terça-feira, 7 de setembro de 2010

Graça irresistível ou preveniente?

Graça irresistível ou preveniente?

Bispo Ildo Mello*

Li um interessante texto do Dr. Adrian Rogers a respeito do embate histórico entre arminianos e calvinistas. Ele começa afirmando que um cego precisa mais do que de luz para ser capaz de enxergar. E, que, quando jovem, costumava pensar que o seu papel como pregador era apenas o de ensinar o caminho da salvação para as pessoas. Mas logo percebeu que para uma pessoa cega a quantidade de luz é indiferente. Portanto, assim como é preciso mais do que luz para que um cego possa ver, assim também é necessário mais do que a pregação para que as pessoas possam ser salvas, pois somente o Espírito Santo pode convencer o homem do pecado, da justiça e do juízo. Por esta razão a igreja deve orar sem cessar em favor da conversão de almas, sabedora da dependência que temos da unção do Senhor para abrir os olhos dos cegos para a realidade do Evangelho de Cristo.

Ele arremata dizendo que o homem caído é cego espiritualmente e, portanto, carece de visão. Como ouvimos que não há quem busque a Deus, aprendemos das Escrituras que Deus toma a iniciativa de procurar o homem, que é exatamente os Evangelhos mostram Jesus fazendo quando o descreve buscando (Lucas 19:10),chamando (João12:32) e batendo a porta do coração do perdido (Apocalipse 3:20). Sendo assim, é o Espírito Santo quem convence o homem (João 16:8), dando pontadas no coração (At 26:14), compulgindo o coração (Atos 2:37), e promovendo a abertura do coração para que este possa ser capaz de responder positivamente ao Evangelho (Atos 16:14).

Esta é a iluminação da Graça Preveniente, que não deve ser confundida com a regeneração. Porque a Iluminação lida com o velho coração, enquanto a regeneração tem a ver com o novo coração. Em João 1:9 lemos que Jesus é verdadeira luz que, vindo ao mundo, ilumina a todo homem. Paulo afirma que o Evangelho é a Luz através da qual o Espírito Santo abre os olhos dos homens (Romanos 10:17). Um homem é iluminado a fim de receber o Evangelho. Um homem é regenerado depois de ter sido selado em Cristo (Efésios 1:13). A regeneração se dá através do lavar renovador do Espírito Santo (Tito 3:5), momento em que nos tornamos "novas criaturas" em Cristo (2 Coríntios 5:17), nascidas de novo, com um "coração novo" e um "espírito novo" (Ezequiel 36:26). O calvinismo, ao contrário, ignora o claro ensino de Efésios 1:13, para ensinar erroneamente que os homens são previamente escolhidos por Deus para a salvação, de modo que o chamado e a graça sejam irresistíveis para o grupo dos predestinados. Assim, fica manifesta a clara diferença entre a graça preveniente do arminianismo e graça irresistível do calvinismo.

Questões:

O calvinismo ensina que antes de crer e ser salvo é preciso ser previamente escolhido e estar preliminarmente posicionado em Cristo. Seria, então, possível estar em Cristo antes de ser salvo? Bem, para o arminiano, a ordem dos eventos está claramente apresentada em Ef 1:13, que ensina que primeiro é preciso ouvir o Evangelho, que é uma condição para se poder crer, que, por sua vez, é uma condição para receber o selo regenerador do Espírito. A fé vem através de ouvir a Palavra do Evangelho (Rm 10:17). Assim, o arminiano quer saber como o calvinista pode ensinar ser possível alguém estar em Cristo antes mesmo de crer e ser selado pelo Espírito?

Rm 8.1 diz que não há nenhuma condenação para os que estão em Cristo Jesus e sabemos também que os que não crêem estão debaixo da condenação (Jo 3.18). Sendo assim, seria contraditório afirmar que um incrédulo estaria em Cristo antes mesmo de sua conversão.

Se a graça fosse irresistível, como Saulo de Tarso teria sido capaz de recalcitrar contra os aguilhões? (Veja Atos 26:14). E se a graça fosse irresistível, como poderia ser possível a queda e a perdição de que cristãos verdadeiros que tiveram os seus olhos iluminados para verem e experimentarem o dom celestial de modo a terem se tornado participantes do Espírito Santo, e de terem também provado a boa palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro (Hb 6.4-6)?

Santidade e perseverança são necessárias para evitar a remoção do candelabro (Ap 2.5), para garantir o acesso ao fruto da árvore da vida (Ap 2.7), receber a coroa (Ap 2.10), escapar da segunda morte (Ap 2.11) do juízo da espada (Ap 2.16), do risco de ser vomitado (Ap 3.16) e de ter seu nome riscado (Ap 3.5). E o que dizer também de textos como Hb 6.4-8; 10.26-31; 12.14-15; 1 Co 9:27; 2 Pe 1; 3.17-18 e Jo 15.6?

"Portanto, amados, sabendo disso, guardem-se para que não sejam levados pelo erro dos que não têm princípios morais, nem percam a sua firmeza e caiam. Cresçam, porém, na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A ele seja a glória, agora e para sempre! Amém" (2 Pe 3.17 e 18).

No amor do Senhor,
Bispo Ildo Mello


*Bispo José Ildo Swartele de Mello
Casado com Ana Cristina, pai de três filhos: Samuel, Daniel e Rafael, é também Professor de Teologia, Escatologia e Evangelização na Faculdade Metodista Livre. Formado em Bacharel pela Faculdade Metodista Livre, cursou Mestrado em Teologia na Faculdade Teológica Batista de São Paulo e fez Doutorado em Ministério na Faculdade Teológica Sul Americana. Pastor desde 1986 (Cidade Ademar 86-88; Vila Guiomar 89; Vila Bonilha 90-97, Aeroporto 98-2004), serve atualmente como Pastor da Imel de Mirandópolis, como Bispo da Igreja Metodista Livre do Brasil e como presidente do Concílio Mundial de Bispos.

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Fontes:
http://www.metodistalivre.org.br/

http://imeldemirandopolis.blogspot.com/

http://www.escatologiacrista.blogspot.com/

Foto: Rev. José Ildo Swartele de Mello na cerimônia de consagração e instalação a primeiro Bispo Nacional da Igreja Metodista Livre em 2003.


sábado, 4 de setembro de 2010

E Deus com isso?

E Deus com isso?

Josué Oliveira Gomes*

Acho que não há dúvida que “tudo” é permitido por Deus. É fácil conferirmos isso através das notícias sobre a violência urbana, e sobre as mais diversas catástrofes naturais. De fato, não vemos nenhum movimento sobrenatural de Deus impedindo de forma concreta esse ou aquele fato. Sequestros, estupros, terror, morte covarde de crianças, jovens e adultos já nos sobejam nos noticiários.

Outra coisa que podemos afirmar que nem todo mal é mal em si. Sabemos que a tsunami foi um horror (mal) porque no seu trajeto muitos foram vítimas humanas. Uma enchente de um rio que levou centenas de casas e fez muitas vítimas assim ocorreu, não porque a enchente em si é um mal, mas por causa dos vitimados. Da mesma forma os tremores de terra acontecem, não por causa do homem, mas por causa das placas tectônicas. Isso nada tem a ver com o que é bom ou mal, a não ser quando sofremos.

E Deus com isso? Há algumas nuances observáveis nessa argumentação. Deus não deve ser responsável pela catástrofe como mal lançado contra os humanos maus, pois seria injustiça contra os “bons” que sofrerão de graça. Não creio que Deus mate a granel.

A presença do mal como sofrimento pode também ser vista como liberdade humana, logo amor de Deus. Deus “permite” tudo porque nos deixa livres para viver nossas escolhas. Há aqueles que escolhem a facilidade de moradia perto de vulcões pela beleza do lugar, aqueles que foram morar (escolha ou falta dela?) perto do açude ou rio para servir ao patrão entre o curral e a casa grande, aqueles que por um motivo ou outro moram em lugares com frequência de catástrofes, e ainda aqueles que em nome da fé derrubam aviões. E Deus permite? Sim, quem pode afirmar que não? Ele permite e sofre com tudo isso, basta lembrar que ele não agüentou nem ver seu filho sofrendo na cruz (Por que me desamparaste?), – identidade de nossos sofrimentos que, afinal, ele os levou sobre si.

Por outro lado, é claro que não duvido de seu poder, mas duvido que esse poder não seja expresso nas raias do amor. Porque, quem sabe esse todo-poderio não seja apenas mais sofrimento em nome de sua soberana escolha de amar, por isso nos deixar viver nossos dilemas enquanto nos convida a cuidar de nosso planeta?

*Josué Oliveira Gomes.
Pastor na Igreja Betesda em Maceió

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