Começamos a perceber a necessidade de abandono do pecado, ou seja, necessidade de arrependimento. Isto não significa salvação pelas obras. Pois é a bondade de Deus que nos conduz ao arrependimento (2 Pe 3:9) e é "Ele quem opera em nós tanto o querer como o efetuar, segundo a Sua boa vontade" (Fl 2.14). Arrependimento e fé são a resposta do homem em relação ao dom gratuito da salvação de Deus. Se o fato do homem necessitar se arrepender, for considerado uma "obra", então a necessidade do homem de exercer fé, teria que ser considerada, igualmente, como tal.
1.2.2. JUSTIFICAÇÃO
Podemos definir a justificação como o ato sermos perdoados e recebidos pelo favor de Deus. "Ao que não trabalha, mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada para justiça" (Rm 4.5). John Wesley define a justificação da seguinte forma:
"A clara noção bíblica de justificação é o perdão de pecados. É o ato de deus Pai, pelo qual, em atenção à propiciação feita pelo sangue de seu Filho, 'mostra sua justiça (ou misericórdia), pela remissão dos pecados passados..." "Bem-aventurados aqueles cujas iniquidades são perdoadas e cujos pecados são cobertos: bem-aventurado é o homem a quem o Senhor não imputará pecado". Ao que é justificado ou perdoado, "Deus não imputará pecado" que acarrete sua condenação. Deus não o condenará por aquela razão, nem neste mundo, nem no mundo vindouro. Seus pecados, todos os seus pecados anteriores, - por pensamentos, palavras e obras, - são cobertos, são cancelados, não serão lembrados nem arguidos contra ele..." (10)
Não somos justificados através das obras da lei (Rm 3.20). A Justificação é por meio da fé (Rm 3.25; 5.1; Ef. 2.8-9). Isto não coloca de fora a necessidade de arrependimento e obediência, pois existe uma íntima relação entre os termos os verbos peitho (obedecer) e pistheo (crer). Além da estreita relação etimológica, são usados por Paulo, de tal maneira, que fica evidente que obediência é a consequência natural da fé: "... para a obediência por fé..." (Rm 1.5; 16.26). Muitas vezes obediência é usada como sinônimo de fé (Rm 6.17; Jo 3.36; At 6.7; Hb 5.9; 11.8). Paulo não concebe que alguém possa ter fé sem obediência: "No tocante a Deus professam conhecê-lo, entretanto o negam por suas obras, por isso que são abomináveis, desobedientes e reprovados para toda boa obra." (Tt 1.16).(11)
Paulo deixa claro em outra passagem a necessidade de arrependimento para a salvação: "Portanto a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens, educando-nos para que, renegadas a impiedade e as paixões mundanas, vivamos no presente século, sensata, justa e piedosamente" (Tt 2:11-12). O que tem valor para Cristo é "a fé que atua pelo amor" (Gl 5.6) e não uma fé estéril. Repare que Paulo está falando a respeito da "justiça que provém fé" (Gl 5.5). A fé que justifica é a fé que opera pelo amor.
Hodges defende que arrependimento é importante para a comunhão do homem com Deus, mas que não é necessário para a justificação. No capítulo 5 da Epístola de Paulo aos Romanos, Paulo relaciona intimamente os termos justificados e reconciliados (v.9,10). Não vejo como possa haver reconciliação sem arrependimento!
Hodges diz ser possível alguém ser justificado sem demonstrar nenhuma evidência de sua experiência com Deus, ou seja sem frutificar. Isto não parece concordar com o ensino paulino de que "... o amor de Deus é derramado em nossos corações pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado" (Rm 5.8). Paulo está tão certo disto que exorta aos Coríntios que façam um auto-exame para verificarem se realmente estão na fé (2 Co 13.5). Jesus disse: "Pelos seus frutos os conhecereis. Colhem-se, porventura, uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos?" (Mt 7.16). Fico pensando... "qual seria a resposta de Hodges à esta pergunta?" Em Jo 15, Jesus ensina que quem não der fruto será cortado da Videira, lançado fora e queimado.
Alguns estão pregando Cristo sem a cruz, o evangelho sem nenhum conseqüente requerimento, o perdão sem ao menos mencionar o arrependimento. Wesley alertou para o perigo do antinomianismo que induz as pessoas à um relaxamento moral.(12) Para ele, "fé penitente" continua sendo a única condição para que uma pessoa seja justificada, lembrando as palavras do Apóstolo Tiago: "Fé, se não tiver obras, por si só está morta" (Tg 2.17). Para Wesley, não há nenhum conflito entre Paulo e Tiago, pois enquanto Paulo fala daquela justificação que se deu com Abraão, quando ele tinha setenta e cinco anos, mais de vinte anos antes do nascimento de Isac (Rm 4.3), já Tiago se refere a justificação de Abraão no incidente da oferta de Isac (Tg 2.21). Enquanto Paulo trata da questão das obras que precedem a fé, Tiago discute a questão das obras em consequência da fé. Para Wesley nenhuma boa obra pode salvar independente da fé, mas toda genuína fé frutificará em boas obras (Ef. 2.8-10).(13)
1.2.3. REGENERAÇÃO
A regeneração, ou novo nascimento, é aquele aspecto da salvação onde o ser humano, através da poderosa ação do Espírito Santo de Deus, experimenta um renascimento interior. Jesus disse: "... se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus... Quem não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus" (Jo 3.3,5). A Enciclopédia Histórico Teológica da Igreja Cristã traz a seguinte definição:
A Bíblia concebe a salvação como a renovação redentora do homem, com base em um relacionamento restaurado com Deus em Cristo, e apresenta-a como algo que envolve "uma transformação radical e completa operada na alma (Rm 12.2; Ef 4.23) por Deus, o Espírito Santo (Tt 3.5; Ef 4.24), em virtude da qual nos tornamos 'novos homens' (Ef 4.24; Cl 3.10), já não conformamos com este mundo (Rm 12.2; Ef 4.22; Cl 3.9), mas no conhecimento e na santidade da verdade, criados segundo a imagem de Deus (Ef 4.24; Cl 3.10; Rm 12.2)" (B.B. Warfield: Biblical and Theological Studies - "Estudos Bíblicos e Teológicos", p. 351). A regeneração é o "nascimento" mediante o qual essa obra da nova criação é iniciada, assim como a santificação é o "crescimento" por meio do qual ela continua ( 1Pe 2.2; 2 Pe 3.18).(14)
Com a conhecidíssima passagem de 2 Co 5.17: "E assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura: as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas", Paulo demonstra as implicações do "estar em Cristo", ou seja, os desdobramentos da "reconciliação" (2 Co 5.17-21). Em outras palavras, todo aquele que foi justificado, foi também reconciliado, quem foi reconciliado "está em Cristo, é nova criatura", ou seja, foi também regenerado. Portanto, "nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus" (Rm 8.1), pois foram justificados; "Porque a lei do Espírito da vida em Cristo Jesus te livrou da lei do pecado e da morte", foram redimidos; "e uma vez libertos do pecado, foram feitos servos da justiça" (Rm 6.18), "Portanto os que estão na carne não podem agradar a Deus. Vós porém não estais na carne, mas no Espírito, se de fato o Espírito de Deus habita em vós. E se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele." "Estar no Espírito" é o mesmo que "estar em Cristo". E aquele que "está em Cristo" é nascido do Espírito Santo de Deus, é uma nova criatura. Porque são novas criaturas "não andam segundo a carne" (Rm 8.4, 12), "as coisas velhas já passaram" (2 Co 5.17), "mas segundo o Espírito" (Rm 8.4, 5, 9, 13), "eis que tudo se fez novo" (2 Co 5.17). Todos estes aspéctos de nossa redenção estão interligados e são interdependentes. Um outro aspécto da salvação, que também está presente no capítulo oito de Romanos15 é o da "adoção": "Porque não recebestes o espírito de escravidão para viverdes outra vez atemorizados, mas recebestes o Espírito de adoção, baseados no qual clamamos: Aba, Pai. O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus."
Todos estes cinco aspectos da nossa "Tão Grande Salvação", Reconciliação, Redenção, Justificação, Regeneração e Adoção, são inseparáveis, ninguém pode ter um sem os outros, e se dão todos no instante da conversão, pela graça de Deus. Portanto "se viverdes segundo a carne, caminhais para a morte, mas se pelo Espírito mortificardes os feitos do corpo, certamente vivereis" (8.13). Quem foi justificado também foi redimido e regenerado para andar em novidade de vida, foi reconciliado como Deus e precisa saber que "o pendor da carne é inimizade contra Deus" (8.7) e que "o pendor da carne dá para a morte", por fim, precisa saber que fomos "predestinados para sermos conformes à imagem de Seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos" (8.29). Por esta razão é possível o cristão fazer uma auto-análise para verificar se está na fé (2 Co 13.5), pois existem claras evidências, como por exemplo: "Nós sabemos que já passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos; aquele que não ama permanece na morte." (1 Jo 3.14). Paulo ensinou que quando somos justificados (Rm 5.1), o amor de Deus é derramado no nosso coração pelo Espírito Santo que nos é outorgado no momento da justificação (5.8), e é por isto que João pode afirmar categoricamente: "Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor." O amor é o que nós poderíamos chamar de fruto digno do arrependimento (Mt 3.8). "Não há árvore boa que dê mau fruto" (Lc 6.43). O apóstolo Paulo adverte com veemência: "... Não vos enganeis: nem impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas, nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem roubadores herdarão o reino de Deus. Tais fostes alguns de vós; mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados, em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito de nosso Deus" (1 Co 6.9; cf. Ef. 5.5; Ap 22.15). É preciso estar arrependido do pecado e renegar a impiedade e as paixões mundanas (Tt 2.12), pois o nosso Salvador deu-se a Si mesmo por nós para "remir-nos de toda iniqüidade e purificar para si mesmo um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras" (Tt 2.14; cf. Ef 1.4; 5.25-27). John Stott fala sobre a necessidade de Arrependimento:
É necessário, portanto, que verdadeiramente nos arrependamos, voltando as nossas costas com toda a resolução para toda e qualquer coisa que sabermos ser desagradável a ele. Não quero dizer com isso que devemos procurar melhorar em todos os sentidos antes que O convidemos a entrar. Pelo contrário, é justamente porque não podemos nos perdoar a nós mesmos ou melhorarmos nossa própria vida, que precisamos que Ele venha a nós. Entretanto, é necessário que estejamos desejosos que ele faça todo e qualquer arranjo que desejar quando Ele houver entrado. Não pode haver resistência alguma. É mister que nos entreguemos de modo absoluto e incondicional à soberania de Jesus Cristo. Não podemos estabelecer os nossos próprios termos. Que é que isso envolverá? Não posso dizer-lhe em detalhe o que seria. Em princípio, significa uma determinação para renunciar ao pecado e seguir a Cristo.(16)
Aproveitei neste bloco para falar sobre os demais aspectos da salvação, não achando necessário tratar de cada tópico isoladamente. Passo agora ao estudo do significado e propósito do batismo.
1.2.4. BATISMO
O batismo não era uma novidade nos tempos do Novo Testamento. Vários povos tinham suas purificações religiosas. Berkhof diz que estes rituais pagãos tinham muito pouco em comum com o nosso batismo cristão, mesmo em sua forma externa.(17) Entre os judeus, o chamado batismo dos prosélitos tinha maior semelhança com o batismo cristão. Os gentios para serem aceitos na religião judaica precisavam ser circuncidados e, na época de Jesus, necessitavam também serem batizados. Berkhof comenta:
"Contudo, parece que esse batismo também era uma espécie de lavamento cerimonial, um tanto semelhante a outras purificações. Às vezes se diz que o batismo de João foi derivado deste batismo de prosélitos, mas é mais que evidente que não foi este o caso. Seja qual for a relação histórica que possa ter existido entre os dois, é evidente que o batismo de João estava prenhe de significações novas e mais espirituais... acima de tudo, a diferença esta nisso -- que o batismo de João nunca poderia ser considerado uma simples cerimônia; todo ele fremia sempre de significação ética. Uma purificação do coração, do pecado, era não somente uma condição preliminar, mas seu constante objetivo e propósito." (18)
Qual seria a relação entre o batismo de João e o de Jesus? O Próprio João chamou à atenção para algumas diferenças: "Eu vos batizo com água para arrependimento; mas aquele que vem depois de mim é mais poderoso do que eu, cujas sandálias não sou digno de levar. Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo" (Mt 3.11). Isto nos faz lembrar de uma das frases que Jesus disse a Nicodemus: "... Quem não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no Reino de Deus" (Jo 3.5). O elemento distintivo do batismo cristão é a "Promessa do Pai" (At 2.39), é o dom do Espírito Santo que regenera o homem (Tt 3.5), capacitando-o a viver a vida cristã e a ser testemunha de Cristo (At 1.8). A vida cristã é uma vida gerada pelo Espírito para ser vivida no poder deste mesmo Espírito: "Se vivemos pelo Espírito, andemos também no Espírito". É pelo Espírito Santo que somos habilitados a reconhecer e confessar que Jesus é Senhor (1 Co 12.1), e é também nele que os cristão são batizados no corpo de Cristo (1 Co 12.13). "Se alguém não tem o Espírito de Cristo, este tal não é dEle" (Rm 8.9). É o Espírito Santo que testifica como o nosso espírito que somos filhos de Deus (Rm 8.16; Gl 4.5-6). Para o Apóstolo Paulo, as expressões "estar em Cristo" e "estar no Espírito" são sinônimas (Rm 8.1,9,10), e também não vê nenhum problema em denominar o Espírito Santo de "Espírito de Deus" e de "Espírito de Cristo", isto no mesmo versículo (Rm 8.9). Sua concepção da trindade é bem desenvolvida. Não se pode separar Cristo do Espírito Santo. Quem recebe a Jesus, recebe o Espírito Santo, bem como o Pai. O batismo cristão é feito "em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo" (Mt 28.19). A Bíblia ensina que os cristão são templos do Espírito Santo (6.19). Jesus disse que os cristãos não ficariam órfãos (Jo 14.18), Ele disse que estaria sempre conosco até a consumação dos séculos (Mt 28.20). Jesus afirmou que o Pai e Ele viriam e fariam morada nos cristãos (Jo 14.23). Jesus cumpre a Sua promessa enviando o Consolador: "E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre conosco" (Jo 14.16).
O batismo de Cristo é um batismo com o Espírito Santo e com fogo, o que o distinguia do batismo de João. Mas havia muitas similaridades como observa Berkhof:
O batismo de João, como o batismo cristão (a) foi instituído pelo próprio Deus, Mt 21.25; Jo 1.33; (b) estava relacionado com uma radical mudança de vida, Lc 1.1-17; Jo 1.20-30; (c) estava numa relação sacramental com o perdão dos pecados, Mt 3.7, 8; Mc 1.4; Lc 3.3 (comp. At. At 2.28) e (d) empregava o mesmo elemento material, qual seja, água. (19)
Qual seria o significado básico do Batismo? Bromiley diz que um indício do significado do batismo é oferecido por três figuras no AT:
O dilúvio (1 Pe 3.19-20), o Mar Vermelho (1Co 10.1-2) e a circuncisão (Cl 2.11-12). Todas estas figuras referem-se de modos diferentes à aliança divina, ao seu cumprimento provisório num ato divino de julgamento e de graça, e ao cumprimento vindouro e definitivo no batismo da cruz. A ligação entre água e a morte e a redenção é especialmente apropriada no caso das duas primeiras figuras; o aspécto de aliança é mais especificamente enfatizado na terceira. 20
Paulo diz que o batismo significa identificação com a morte e ressurreição de Cristo. Parece evocar a forma por imersão do batismo quando diz: "Fomos, pois, sepultados com Ele na morte pelo batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida" (Rm 6.4). Imersão - morte; emersão - ressurreição. Paulo não deixa dúvidas a respeito das implicações éticas deste significado: "Sabendo isto, que foi crucificado com ele o nosso velho homem, para que o corpo do pecado seja destruído, e não sirvamos o pecado como escravos; porquanto quem morreu, justificado está do pecado... considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus. Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, de maneira que obedeçais às suas paixões" (Rm 6.6,7,11,12).
Desta forma, não é de se estranhar que um dos pré-requesitos ao batismo seja o arrependimento: "... Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vosso pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo". O Batismo de João envolvia arrependimento e a diferença dele em relação ao de Cristo residia no dom do Espírito Santo. Pregar que para ingressar na vida cristã basta ter fé, não importando o arrependimento é corromper o ensino das Escrituras e deturpar o próprio significado do ritual de iniciação cristã. Não podemos esquecer que Jesus iniciou seu ministério conclamando as pessoas ao arrependimento (Mt 4.17). O próprio termo conversão implica em arrependimento (Mt 13.15; 18.3; Lc 1.16). Pedro relaciona arrependimento com conversão e os coloca como condição para a justificação:
"Arrependei-vos, pois, e convertei-vos para serem cancelados os vossos pecados".
Algumas passagens não mencionam o arrependimento, mas somente a fé como condição para salvação, outras mencionam apenas a necessidade do arrependimento. Hodges considera como normativas apenas as passagens onde a fé aparece como única condição desprezando as passagens que envolvem o arrependimento. Mas na verdade a Bíblia está ensinando que ambos são necessários para a obtenção da salvação. Quando um dos termos da salvação está omitido explicitamente, está embutido implicitamente.
2. PODE ALGUÉM SER CRISTÃO SEM SER DISCÍPULO?
Hodges afirma haver uma nítida distinção entre ser salvo e ser discípulo, concluindo que para ser salvo não é necessário ser discípulo. Carson percebe e comenta sobre o engano de Hodges:
"Mais difícil de ser isolada - e por esta razão mais perigosa - é a disjunção pressuposta e não expressa. Considere por exemplo a seguinte passagem de Zane C. Hodges:
É um erro interpretativo de primeira grandeza confundir os termos do discipulado com a oferta de vida eterna como um dom gratuito." ...e quem quiser receba de graça a água da vida"(Ap 22.17) é claramente um benefício incondicional. A passagem: "Se alguém vem a mim, e não... não pode ser meu discípulo" sem dúvida expressa uma relação totalmente condicional. Deixar de reconhecer esta simples distinção é provocar confusão e erros no nível mais fundamental.
De fato, não só neste parágrafo, mas também ao longo de todo o livro, Hodges pressupõe que há uma disjunção entre graça e exigência. ele nunca debate a possibilidade (a meu ver, a certeza absoluta) de que, em questões espirituais, graça e exigência não apresentam necessariamente incompatibilidade mútua: tudo depende de sua relações, propósitos, funções. O resultado dessa disjunção implícita no argumento de Hodges não é só o que em minha opinião é uma tese falsa - que a Bíblia ensina que uma pessoa pode ser eternamente salva mesmo sem qualquer vestígio de evidência disso em sua vida - mas também uma série de avaliações exegéticas e históricas extremamente problemáticas.(21)
Na Grande Comissão, registrada em Mt 28.18-20, Jesus nos dá a missão de fazermos discípulos de todas as nações. A pregação do Evangelho é um convite para ser discípulo de Jesus. O jovem rico queria saber o que precisava fazer para herdar a vida eterna (Mc 10.17), Jesus respondeu: "Só uma coisa te falta: Vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; então vem e segue-me" (Mc 10.21). Repare que a questão não é o que preciso fazer para ser discípulo, mas o que o rapaz precisaria fazer para herdar a vida eterna. Mesmo sendo esta a questão, a resposta de Jesus é uma apresentação do preço do discipulado, exige renúncia e também é um chamado para seguir. Jesus não parece fazer diferença alguma entre salvação e discipulado. Se as exigências do discipulado não se aplicassem a salvação, por que é que Jesus diria ser tão difícil para os ricos a entrada no Reino dos Céus? (Mc 10.23). Se fosse apenas uma questão de crer, que não implicasse arrependimento e renúncia, aquele jovem não teria se retirado triste. O Novo Testamento não parece fazer distinção entre crentes e discípulos (At 5.14 comp. 6.1, 7; ver também: 9.1, 10, 25-26, 38: 11.26, 19; 13.52; 14.20,22, 28; 15.10; 16.1, 18.23. "Nestas passagens, mathetes tem o sentido geral de 'cristão', alguém que crê em Jesus"22).
Em Mt 7.13-14, Jesus estabelece um nítido contraste entre a dificuldade do caminho da salvação e a facilidade do caminho da perdição. E, alguns versículos mais a frente, Ele adverte: "Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus" (v.21). Aos praticadores da iniqüidade Jesus dirá: "Apartai-vos de mim". Jesus compara aquele que ouve suas palavras mas não as pratica com um homem que construiu sua casa sobre a areia, tendo o seguinte resultado: "e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, e ela desabou, sendo grande a sua ruína" (v.27). Mais no início do Sermão do Monte, Jesus faz outra advertência: "Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus" (5.20). Não podemos ignorar tais palavras que dizem respeito a nossa entrada no reino dos céus. Fé que não produz obras é infrutífera. D. Muller diz que para se entender o discipulado de Jesus é importante reconhecer que a chamada para ser discípulo sempre inclui a chamada ao serviço. 23
3. SUBMISSÃO AO SENHORIO DE CRISTO É INDISPENSÁVEL PARA A SALVAÇÃO?
Paulo é bem claro em afirmar a necessidade de confessar a Jesus como Senhor para ser salvo: "Se com a tua boca confessares a Jesus como Senhor, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo." Confessar a Jesus como Senhor não é apenas mencionar um título, mas é, acima de tudo, o reconhecimento e a conseqüente submissão ao Seu senhorio.
Jesus disse: "Todo aquele que me confessar diante dos homens, também o Filho do homem o confessará diante dos anjos de Deus; mas o que me negar diante dos homens, será negado diante dos anjos de Deus". D. Muller comenta:
Estas palavras expressam toda promessa, e também os grandes perigos, do discipulado genuíno. É crucial a fidelidade do discípulo ao seu Senhor. (24)
Emílio Castro, falando sobre o tema "conversão", menciona uma afirmação do documento "Missão e Evangelização: Uma Afirmação Ecumênica":
A proclamação de (sic) Evangelho inclui um convite para que se reconheça e aceite, por meio de uma decisão pessoal, o senhorio de Cristo.25Castro, no final do seu artigo, diz algo simples, mas repleto de verdade: "A conversão sempre envolve a pergunta do apóstolo Paulo: 'Senhor, que devo fazer?"26 E ainda cita outra importante e elucidativa afirmação do documento já mencionado:
A conversão como um processo dinâmico e contínuo "implica um dar meia-volta de e um dar meia volta para. Sempre requer reconciliação, uma nova relação, tanto com Deus como com os demais. Implica um abandono de nossa antiga segurança (Mt 16.24) e um arriscar-se em uma vida de fé." É "conversão" de uma vida caracterizada pelo pecado, pela separação de Deus, pela submissão ao pecado e pelo potencial não realizado da imagem de Deus, para uma nova vida caracterizada pelo perdão dos pecados, pela obediência aos mandamentos de Deus, pela renovada comunhão com Deus na Trindade, o crescimento na restauração da imagem divina e a realização do amor de Cristo...(27)
Não podemos aceitar Jesus como Salvador e olvidá-lo como Senhor. Stott argumenta:
O valor da fé se acha integralmente representado em seu objeto (Jesus Cristo), não nela mesma. Contudo, a fé é um compromisso total de arrependimento e submissão a Cristo. Teria parecido inconcebível aos apóstolos alguém crer em Jesus como Salvador sem submeter-se a ele como Senhor. Não podemos partir Jesus Cristo em pedaços e depois responder somente a um dos pedaços. (28)
MacArthur é enfático quando afirma: "Ele é Senhor, e aqueles que o recusam como Senhor não podem usá-lo como Salvador"(29)
Paulo escrevendo ao cristãos romanos declarou: "nenhum de nós vive para si mesmo, nem morre para si. Porque se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. Quer pois, vivamos ou morramos, somos do Senhor. Foi precisamente para esse fim que Cristo morreu e ressurgiu; para ser Senhor, tanto de mortos como de vivos" (14.7-9). Repare que Paulo inicia dizendo "nenhum de nós", indicando sua concepção de que todos os cristãos devem estar submissos ao senhorio de Cristo.
CONCLUSÃO.
Jesus veio para que nós tivéssemos "vida abundante" (Jo 10.10) e não apenas absolvição dos pecados. A salvação que Ele nos proporciona é muito rica em todos os seus aspectos, incluindo justificação, reconciliação, remissão, redenção e adoção, não podemos reduzi-la a um único aspecto. Compreendendo melhor a natureza de nossa salvação, fica mais fácil perceber suas implicações éticas, pois que envolve perdão, libertação do domínio do pecado, recebimento do dom do Espírito Santo que opera uma transformação radical no coração do homem, denominada de novo nascimento, visando conceder a capacidade para experimentar e viver a vida cristã abundante; e somos também feitos filhos de Deus. E a resposta necessária ao Evangelho é a conversão, que implica em arrependimento e fé, que são tanto um dever do homem (At 2.38; 17.30) como também um dom divino (At 11.18; Ef 2.8).
O batismo é a expressão exterior de nossa regeneração interior. Não basta ser nascido da água, é necessário nascer do Espírito de Deus. O batismo fala de nossa identificação com a morte e ressurreição de Cristo, onde morremos para o pecado e ressurgimos para uma nova vida.
O Evangelho é um chamado ao discipulado. Ser e fazer discípulos não é uma opção para o cristão. A porta e o caminho da salvação são estreitos e poucos são os que seguem por eles. Jesus nunca ocultou o preço do discipulado. Para ganhar a vida eterna é preciso renúncia.
Para ser salvo é necessário estar debaixo do senhorio de Cristo, pois não é possível ser insubmisso à Cristo e salvo ao mesmo tempo. A fé genuína redunda em obediência. Se o chamamos de Senhor precisamos fazer o que Ele nos ordena.
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1 Hodges, Zane C. Absolutely Free. Dallas, Texas, Redención Viva. 1989, pp. 25-27.
2 Ibid., (trad.: José Ildo Swartele de Mello), p. 145.
3 ibid., (trad.: José Ildo Swartele de Mello), p. 158.
4 ibid., p. 144.
5 ibid., p. 151.
6 Stott, J. R. W. Cristianismo Básico - O que Significa Ser um Verdadeiro Cristão. São Paulo - Vida Nova. 1991, p.86.
7 Brown, Colin & Coenen, Lothar. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. Trad.": Gordon Chown. São Paulo, Vida Nova. 1983. Volume IV, p. 80.
8 Stott, J. R. W. Cristianismo Básico - O que Significa Ser um Verdadeiro Cristão. São Paulo - Vida Nova. 1991, p. 94.
9 Ibid., p. 93.
10 Harrison, Wiliam P. (Notas Introdutórias, Esboços e Perguntas). Sermões - John Wesley". Trad.: Nicodemuos Nunes. S.Bernardo do Campo/SP. Imprensa Metodista. 1985, p. 113.
11 Erickson, Millard J. Evangelical Mind and Heart (extraído dos argumentos de McArthur) Grand Radpids: Baker Book House, 1993, p. 116.
12 Oden, Thomas C. John Wesley's Scriptural Christianity - A Plain Exposition of His Teaching on Christian Doctrine. Michigan. Zondervan Publishing House. 1994, p. 10
13 Ibid., p. 206.
14 Elwell, Walter A. (Editor). Enciclopédia Histórico Teológica da Igreja Cristã. Trad.: Gordon Chown. São Paulo, Vida Nova, 1990, Vol. III, p. 256.
15 Fiquei admirado ao descobrir que, em um único capítulo, Paulo aglutinou todos os aspéctos da salvação: Justificação (8.1, 30, 33 e 34); Reconciliação (8.1, 7-11, 31, 35-39); Redenção (8.2, 21-23); Regeneração (8.3-13) e Adoção (8.14-17). O Capítulo ainda fala sobre a Santificação (8.13, 29), Glorificação (8.17, 19-25, 30) e Propiciação (8.32,34). Não conheço nenhum capítulo tão rico em matéria de conteúdo teológico quanto este!
16 Stott, J. R. W. Cristianismo Básico - O que Significa Ser um Verdadeiro Cristão. São Paulo - Vida Nova. 1991, p. 151.
17 Berkhof, Louis. Teologia Sistemática. Trad.: Odayr Olivetti. Campinas: Luz Para o Caminho Publicações, 1990, p. 627.
18 Ibid., p. 628.
19 Ibid., pp. 628-629.
20 Elwell, Walter A. (Editor). Enciclopédia Histórico Teológica da Igreja Cristã. Trad.: Gordon Chown. São Paulo, Vida Nova, 1990, Vol. I, p. 149.
21 Carson, D. A. A Exegese e Sua Falácias - Perigos na Interpretação da Bíblia. Trad.: Valéria Fontana. São Paulo: Vida Nova. 1992, pp. 89, 90.
22 Brown, Colin & Coenen, Lothar. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. Trad.": Gordon Chown. São Paulo, Vida Nova. 1983, Vol. I, p. 667
25 Steuernagel, Valdir (Editor). A Serviço do Reino - Um Compêndio sobre a Missão Integral da Igreja. Belo Horizonte: Missão Editor, 1992, p. 273.
26 Ibid., p. 283.
27 Ibid., pp. 282-283.
28 Ibid., pp. 67-68.
29 MacArthur, Gospel According to Jesus, apud Erickson, Millard J. "Evangelical Mind and Heart" (extraído dos argumentos de McArthur) Grand Radpids: Baker Book House, 1993, p.117.
Bispo José Ildo Swartele de Mello
Casado com Ana Cristina, pai de três filhos: Samuel, Daniel e Rafael, é também Professor de Teologia, Escatologia e Evangelização na Faculdade Metodista Livre. Formado em Bacharel pela Faculdade Metodista Livre, cursou Mestrado em Teologia na Faculdade Teológica Batista de São Paulo e fez Doutorado em Ministério na Faculdade Teológica Sul Americana. Pastor desde 1986 (Cidade Ademar 86-88; Vila Guiomar 89; Vila Bonilha 90-97, Aeroporto 98-2004), serve atualmente como Pastor da Imel de Mirandópolis, como Bispo da Igreja Metodista Livre do Brasil e como presidente do Concílio Mundial de Bispos.
Quais são as condições que um homem deve preencher para receber a salvação? Existe uma controvérsia entre aqueles que afirmam ser a salvação um dom gratuito de Deus. A disputa está em que, enquanto, alguns sustentam que a fé seja a única condição para que o homem seja salvo, outros afirmam a necessidade do arrependimento. Os primeiros fazem diferença entre crente e discípulo e não acreditam ser necessário uma submissão ao senhorio de Jesus Cristo para que alguém seja salvo, bastando apenas recebê-lo como Salvador e acusam o outro grupo de estarem pervertendo a graça pura do Evangelho. Já os que enfatizam a necessidade da submissão ao senhorio de Cristo não conseguem enxergar nenhuma distinção entre crente e discípulo e acusam os defensores da "graça livre" de estarem barateando o Evangelho.
Poderia alguém ser salvo sem ter se arrependido, ter fé sem ter obras, ser crente sem ser discípulo, receber Jesus como Salvador, mas não tê-lo como Senhor?
Este trabalho tem como objetivo tratar destas questões, indo um pouco além de MacArthur e Millard, na confrontação dos argumentos de Hodges, pois apresento alguns novos textos que ainda não haviam sido discutidos, bem como o tema do batismo e seu significado, que não poderia ser ignorado.
1. FÉ EM JESUS, INDEPENDENTE DE ARREPENDIMENTO, SALVA?
1.1. OS ARGUMENTOS DE HODGES
Hodges, um dos principais defensores da "Graça Livre", afirma que o caminho da salvação é muito simples, conforme as palavras de Jesus em Jo 6.47: "Em verdade, em verdade vos digo: Quem crê, tem a vida eterna." Tão simples que qualquer criança pode entender. E, que, através de versos tão simples como estes, milhões de pessoas tem encontrado a Cristo, através dos séculos. Hodges afirma que os defensores da necessidade de submissão ao senhorio de Cristo para a salvação tem transformado as palavras simples de Jesus num complexo e intrincado plano de salvação, onde as palavras de Jesus, em Jo 7.47, seriam entendidas da seguinte forma: "Em verdade, em verdade vos digo, quem se arrepender, crer, e se submeter totalmente a minha vontade, tem a vida eterna." E que todas estas adições estariam implícitas no termo "crer". Em sua opinião, isto seria um absurdo que estaria contrariando o contexto de todo o Evangelho de João, que tendo como propósito principal evangelizar (Jo 20.30,31), não menciona uma vez sequer a necessidade de arrependimento e submissão ao senhorio de Cristo visando a obtenção da salvação, mas unicamente fé.(1)
Hodges evoca os reformadores Lutero e Calvino e lembra o grande lema da reforma: "sola fide" - "fé somente" e não arependimento e fé como a única condição para a justificação e vida eterna. E é enfático ao afirmar: "fazer do arrependimento uma condição para a salvação eterna é nada menos que regressar ao dogma católico-romano".(2) Cita também, como base bíblica, Rm 4.3 e At. 16.31.
Para ele o arrependimento não tem a ver com salvação, mas sim com comunhão e um relacionamento harmonioso com a vontade de Deus. Citando a parábola do "Filho Pródigo", Hodges destaca que a restauração do filho perdido foi muito mais fácil do que ele imaginava, e que a estória não é uma simples estória sobre salvação, mas sobre como se deu o reencontro e a restauração da comunhão entre um pai e seu filho rebelde, culminando num banquete festivo. E usa o mesmo argumento para entender o texto de Lc 5.31,32, afirmando que o texto diz respeito a um convite a pecadores para se "sentarem a mesa", tendo comunhão com Deus, e que não se trata, necessariamente, de salvação. Neste sentido, arrependimento é também exigido dos cristãos (Ap 3.19-20).
Hodges conclui sua argumentação dizendo que Deus pode usar o arrependimento como um estímulo à fé, como também pode usar a gratidão, o medo, a insatisfação e uma série de outros incentivos. Mas quando se trata de um convite à salvação, suas palavras são claras: "... Aquele que tem sede, venha, e quem quiser receba de graça a água da vida" (Ap 22.17b). "Deus tem apenas um meio de dar esta água." Afirma Hodges, "Ele a dá livremente. Mas Deus tem muitos meios de fazer as pessoas desejarem a água que Ele dá."(3)
1.2. REFUTANDO OS ARGUMENTOS DE HODGES
Ao meu ver, Hodges falha ao reduzir a salvação ao aspecto da justificação. Faz questão de não usar o termo regeneração, quando diz: "Fé somente (não arrependimento e fé) é a única condição para obter-se a justificação e a vida eterna." (4) O mesmo ocorre em outros trechos como, por exemplo: "Harmonia - companheirismo - entre uma humanidade pecadora e um deus misericordioso sempre deve ser baseada em arrependimento, assim como a justificação deve sempre basear-se unicamente na fé."(5) Mas não podemos entender a salvação como se ela implicasse apenas em justificação. Para responder a Hodges, seria necessário fazer uma breve explanação da doutrina da salvação, onde trataríamos também do sacramento do batismo. Salvação significa sermos redimidos do poder das trevas e do pecado, justificados da culpa do pecado, regenerados para um novo viver, pois que adotados como filhos de Deus, devemos ser seus imitadores.
1.2.1. REDENÇÃO
O pecado separou o homem de Deus e o escravizou. Como afirma Stott: "O pecado não é meramente um ato ou hábito exterior; é uma corrupção profundamente arraigada no íntimo".(6) Muitas vezes no Novo Testamento os homens são descritos como escravos (Jo 8.31-34; Rm 6.17, Tt 3.3).
Sempre que os homens por sua própria culpa ou através de algum poder superior ficam submetidos ao controle de outra pessoa, e perdem sua liberdade para implementar a sua vontade e as suas decisões, e quando seus próprios recursos são inadequados para enfrentar aquele outro poder, podem obter de novo a sua liberdade somente mediante a intervenção de um terceiro. No NT, conforme o aspecto encarado, o grupo de palavras gr. associado com lyo, sozo, rhyomai, é empregado para expressar semelhante intervenção. lyo, "soltar" (42 vezes no NT), é usado para expressar a libertação das cadeias ou mediante o pagamento de um resgate (lytron), mas tem outras matizes de sentido que também se discutem aqui. sozo (106 vezes no NT) é o termo mais comum e tem a gama mais larga de sentidos. De modo predominante significa "salvar", "preservar" e "libertar". Aquele que menos vezes se emprega é Irhyomai (16 vezes), tem a gama mais estreita de significados, i.é, "salvar", "libertar", e assim, "livrar de um perigo ameaçador ou agudo"... No NT, esses termos se empregam de modo preeminente para a obra redentora de Cristo. (7)Stott define salvação como libertação do pecado.(8) E em outra parte ele diz:
"O que necessita o homem é de uma transformação radical da natureza, o que o Professor H. M. Gwatkin denominou 'uma transformação do ego para o não-ego'. O homem não pode operar tal coisa dentro de si mesmo. Novamente dizemos, ele precisa de um salvador... Ele morreu por nossos pecados a fim de terminar com nossa alienação e levar-nos de volta a Deus. Ele ressurgiu e enviou o Espírito Santo a fim de que os homens possam nascer de novo, recebendo uma nova natureza e sendo libertos da escravidão de seus pecados."(9)
Embora a redenção também tenha uma dimensão futura, pois a sua plenitude só virá quando da Segunda Vinda de Cristo: "...mas também nós que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo" (Rm 8.23), não podemos nos esquecer dos seus poderosos efeitos no presente, que são registrados no início deste mesmo capítulo: "Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus. Porque a lei do Espírito da vida em Cristo Jesus te livrou da lei do pecado e da morte" (8.1-2). E as implicações desta redenção são santidade e inclinação para as coisas do Espírito Santo (v.4-8). Não fomos redimidos para vivermos "segundo a carne": "Porque, se viverdes segundo a carne, caminhais para a morte; mas, se pelo Espírito mortificardes os feitos do corpo, certamente vivereis."
Paulo afirma que a nossa justificação é mediante a redenção que há em Cristo Jesus (Rm 3.24). Não há como separar estes aspectos da Salvação. Paulo é enfático ao declarar que nossa redenção é libertação do pecado: "Mas graças a Deus porque, outrora escravos do pecado, contudo viestes a obedecer de coração à forma de doutrina a que fostes entregues; e, uma vez libertados do pecado, fostes feitos servos da justiça". O apóstolo nos exorta a vida de santidade, no tempo presente, como resultado de nossa redenção, visando a vida eterna: "Agora, porém, libertados do pecado, transformados em servos de Deus, tendes o vosso fruto para a santificação, e por fim a vida eterna" (6.22). "Como viveremos no pecado, nós os que para ele morremos?" (6.1). Para Paulo, quem "morreu" para o pecado é que está justificado dele (6.7). "Porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e, sim, da graça" (6.14).
Concluo este ponto afirmando que Hodges falha em não atentar para esta "tão grande salvação" e suas implicações éticas. Falha em não perceber a interrelação e interdependência dos diversos aspectos da nossa salvação, nesse caso, em particular, da justificação e redenção. Começamos a perceber a necessidade de abandono do pecado, ou seja, necessidade de arrependimento. Isto não significa salvação pelas obras. Pois é a bondade de Deus que nos conduz ao arrependimento (2 Pe 3:9) e é "Ele quem opera em nós tanto o querer como o efetuar, segundo a Sua boa vontade" (Fl 2.14). Arrependimento e fé são a resposta do homem em relação ao dom gratuito da salvação de Deus. Se o fato do homem necessitar se arrepender, for considerado uma "obra", então a necessidade do homem de exercer fé, teria que ser considerada, igualmente, como tal.
1.2.2. JUSTIFICAÇÃO
Podemos definir a justificação como o ato sermos perdoados e recebidos pelo favor de Deus. "Ao que não trabalha, mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada para justiça" (Rm 4.5). John Wesley define a justificação da seguinte forma:
"A clara noção bíblica de justificação é o perdão de pecados. É o ato de deus Pai, pelo qual, em atenção à propiciação feita pelo sangue de seu Filho, 'mostra sua justiça (ou misericórdia), pela remissão dos pecados passados..." "Bem-aventurados aqueles cujas iniquidades são perdoadas e cujos pecados são cobertos: bem-aventurado é o homem a quem o Senhor não imputará pecado". Ao que é justificado ou perdoado, "Deus não imputará pecado" que acarrete sua condenação. Deus não o condenará por aquela razão, nem neste mundo, nem no mundo vindouro. Seus pecados, todos os seus pecados anteriores, - por pensamentos, palavras e obras, - são cobertos, são cancelados, não serão lembrados nem arguidos contra ele..." (10)
Não somos justificados através das obras da lei (Rm 3.20). A Justificação é por meio da fé (Rm 3.25; 5.1; Ef. 2.8-9). Isto não coloca de fora a necessidade de arrependimento e obediência, pois existe uma íntima relação entre os termos os verbos peitho (obedecer) e pistheo (crer). Além da estreita relação etimológica, são usados por Paulo, de tal maneira, que fica evidente que obediência é a consequência natural da fé: "... para a obediência por fé..." (Rm 1.5; 16.26). Muitas vezes obediência é usada como sinônimo de fé (Rm 6.17; Jo 3.36; At 6.7; Hb 5.9; 11.8). Paulo não concebe que alguém possa ter fé sem obediência: "No tocante a Deus professam conhecê-lo, entretanto o negam por suas obras, por isso que são abomináveis, desobedientes e reprovados para toda boa obra." (Tt 1.16).(11)
Paulo deixa claro em outra passagem a necessidade de arrependimento para a salvação: "Portanto a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens, educando-nos para que, renegadas a impiedade e as paixões mundanas, vivamos no presente século, sensata, justa e piedosamente" (Tt 2:11-12). O que tem valor para Cristo é "a fé que atua pelo amor" (Gl 5.6) e não uma fé estéril. Repare que Paulo está falando a respeito da "justiça que provém fé" (Gl 5.5). A fé que justifica é a fé que opera pelo amor.
Hodges defende que arrependimento é importante para a comunhão do homem com Deus, mas que não é necessário para a justificação. No capítulo 5 da Epístola de Paulo aos Romanos, Paulo relaciona intimamente os termos justificados e reconciliados (v.9,10). Não vejo como possa haver reconciliação sem arrependimento!
Hodges diz ser possível alguém ser justificado sem demonstrar nenhuma evidência de sua experiência com Deus, ou seja sem frutificar. Isto não parece concordar com o ensino paulino de que "... o amor de Deus é derramado em nossos corações pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado" (Rm 5.8). Paulo está tão certo disto que exorta aos Coríntios que façam um auto-exame para verificarem se realmente estão na fé (2 Co 13.5). Jesus disse: "Pelos seus frutos os conhecereis. Colhem-se, porventura, uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos?" (Mt 7.16). Fico pensando... "qual seria a resposta de Hodges à esta pergunta?" Em Jo 15, Jesus ensina que quem não der fruto será cortado da Videira, lançado fora e queimado.
Alguns estão pregando Cristo sem a cruz, o evangelho sem nenhum conseqüente requerimento, o perdão sem ao menos mencionar o arrependimento. Wesley alertou para o perigo do antinomianismo que induz as pessoas à um relaxamento moral.(12) Para ele, "fé penitente" continua sendo a única condição para que uma pessoa seja justificada, lembrando as palavras do Apóstolo Tiago: "Fé, se não tiver obras, por si só está morta" (Tg 2.17). Para Wesley, não há nenhum conflito entre Paulo e Tiago, pois enquanto Paulo fala daquela justificação que se deu com Abraão, quando ele tinha setenta e cinco anos, mais de vinte anos antes do nascimento de Isac (Rm 4.3), já Tiago se refere a justificação de Abraão no incidente da oferta de Isac (Tg 2.21). Enquanto Paulo trata da questão das obras que precedem a fé, Tiago discute a questão das obras em consequência da fé. Para Wesley nenhuma boa obra pode salvar independente da fé, mas toda genuína fé frutificará em boas obras (Ef. 2.8-10).(13)
1.2.3. REGENERAÇÃO
A regeneração, ou novo nascimento, é aquele aspecto da salvação onde o ser humano, através da poderosa ação do Espírito Santo de Deus, experimenta um renascimento interior. Jesus disse: "... se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus... Quem não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus" (Jo 3.3,5). A Enciclopédia Histórico Teológica da Igreja Cristã traz a seguinte definição:
A Bíblia concebe a salvação como a renovação redentora do homem, com base em um relacionamento restaurado com Deus em Cristo, e apresenta-a como algo que envolve "uma transformação radical e completa operada na alma (Rm 12.2; Ef 4.23) por Deus, o Espírito Santo (Tt 3.5; Ef 4.24), em virtude da qual nos tornamos 'novos homens' (Ef 4.24; Cl 3.10), já não conformamos com este mundo (Rm 12.2; Ef 4.22; Cl 3.9), mas no conhecimento e na santidade da verdade, criados segundo a imagem de Deus (Ef 4.24; Cl 3.10; Rm 12.2)" (B.B. Warfield: Biblical and Theological Studies - "Estudos Bíblicos e Teológicos", p. 351). A regeneração é o "nascimento" mediante o qual essa obra da nova criação é iniciada, assim como a santificação é o "crescimento" por meio do qual ela continua ( 1Pe 2.2; 2 Pe 3.18).(14)
Com a conhecidíssima passagem de 2 Co 5.17: "E assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura: as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas", Paulo demonstra as implicações do "estar em Cristo", ou seja, os desdobramentos da "reconciliação" (2 Co 5.17-21). Em outras palavras, todo aquele que foi justificado, foi também reconciliado, quem foi reconciliado "está em Cristo, é nova criatura", ou seja, foi também regenerado. Portanto, "nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus" (Rm 8.1), pois foram justificados; "Porque a lei do Espírito da vida em Cristo Jesus te livrou da lei do pecado e da morte", foram redimidos; "e uma vez libertos do pecado, foram feitos servos da justiça" (Rm 6.18), "Portanto os que estão na carne não podem agradar a Deus. Vós porém não estais na carne, mas no Espírito, se de fato o Espírito de Deus habita em vós. E se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele." "Estar no Espírito" é o mesmo que "estar em Cristo". E aquele que "está em Cristo" é nascido do Espírito Santo de Deus, é uma nova criatura. Porque são novas criaturas "não andam segundo a carne" (Rm 8.4, 12), "as coisas velhas já passaram" (2 Co 5.17), "mas segundo o Espírito" (Rm 8.4, 5, 9, 13), "eis que tudo se fez novo" (2 Co 5.17). Todos estes aspéctos de nossa redenção estão interligados e são interdependentes. Um outro aspécto da salvação, que também está presente no capítulo oito de Romanos15 é o da "adoção": "Porque não recebestes o espírito de escravidão para viverdes outra vez atemorizados, mas recebestes o Espírito de adoção, baseados no qual clamamos: Aba, Pai. O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus."
Todos estes cinco aspectos da nossa "Tão Grande Salvação", Reconciliação, Redenção, Justificação, Regeneração e Adoção, são inseparáveis, ninguém pode ter um sem os outros, e se dão todos no instante da conversão, pela graça de Deus. Portanto "se viverdes segundo a carne, caminhais para a morte, mas se pelo Espírito mortificardes os feitos do corpo, certamente vivereis" (8.13). Quem foi justificado também foi redimido e regenerado para andar em novidade de vida, foi reconciliado como Deus e precisa saber que "o pendor da carne é inimizade contra Deus" (8.7) e que "o pendor da carne dá para a morte", por fim, precisa saber que fomos "predestinados para sermos conformes à imagem de Seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos" (8.29). Por esta razão é possível o cristão fazer uma auto-análise para verificar se está na fé (2 Co 13.5), pois existem claras evidências, como por exemplo: "Nós sabemos que já passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos; aquele que não ama permanece na morte." (1 Jo 3.14). Paulo ensinou que quando somos justificados (Rm 5.1), o amor de Deus é derramado no nosso coração pelo Espírito Santo que nos é outorgado no momento da justificação (5.8), e é por isto que João pode afirmar categoricamente: "Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor." O amor é o que nós poderíamos chamar de fruto digno do arrependimento (Mt 3.8). "Não há árvore boa que dê mau fruto" (Lc 6.43). O apóstolo Paulo adverte com veemência: "... Não vos enganeis: nem impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas, nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem roubadores herdarão o reino de Deus. Tais fostes alguns de vós; mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados, em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito de nosso Deus" (1 Co 6.9; cf. Ef. 5.5; Ap 22.15). É preciso estar arrependido do pecado e renegar a impiedade e as paixões mundanas (Tt 2.12), pois o nosso Salvador deu-se a Si mesmo por nós para "remir-nos de toda iniqüidade e purificar para si mesmo um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras" (Tt 2.14; cf. Ef 1.4; 5.25-27). John Stott fala sobre a necessidade de Arrependimento:
É necessário, portanto, que verdadeiramente nos arrependamos, voltando as nossas costas com toda a resolução para toda e qualquer coisa que sabermos ser desagradável a ele. Não quero dizer com isso que devemos procurar melhorar em todos os sentidos antes que O convidemos a entrar. Pelo contrário, é justamente porque não podemos nos perdoar a nós mesmos ou melhorarmos nossa própria vida, que precisamos que Ele venha a nós. Entretanto, é necessário que estejamos desejosos que ele faça todo e qualquer arranjo que desejar quando Ele houver entrado. Não pode haver resistência alguma. É mister que nos entreguemos de modo absoluto e incondicional à soberania de Jesus Cristo. Não podemos estabelecer os nossos próprios termos. Que é que isso envolverá? Não posso dizer-lhe em detalhe o que seria. Em princípio, significa uma determinação para renunciar ao pecado e seguir a Cristo.(16)
Aproveitei neste bloco para falar sobre os demais aspectos da salvação, não achando necessário tratar de cada tópico isoladamente. Passo agora ao estudo do significado e propósito do batismo.
1.2.4. BATISMO
O batismo não era uma novidade nos tempos do Novo Testamento. Vários povos tinham suas purificações religiosas. Berkhof diz que estes rituais pagãos tinham muito pouco em comum com o nosso batismo cristão, mesmo em sua forma externa.(17) Entre os judeus, o chamado batismo dos prosélitos tinha maior semelhança com o batismo cristão. Os gentios para serem aceitos na religião judaica precisavam ser circuncidados e, na época de Jesus, necessitavam também serem batizados. Berkhof comenta:
"Contudo, parece que esse batismo também era uma espécie de lavamento cerimonial, um tanto semelhante a outras purificações. Às vezes se diz que o batismo de João foi derivado deste batismo de prosélitos, mas é mais que evidente que não foi este o caso. Seja qual for a relação histórica que possa ter existido entre os dois, é evidente que o batismo de João estava prenhe de significações novas e mais espirituais... acima de tudo, a diferença esta nisso -- que o batismo de João nunca poderia ser considerado uma simples cerimônia; todo ele fremia sempre de significação ética. Uma purificação do coração, do pecado, era não somente uma condição preliminar, mas seu constante objetivo e propósito." (18)
Qual seria a relação entre o batismo de João e o de Jesus? O Próprio João chamou à atenção para algumas diferenças: "Eu vos batizo com água para arrependimento; mas aquele que vem depois de mim é mais poderoso do que eu, cujas sandálias não sou digno de levar. Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo" (Mt 3.11). Isto nos faz lembrar de uma das frases que Jesus disse a Nicodemus: "... Quem não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no Reino de Deus" (Jo 3.5). O elemento distintivo do batismo cristão é a "Promessa do Pai" (At 2.39), é o dom do Espírito Santo que regenera o homem (Tt 3.5), capacitando-o a viver a vida cristã e a ser testemunha de Cristo (At 1.8). A vida cristã é uma vida gerada pelo Espírito para ser vivida no poder deste mesmo Espírito: "Se vivemos pelo Espírito, andemos também no Espírito". É pelo Espírito Santo que somos habilitados a reconhecer e confessar que Jesus é Senhor (1 Co 12.1), e é também nele que os cristão são batizados no corpo de Cristo (1 Co 12.13). "Se alguém não tem o Espírito de Cristo, este tal não é dEle" (Rm 8.9). É o Espírito Santo que testifica como o nosso espírito que somos filhos de Deus (Rm 8.16; Gl 4.5-6). Para o Apóstolo Paulo, as expressões "estar em Cristo" e "estar no Espírito" são sinônimas (Rm 8.1,9,10), e também não vê nenhum problema em denominar o Espírito Santo de "Espírito de Deus" e de "Espírito de Cristo", isto no mesmo versículo (Rm 8.9). Sua concepção da trindade é bem desenvolvida. Não se pode separar Cristo do Espírito Santo. Quem recebe a Jesus, recebe o Espírito Santo, bem como o Pai. O batismo cristão é feito "em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo" (Mt 28.19). A Bíblia ensina que os cristão são templos do Espírito Santo (6.19). Jesus disse que os cristãos não ficariam órfãos (Jo 14.18), Ele disse que estaria sempre conosco até a consumação dos séculos (Mt 28.20). Jesus afirmou que o Pai e Ele viriam e fariam morada nos cristãos (Jo 14.23). Jesus cumpre a Sua promessa enviando o Consolador: "E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre conosco" (Jo 14.16).
O batismo de Cristo é um batismo com o Espírito Santo e com fogo, o que o distinguia do batismo de João. Mas havia muitas similaridades como observa Berkhof:
O batismo de João, como o batismo cristão (a) foi instituído pelo próprio Deus, Mt 21.25; Jo 1.33; (b) estava relacionado com uma radical mudança de vida, Lc 1.1-17; Jo 1.20-30; (c) estava numa relação sacramental com o perdão dos pecados, Mt 3.7, 8; Mc 1.4; Lc 3.3 (comp. At. At 2.28) e (d) empregava o mesmo elemento material, qual seja, água. (19)
Qual seria o significado básico do Batismo? Bromiley diz que um indício do significado do batismo é oferecido por três figuras no AT:
O dilúvio (1 Pe 3.19-20), o Mar Vermelho (1Co 10.1-2) e a circuncisão (Cl 2.11-12). Todas estas figuras referem-se de modos diferentes à aliança divina, ao seu cumprimento provisório num ato divino de julgamento e de graça, e ao cumprimento vindouro e definitivo no batismo da cruz. A ligação entre água e a morte e a redenção é especialmente apropriada no caso das duas primeiras figuras; o aspécto de aliança é mais especificamente enfatizado na terceira. 20
Paulo diz que o batismo significa identificação com a morte e ressurreição de Cristo. Parece evocar a forma por imersão do batismo quando diz: "Fomos, pois, sepultados com Ele na morte pelo batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida" (Rm 6.4). Imersão - morte; emersão - ressurreição. Paulo não deixa dúvidas a respeito das implicações éticas deste significado: "Sabendo isto, que foi crucificado com ele o nosso velho homem, para que o corpo do pecado seja destruído, e não sirvamos o pecado como escravos; porquanto quem morreu, justificado está do pecado... considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus. Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, de maneira que obedeçais às suas paixões" (Rm 6.6,7,11,12).
Desta forma, não é de se estranhar que um dos pré-requesitos ao batismo seja o arrependimento: "... Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vosso pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo". O Batismo de João envolvia arrependimento e a diferença dele em relação ao de Cristo residia no dom do Espírito Santo. Pregar que para ingressar na vida cristã basta ter fé, não importando o arrependimento é corromper o ensino das Escrituras e deturpar o próprio significado do ritual de iniciação cristã. Não podemos esquecer que Jesus iniciou seu ministério conclamando as pessoas ao arrependimento (Mt 4.17). O próprio termo conversão implica em arrependimento (Mt 13.15; 18.3; Lc 1.16). Pedro relaciona arrependimento com conversão e os coloca como condição para a justificação:
"Arrependei-vos, pois, e convertei-vos para serem cancelados os vossos pecados".
Algumas passagens não mencionam o arrependimento, mas somente a fé como condição para salvação, outras mencionam apenas a necessidade do arrependimento. Hodges considera como normativas apenas as passagens onde a fé aparece como única condição desprezando as passagens que envolvem o arrependimento. Mas na verdade a Bíblia está ensinando que ambos são necessários para a obtenção da salvação. Quando um dos termos da salvação está omitido explicitamente, está embutido implicitamente.
2. PODE ALGUÉM SER CRISTÃO SEM SER DISCÍPULO?
Hodges afirma haver uma nítida distinção entre ser salvo e ser discípulo, concluindo que para ser salvo não é necessário ser discípulo. Carson percebe e comenta sobre o engano de Hodges:
"Mais difícil de ser isolada - e por esta razão mais perigosa - é a disjunção pressuposta e não expressa. Considere por exemplo a seguinte passagem de Zane C. Hodges:
É um erro interpretativo de primeira grandeza confundir os termos do discipulado com a oferta de vida eterna como um dom gratuito." ...e quem quiser receba de graça a água da vida"(Ap 22.17) é claramente um benefício incondicional. A passagem: "Se alguém vem a mim, e não... não pode ser meu discípulo" sem dúvida expressa uma relação totalmente condicional. Deixar de reconhecer esta simples distinção é provocar confusão e erros no nível mais fundamental.
De fato, não só neste parágrafo, mas também ao longo de todo o livro, Hodges pressupõe que há uma disjunção entre graça e exigência. ele nunca debate a possibilidade (a meu ver, a certeza absoluta) de que, em questões espirituais, graça e exigência não apresentam necessariamente incompatibilidade mútua: tudo depende de sua relações, propósitos, funções. O resultado dessa disjunção implícita no argumento de Hodges não é só o que em minha opinião é uma tese falsa - que a Bíblia ensina que uma pessoa pode ser eternamente salva mesmo sem qualquer vestígio de evidência disso em sua vida - mas também uma série de avaliações exegéticas e históricas extremamente problemáticas.(21)
Na Grande Comissão, registrada em Mt 28.18-20, Jesus nos dá a missão de fazermos discípulos de todas as nações. A pregação do Evangelho é um convite para ser discípulo de Jesus. O jovem rico queria saber o que precisava fazer para herdar a vida eterna (Mc 10.17), Jesus respondeu: "Só uma coisa te falta: Vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; então vem e segue-me" (Mc 10.21). Repare que a questão não é o que preciso fazer para ser discípulo, mas o que o rapaz precisaria fazer para herdar a vida eterna. Mesmo sendo esta a questão, a resposta de Jesus é uma apresentação do preço do discipulado, exige renúncia e também é um chamado para seguir. Jesus não parece fazer diferença alguma entre salvação e discipulado. Se as exigências do discipulado não se aplicassem a salvação, por que é que Jesus diria ser tão difícil para os ricos a entrada no Reino dos Céus? (Mc 10.23). Se fosse apenas uma questão de crer, que não implicasse arrependimento e renúncia, aquele jovem não teria se retirado triste. O Novo Testamento não parece fazer distinção entre crentes e discípulos (At 5.14 comp. 6.1, 7; ver também: 9.1, 10, 25-26, 38: 11.26, 19; 13.52; 14.20,22, 28; 15.10; 16.1, 18.23. "Nestas passagens, mathetes tem o sentido geral de 'cristão', alguém que crê em Jesus"22).
Em Mt 7.13-14, Jesus estabelece um nítido contraste entre a dificuldade do caminho da salvação e a facilidade do caminho da perdição. E, alguns versículos mais a frente, Ele adverte: "Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus" (v.21). Aos praticadores da iniqüidade Jesus dirá: "Apartai-vos de mim". Jesus compara aquele que ouve suas palavras mas não as pratica com um homem que construiu sua casa sobre a areia, tendo o seguinte resultado: "e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, e ela desabou, sendo grande a sua ruína" (v.27). Mais no início do Sermão do Monte, Jesus faz outra advertência: "Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus" (5.20). Não podemos ignorar tais palavras que dizem respeito a nossa entrada no reino dos céus. Fé que não produz obras é infrutífera. D. Muller diz que para se entender o discipulado de Jesus é importante reconhecer que a chamada para ser discípulo sempre inclui a chamada ao serviço. 23
3. SUBMISSÃO AO SENHORIO DE CRISTO É INDISPENSÁVEL PARA A SALVAÇÃO?
Paulo é bem claro em afirmar a necessidade de confessar a Jesus como Senhor para ser salvo: "Se com a tua boca confessares a Jesus como Senhor, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo." Confessar a Jesus como Senhor não é apenas mencionar um título, mas é, acima de tudo, o reconhecimento e a conseqüente submissão ao Seu senhorio.
Jesus disse: "Todo aquele que me confessar diante dos homens, também o Filho do homem o confessará diante dos anjos de Deus; mas o que me negar diante dos homens, será negado diante dos anjos de Deus". D. Muller comenta:
Estas palavras expressam toda promessa, e também os grandes perigos, do discipulado genuíno. É crucial a fidelidade do discípulo ao seu Senhor. (24)
Emílio Castro, falando sobre o tema "conversão", menciona uma afirmação do documento "Missão e Evangelização: Uma Afirmação Ecumênica":
A proclamação de (sic) Evangelho inclui um convite para que se reconheça e aceite, por meio de uma decisão pessoal, o senhorio de Cristo.25Castro, no final do seu artigo, diz algo simples, mas repleto de verdade: "A conversão sempre envolve a pergunta do apóstolo Paulo: 'Senhor, que devo fazer?"26 E ainda cita outra importante e elucidativa afirmação do documento já mencionado:
A conversão como um processo dinâmico e contínuo "implica um dar meia-volta de e um dar meia volta para. Sempre requer reconciliação, uma nova relação, tanto com Deus como com os demais. Implica um abandono de nossa antiga segurança (Mt 16.24) e um arriscar-se em uma vida de fé." É "conversão" de uma vida caracterizada pelo pecado, pela separação de Deus, pela submissão ao pecado e pelo potencial não realizado da imagem de Deus, para uma nova vida caracterizada pelo perdão dos pecados, pela obediência aos mandamentos de Deus, pela renovada comunhão com Deus na Trindade, o crescimento na restauração da imagem divina e a realização do amor de Cristo...(27)
Não podemos aceitar Jesus como Salvador e olvidá-lo como Senhor. Stott argumenta:
O valor da fé se acha integralmente representado em seu objeto (Jesus Cristo), não nela mesma. Contudo, a fé é um compromisso total de arrependimento e submissão a Cristo. Teria parecido inconcebível aos apóstolos alguém crer em Jesus como Salvador sem submeter-se a ele como Senhor. Não podemos partir Jesus Cristo em pedaços e depois responder somente a um dos pedaços. (28)
MacArthur é enfático quando afirma: "Ele é Senhor, e aqueles que o recusam como Senhor não podem usá-lo como Salvador"(29)
Paulo escrevendo ao cristãos romanos declarou: "nenhum de nós vive para si mesmo, nem morre para si. Porque se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. Quer pois, vivamos ou morramos, somos do Senhor. Foi precisamente para esse fim que Cristo morreu e ressurgiu; para ser Senhor, tanto de mortos como de vivos" (14.7-9). Repare que Paulo inicia dizendo "nenhum de nós", indicando sua concepção de que todos os cristãos devem estar submissos ao senhorio de Cristo.
CONCLUSÃO.
Jesus veio para que nós tivéssemos "vida abundante" (Jo 10.10) e não apenas absolvição dos pecados. A salvação que Ele nos proporciona é muito rica em todos os seus aspectos, incluindo justificação, reconciliação, remissão, redenção e adoção, não podemos reduzi-la a um único aspecto. Compreendendo melhor a natureza de nossa salvação, fica mais fácil perceber suas implicações éticas, pois que envolve perdão, libertação do domínio do pecado, recebimento do dom do Espírito Santo que opera uma transformação radical no coração do homem, denominada de novo nascimento, visando conceder a capacidade para experimentar e viver a vida cristã abundante; e somos também feitos filhos de Deus. E a resposta necessária ao Evangelho é a conversão, que implica em arrependimento e fé, que são tanto um dever do homem (At 2.38; 17.30) como também um dom divino (At 11.18; Ef 2.8).
O batismo é a expressão exterior de nossa regeneração interior. Não basta ser nascido da água, é necessário nascer do Espírito de Deus. O batismo fala de nossa identificação com a morte e ressurreição de Cristo, onde morremos para o pecado e ressurgimos para uma nova vida.
O Evangelho é um chamado ao discipulado. Ser e fazer discípulos não é uma opção para o cristão. A porta e o caminho da salvação são estreitos e poucos são os que seguem por eles. Jesus nunca ocultou o preço do discipulado. Para ganhar a vida eterna é preciso renúncia.
Para ser salvo é necessário estar debaixo do senhorio de Cristo, pois não é possível ser insubmisso à Cristo e salvo ao mesmo tempo. A fé genuína redunda em obediência. Se o chamamos de Senhor precisamos fazer o que Ele nos ordena.
______
1 Hodges, Zane C. Absolutely Free. Dallas, Texas, Redención Viva. 1989, pp. 25-27.
2 Ibid., (trad.: José Ildo Swartele de Mello), p. 145.
3 ibid., (trad.: José Ildo Swartele de Mello), p. 158.
4 ibid., p. 144.
5 ibid., p. 151.
6 Stott, J. R. W. Cristianismo Básico - O que Significa Ser um Verdadeiro Cristão. São Paulo - Vida Nova. 1991, p.86.
7 Brown, Colin & Coenen, Lothar. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. Trad.": Gordon Chown. São Paulo, Vida Nova. 1983. Volume IV, p. 80.
8 Stott, J. R. W. Cristianismo Básico - O que Significa Ser um Verdadeiro Cristão. São Paulo - Vida Nova. 1991, p. 94.
9 Ibid., p. 93.
10 Harrison, Wiliam P. (Notas Introdutórias, Esboços e Perguntas). Sermões - John Wesley". Trad.: Nicodemuos Nunes. S.Bernardo do Campo/SP. Imprensa Metodista. 1985, p. 113.
11 Erickson, Millard J. Evangelical Mind and Heart (extraído dos argumentos de McArthur) Grand Radpids: Baker Book House, 1993, p. 116.
12 Oden, Thomas C. John Wesley's Scriptural Christianity - A Plain Exposition of His Teaching on Christian Doctrine. Michigan. Zondervan Publishing House. 1994, p. 10
13 Ibid., p. 206.
14 Elwell, Walter A. (Editor). Enciclopédia Histórico Teológica da Igreja Cristã. Trad.: Gordon Chown. São Paulo, Vida Nova, 1990, Vol. III, p. 256.
15 Fiquei admirado ao descobrir que, em um único capítulo, Paulo aglutinou todos os aspéctos da salvação: Justificação (8.1, 30, 33 e 34); Reconciliação (8.1, 7-11, 31, 35-39); Redenção (8.2, 21-23); Regeneração (8.3-13) e Adoção (8.14-17). O Capítulo ainda fala sobre a Santificação (8.13, 29), Glorificação (8.17, 19-25, 30) e Propiciação (8.32,34). Não conheço nenhum capítulo tão rico em matéria de conteúdo teológico quanto este!
16 Stott, J. R. W. Cristianismo Básico - O que Significa Ser um Verdadeiro Cristão. São Paulo - Vida Nova. 1991, p. 151.
17 Berkhof, Louis. Teologia Sistemática. Trad.: Odayr Olivetti. Campinas: Luz Para o Caminho Publicações, 1990, p. 627.
18 Ibid., p. 628.
19 Ibid., pp. 628-629.
20 Elwell, Walter A. (Editor). Enciclopédia Histórico Teológica da Igreja Cristã. Trad.: Gordon Chown. São Paulo, Vida Nova, 1990, Vol. I, p. 149.
21 Carson, D. A. A Exegese e Sua Falácias - Perigos na Interpretação da Bíblia. Trad.: Valéria Fontana. São Paulo: Vida Nova. 1992, pp. 89, 90.
22 Brown, Colin & Coenen, Lothar. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. Trad.": Gordon Chown. São Paulo, Vida Nova. 1983, Vol. I, p. 667
25 Steuernagel, Valdir (Editor). A Serviço do Reino - Um Compêndio sobre a Missão Integral da Igreja. Belo Horizonte: Missão Editor, 1992, p. 273.
26 Ibid., p. 283.
27 Ibid., pp. 282-283.
28 Ibid., pp. 67-68.
29 MacArthur, Gospel According to Jesus, apud Erickson, Millard J. "Evangelical Mind and Heart" (extraído dos argumentos de McArthur) Grand Radpids: Baker Book House, 1993, p.117.
Bispo José Ildo Swartele de Mello
Casado com Ana Cristina, pai de três filhos: Samuel, Daniel e Rafael, é também Professor de Teologia, Escatologia e Evangelização na Faculdade Metodista Livre. Formado em Bacharel pela Faculdade Metodista Livre, cursou Mestrado em Teologia na Faculdade Teológica Batista de São Paulo e fez Doutorado em Ministério na Faculdade Teológica Sul Americana. Pastor desde 1986 (Cidade Ademar 86-88; Vila Guiomar 89; Vila Bonilha 90-97, Aeroporto 98-2004), serve atualmente como Pastor da Imel de Mirandópolis, como Bispo da Igreja Metodista Livre do Brasil e como presidente do Concílio Mundial de Bispos.
Para acompanhar e saber um poco mais sobre o Bispo Ildo Melo, sua trajetória e suas atividades na web acesse:
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